Partido incomoda?
Talvez esteja equivocado o presidente Jair Bolsonaro quando, em retaliação aos agravos que tem recebido, proclama-se suficientemente forte para independer de partidos, a começar pelo PSL, sob cujo manto abrigou-se para disputar o cargo em que hoje se encontra. Primeiro, tomando-se a constatação lógica, as ações do Executivo, quando dependentes do apoio parlamentar, teriam de ser negociadas com blocos ou mesmo na individualidade dos deputados e senadores, árdua tarefa por causa do tempo que isso demandaria, sem tempo para mais nada. O governo não teria como avançar se dependesse da caça aos votos pelo varejo. Depois, não menos real, os agentes, tratados isoladamente, tornam-se mais poderosos e exigentes, prontos para sugar todos os sangues que correm nas veias do poder.
Não houve presidente, desses que posam em paredes e galerias oficiais, que tenha desdenhado dessas corporações, embora muitas vezes tenham estado prestes a fazê-lo, quando se esgotou a paciência e exauriam as fontes de atendimento às preensões impostas. Jânio Quadros impacientou-se logo, diante de um Congresso onde via gente despreparada e ociosa. Mas ele se foi e os partidos sobreviveram, para mostrar que sem eles um presidente não consegue viver.
O jeito, talvez alguém possa dizer a Bolsonaro, é tornar a convivência mais agradável ou menos acidentada, adotando a forma sempre eficaz de diluir o fôlego de um partido incômodo prestigiando, em doses cuidadosas, um concorrente com igual apetite de poder. Vê-se a solução administrada por Vargas, abraçando o trabalhista para respirar nos centros urbanos, e, ao mesmo tempo, alimentando o velho PSD, que ouvia e atendia as massas rurais, àquele tempo muito mais poderosas. Dividir o poder político dos partidos, facilitar as divergências entre os litigantes, enfraquecer postulações; mas sem dispensar partidos, ainda que com sacrifício gástrico na hora de engolir sapos e lagartos. Se a História aprecia repetir experiências, quem sabe o breviário da velha alquimia varguista faria bem a Bolsonaro neste momento ?
Ruim com eles, pior sem eles, pode-se dizer a respeito dos partidos, porque a violência de sua dissolução ou sua redução ao papel de meros assistentes sempre foi a antevéspera das ditaduras. O presidente pode estar incorrendo em desserviço à politica nacional quando anuncia disposição de tornar-se independente de qualquer. Porque reduz sua capacidade conviver republicanamente com o Congresso, e fulanizar o modelo de dialogar com poder Legislativo.
Quem analisa os ciclos temperamentais do presidente nos seus primeiros dez meses haverá de perceber o esgotamento de sua capacidade de desvencilhar-se, com paciência, de perguntas e situações incômodas. Com a peculiaridade de, não obstante, deixar-se atrair pelas ciladas. Não foi diferente o que se deu no recente e generalizado desprezo devotado aos partidos, além de confessar que em quase trinta anos de militância nunca precisou deles. Há certas coisas que o homem público tem todo direito de pensá-las, mas não dizê-las, sob pena de estar abrindo fossos perigosos na convivência democrática.
Revela-se cada dia de forma cristalina que o presidente se irrita facilmente com impasses de natureza política, e com facilidade espalha brasas ao vento. Assunto longe de lhe parecer agradável, ideal seria atribuir a outrem a missão de dar trato ao tema; um intérprete menos explosivo e com visão mais acuidosa sobre os desdobramentos da palavra; porque esta, depois de proferida, tanto constrói como destrói o que tem pela frente.
Raul Seixas
Parte das publicações que estão marcando os 30 anos da morte de Raul Seixas, um dos mais influentes nomes da música popular brasileira, deve-se ao jornalista Jotabê Medeiros. Na sexta-feira ele estará lançando biografia do cantor e compositor: “Não Diga que a Canção Está Perdida”.
Muito já se escreveu sobre Raul, mas certamente nem todos sabem que “no auge da Sociedade Alternativa ele ganhou um terreno em Juiz de Fora para fundar uma “anticidade”, como ele próprio dizia. A história é real, mas o compositor nunca levou a ideia a sério”, como informa o jornalista Bruno Mateus, de “O Tempo”.
Hospital
Está em curso, entre deputados, uma campanha de mobilização, que pretende levar o governo do Estado a concluir as obras do Hospital Regional, iniciadas há 10 anos sempre com verbas negadas ou adiadas. Trata-se das obras físicas. Nem se fala sobre o que o governo gastaria para equipá-lo, o que autoriza acrescentar mais uma década de fracassos e expectativas.
Sobre esse projeto já se disse que se gastaria muito menos, com bons resultados, se o dinheiro do prédio e dos equipamentos do futuro fosse empregado na compra de leitos dos hospitais privados já em funcionamento em Juiz de Fora e na região.
Fiscalização
Interessante o clima das boas relações entre a fiscalização da prefeitura e os ambulantes. O serviço se restringir ao calçadão da Rua Halfeld, onde a fiscalização desliza com vagar, dando tempo para que os infratores recolham seus objetos. Sumindo os fiscais, o comércio volta ao normal…
Numa fase em que é restrito o mercado de trabalho, e os ambulantes precisam sobreviver, admite-se certa tolerância. Mas deviam ser orientados para ocupar os espaços de forma a que os pedestres também tenham seus direitos respeitados.
Certos lugares, como a calçada da esquina de Rio Branco com Santa Rita, ao pedestre é destinado apenas um estreio corredor entre frutas, sombrinhas, barracas, óculos, isqueiros e talheres.