PREÇOS TABELADOS?
De
Brasília vem a notícia de que surgem políticos sugerindo estudos para o
tabelamento de preços de gêneros de primeira necessidade, como visionária
forma de conter a carestia, primogênita e filha dileta da inflação que dói na
bolsa das donas de casa espantadas nos supermercados. Estima-se que viva alguém
de suficiente juízo para recomendar que se afaste logo o risco dessa medida,
que tem longa história de insucessos.
O
tabelamento (ou congelamento, como queiram) gera o atravessador e esconde
o produto que vai ser vendido em câmbio negro. À medida em que somem os gêneros
de primeira necessidade, no mercado marginal os preços sobem e só ricos podem
comer com fartura. Que Brasília busque outros remédios para a doença, como o
excessivo ônus que pesa sobre a produção.
Economistas
contemporâneos sabem disso, e é possível que se disponham a dar testemunho útil
ao governo. Os exemplos vêm de longe. De muito longe. Foi o caso de Deocleciano,
ano 301 da Era Cristã (precisávamos voltar tanto no tempo?). Ele tabelou os
preços, e disso resultou grave escassez de óleo, pão e sal. Resultado não menos
traumático, em 1794, foi o desaparecimento do trigo na França.
No
Brasil mais recente a medida teve resultados constrangedores no governo Sarney.
Os supermercados não podiam aumentar os preços dos produtos; em compensação
sumiram das prateleiras, facilitando a figura monstruosa do ágio. Mas do
congelamento de preços também resulta imediato dividendo demagógico, tão ao
gosto de governantes populistas. Por isso, não faltam seguidores
românticos, o que há anos levou o senador Roberto Campos a lembrar que o
tabelamento de preços é como certas balzaquianas que rejuvenescem à medida em
que esquecem experiências passadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário