Balanço de 2017
O ano
de 2017 caminha para seu fim. Os políticos com mandato retornam às suas bases e
aos seus familiares. Os que terminam mandato e concorrerão nas eleições gerais
de 2018 vão de encontro com sua realidade. Encontrarão eleitores insatisfeitos,
críticos ou indiferentes. O Brasil está em permanente mudança no ambiente
político. Uma parcela considerável de eleitores está atenta aos fatos
políticos, uma outra (a maioria) continua indiferente, cética em relação ao
futuro do País, pois não acredita nos políticos profissionais.
O
presidente Michel Temer (PMDB) poderá fazer o seu balanço particular, e
concluirá que seu saldo político foi positivo. Temer e seu grupo enfrentaram
batalhas difíceis, a ação da Procuradoria Geral da República foi
incessante, denunciando o presidente e alguns ministros do seu núcleo político
mais próximo. Alguns amigos íntimos foram para a cadeia, e podem ainda trazer
alguns dissabores ao governo caso optem pela colaboração premiada com o
Poder Judiciário. Temer, portanto, tem muito a comemorar neste final de ano,
pois não sucumbiu às forças poderosas (grande imprensa, partidos de oposição e
MPF), e demonstrou ser um político hábil na negociação com os parlamentares,
que ele conhece bem como eles (na maioria) gostam de serem tratados.
O Congresso Nacional termina o ano com um saldo negativo, pois a
maioria dos parlamentares demonstrou que exerce o mandato apenas pensando nos
interesses particulares. Embora isto seja do conhecimento público, parece que a
parte da população mais atenta à cena política aumentou seu mau humor com
os políticos de uma forma geral. Lembremos de alguns fatos que ficaram
conhecidos pelas redes sociais (através de vídeos) onde vemos parlamentares
hostilizados em aeroportos e dentro de aviões de carreira. Cresce a rejeição
aos políticos, o que poderá acarretar o elevado percentual de votos
brancos e nulos e as abstenções em outubro de 2018.
O STF encerra o corrente ano com balanço desfavorável, pois seus
membros se desgastaram muito com atitudes pouco equilibradas para
ministros da mais alta corte do País. O Ministro Gilmar Mendes foi o maior
destaque no que diz respeito às decisões monocráticas, libertando da cadeia
políticos e corruptos contumazes. A presidente, ministra Carmen Lúcia, ficou em
algumas oportunidades em 'saia justa' com as deliberações que o Tribunal teve
que se pronunciar. A própria presidente teve que dar o voto de minerva em caso
constrangedor do recurso do conterrâneo senador Aécio Neves (PSDB-MG) contra
medidas cautelares a ele aplicadas. Ela foi favorável ao entendimento que,
apesar de a Suprema Corte poder determinar medidas cautelares, a palavra final
fica com as respectivas Casas Legislativas. Em seguida, o Senado Federal
liberou o senador das punições.
Finalizando no balanço geral da política brasileira, o saldo é
positivo quando percebemos que há uma parcela crescente de brasileiros atentos
aos fatos políticos, manifestando-se pelas redes sociais (às vezes com
postagens raivosas) demonstrando que o interesse pela política cresceu. Mesmo
reclamando de tanta corrupção na administração pública, o brasileiro se dá
conta de que é preciso mudar os seus representantes, ou manifestar sua
indignação deixando de participar com seu voto. Mas, estará consciente que em
2018 a opção que fizer terá consequências para si e para todos no próximo
quadriênio.
Números sinistros
O ano
fecha as portas com um balanço sinistro na cidade. Dados conferidos indicam que
Juiz der Fora somou 33 casos de suicídio, não contando aqui os que ocorreram
sem registro ou com causa-mortis maquiada. Portanto, um número recorde, tão
indesejável como preocupante: estamos perdendo as forças para enfrentar as
depressões, as angústias profundas, os becos sem saída que a morte arquiteta
nos desvãos da vida.
Em passado mais recente, nos jornais éramos instruídos a não
noticiar os suicídios, para não estimular outros enfermos. Um suicida famoso
podia se tornar exemplo. Vale lembrar que, quando Marilyn Monroe se matou, no
mesmo dia outras 12 pessoas no mundo a acompanharam nesse gesto. É o Efeito
Werter, pois, como explicou Nava, que também decidiu interromper o viver, basta
ir amadurecendo a ideia, que o momento da coragem acaba chegando.
Houve
tempo em que o suicida era rejeitado pela sociedade de que participava,
execrado pela Igreja, que lhe negava direito aos ofícios do de-profundis.
O inferno o esperava, porque só Deus tem direito de decretar o momento da
morte. Para não falar da falta de caridade lembrada por Santo Agostinho: o
suicida não dá direito de defesa à vítima – ele próprio -, exatamente quando
está ausente, fora de si. Hoje a Igreja é outra, pois viu, pela ciência,
que o suicidar-se tem tudo para merecer a misericórdia do céu.
Seja
como for, há muita coisa ainda a desvendar nesse ato extremo. Albert Camus
sugeria que se pesquisasse mais sobre a “atração do nada”, essa força que não
se vê, mas é capaz de assumir o inconsciente dos sãos e dos enfermos, quaisquer
que sejam suas idades, dificuldades ou solidões. Essa atração sim, que pode
chegar a almas deprimidas, e tanto pode corroê-las como abri-las à
criatividade, como se deu nas fases mais atormentadas de Goethe, Tostói e
Lutero.
Bom
seria se os desesperados recorressem ao poeta espanhol Sofocleto, que, com uma
pitada de ironia, escreveu: “Gostaria muito de suicidar-me, mas é muito
perigoso”...
O Natal
Gosto
de lembrar o que o escritor Otto Lara Resende deixou em um recorte de jornal,
que andava pelas mesas da Redação: “Por mais desfigurado que esteja o Natal,
por mais soterrada que vai ficando a Festa sob os milionários escombros do
consumismo, há, todavia, uma pequena luz que resiste a todas as tentativas de
apagar essa estrela do Oriente. Uma pequena luz de misericórdia permanece,
quase sempre disfarçada numa inexplicável tristeza. É como um véu oculto, que
se vê dentro de nós. Estranho sentimento esse, que morde em silêncio o coração
distraído”.