Logo após
Quando passar essa tormenta – um dia vai passar - a classe
pensante deste País terá dois temas importantes para ocupar o vácuo de suas
reflexões; sem direito a relegá-las, por maiores que sejam os apelos ao
comodismo casuístico ou o “deixa pra depois”. O primeiro objeto para o
pensar é nossa carcomida estrutura político-partidária; esse largo manancial
permissivo que nos obriga a assistir à ascensão de lideranças tais como Renan,
Cabral, Jucá, Lula, Maluf, Dirceu e outros. Trata-se de um modelo – não há quem
possa negá-lo - que tem como bandeira três defeitos sinistros: facilita a
corrupção, degrada a representação parlamentar e cria um lastro criminoso a
serviço da bandidagem. Se não nos dispusermos a mexer nisso de nada adiantará a
Lava Jato. O Brasil passado a limpo logo voltará a se sujar.
A segunda questão, que desde agora se recomenda, é uma
cuidadosa avaliação do instituto da delação premiada, essa nau generosa por
onde navegam os bandidos ingratos com outros bandidos. Já tudo se revela
muito claro: o que menos se obtém para o exercício da justiça é o conhecimento
das mazelas políticas; antes, e muito mais, a delação premiada tem servido para
facilitar a vida de agentes corruptos com o sacrifício de outros corruptos.
Indicam os políticos que lhes venderam facilidades, na expectativa de alcançar
os beneplácitos do Poder. Não se pejam de atirar ao abismo os bons comparsas.
A delação que se vê hoje, versão legalizada do dedurismo das
ditaduras, imortal criação de um velho conhecido, Escariotes, começa com
o grave defeito da confiança traída, constatação a todo momento
confirmada. O delator nunca é menos bandido que o delatado. Eis o
suficiente para o Judiciário passar a olhar com reservas mais cuidadosas esses
préstimos interesseiros, sem olvidar que no caso sucumbem diferenças entre quem
acusa e quem é acusado. Não há distância significativa entre eles.
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