Gol de mão
Segundo Eduardo Almeida
Reis, que de Juiz de Fora escreve para o Brasil as coisas mais sérias que
precisam ser ditas, nada tão idiota e hipócrita que o protesto de patriotas que
se irritaram com a derrota da seleção frente ao Peru, com um gol de mão dos adversários.
Ora, se estamos num País onde todo mundo mete a mão, qual a queixa?
Vem a propósito,
quando por aqui já não sabemos mais quem não cedeu à propina. Todos metem a mão
e o crime se generaliza. E agora, até o presidente, em quem são depositadas esperanças
na retomada do desenvolvimento e da paz social. Algo preocupante, mesmo quando
se sabe que as denúncias partem de um Sérgio Machado e outros semelhantes, que,
podendo até estar dizendo a verdade, são gente originalmente desacreditada que
cometeu os mesmos crimes pelos quais tenta escapar das malhas da Justiça pela
discutida via da delação premiada.
Apontam o dedo indicador,
sabendo que os outros dedos voltam para si próprios. Os julgadores estejam então
de ouvidos atentos para as ciladas, sem descuidar da apuração cuidadosa dos
fatos apresentados, pois a delação, mesmo sob alguns aspectos útil à Justiça,
carrega sempre alguma suspeição. É fenômeno genético. Os delatores, antes de
tudo, estão à caça de um prêmio para reduzir os castigos a que serão
condenados.
É um detalhe a ser
considerado, sobretudo quanto à imediata divulgação das suspeitas, pois se
lançadas, causam danos irreparáveis aos eventuais inocentados.
Por fim, não custa
repetir: não nos bastará enterrar os corruptos e os agentes da corrupção. O que
temos de sepultar com eles é o sistema político-eleitoral que os favorece. Se a
Justiça ficar apenas nas pegadas desses criminosos da hora em breve eles ou
seus herdeiros estarão de volta.
Memória (III)
São antigas as
dificuldades de diálogo das lideranças da cidade com o governo estadual, salvo
as raras exceções com Antônio Carlos e Magalhães Pinto. Já no começo do século
passado enfrentávamos a má vontade de Cesário Alvim, que colocava a cidade em
plano secundário na distribuição de recursos e, entre outras coisas, procurou
desestimular o projeto da Academia de Comércio. Ouro Preto, capital da
província, odiava a gente de cá. “Pessoal rude de fazendeiros e operários”,
diziam lá.
Os problemas iriam se
acentuar em 1937 quando da visita do governador Benedito Valadares, que apoiava
a candidatura de José Américo à presidência da República. Ao passar em frente
ao prédio da Rua Halfeld, 758, onde funcionava o comitê de José Armando Sales,
foi alvo de estrondosa vaia, seguida de pedras atiradas pelos admiradores do
candidato adversário. Isso o desagradou muito. Fechou-se para Juiz de
Fora.
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