Uma encruzilhada
1
- É exatamente por estar vivendo um momento crítico de sua história
republicana que o Brasil se coloca diante da mais delicada de todas as
encruzilhadas com que já se defrontou. O que quer que aconteça a partir de
amanhã, serão sombrios os próximos tempos, e com isso haverão de concordar
tanto os que querem ver o presidente Temer pelas costas, como os que,
contrariamente, admitem que melhor é que ele fique, pois, se com ele as coisas
andam complicadas, mais complicadas ficariam com sua ausência; ainda que não
seja pelos méritos, mas por causa do vácuo que sua despedida provocaria.
2
- Se parece claro que com a crise desta semana as reformas
resvalam para o abismo, não menos visível é que as instituições também
estão em risco, porque em situações como de agora é frequente o aparecimento de
façanhudos e golpistas, os salvadores de fachada.
3
- Nesta noite, depois de um dia povoado de boatos e incertezas, a dúvida
maior e mais preocupantes estava na conduta que o presidente Temer adotaria
frente à grave denúncia que lhe pesa, isto é, o abono que deu a um ato de
corrupção gravada e filmada. Estamos no começo da noite e as garantias chegadas
de Brasília davam conta de que não haveria renúncia, pois no episódio da JBS
ele teria sido mal interpretado.
4
- Permanecendo no cargo, arrastando-se arranhado até 2018, o presidente
Temer viveria um clima de absoluta insegurança política, que fica muito perto
da ingovernabilidade. Não há país capaz de conviver com isso. Nossos
problemas já são suficientemente amplos e graves para não se desejar outros.
Quando inexiste governo legitimado e apoiado o caminhar se revela
impossível.
5
– Os analistas políticos precisam considerar que o mesmo terremoto que se
abateu sob os pés do presidente Temer e do senador Aécio Neves também faz
estremecer a terra onde pisam Lula e o PT. Por que? Porque esse novo capítulo
da crise sepultou de vez o argumento petista de que a Lava Jato, o juiz Moro e
o Ministério Público só trabalham contra Lula. De forma alguma o ex-presidente
chega ao fim da semana menos vulnerável que o presidente e o senador mineiro.
6
– Se se inviabilizar totalmente a permanência de Temer no cargo, a saída
honrosa já está prescrita: esperar junho para o Tribunal Superior Eleitoral
condenar a chapa Dilma-Temer, acusada de compra de votos, porque nesse caso o
presidente pode atribuir todas as culpas à sua antecessora. Ele então cairia
por culpa dela. Interessante é que, se os esforços do governo direcionavam-se
para separar Temer de Dilma no Tribunal, agora pode ser melhor que fiquem
juntos para naufragarem juntos. A política tem dessas coisas.
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