Poder
“centralizado”
(( Wilson Cid hoje
no “Jornal do Brasil”))
Convencido
da capacidade de manter sob seu controle parte substancial das forças
de direita que o ajudaram a eleger-se em 2018, o que, aliás, não
tem sido desmentido pelas pesquisas, o presidente Bolsonaro parte
agora para ajustes finais com o chamado Centrão. Nisso segue pegadas
não diferentes das que adotaram os que o antecederam. Ora, já se
dizia antes, se a virtude está no meio, e é com essa a panaceia que
se pode elaborar o complexo de forças políticas e interesses
difusos para o governo transitar no Parlamento; e com mentes e olhos
voltados para a futura prova das urnas. O Centrão é a química
descolorida por diferentes matizes, que chegar para ajudar na segunda
metade do atual governo; e, ao mesmo tempo, contribuir na campanha da
reeleição em 2022, posto não mais haver entre os observadores
políticos e nos convescotes parlamentares quem duvide do sonho do
segundo mandato. As evidências se fazem presentes, e uma delas é o
esforço do presidente para conter a impetuosidade de palavras
inúteis, aquelas que provocam arestas e ressentimentos nada
adequados a um projeto eleitoral. Obediente a essa realidade, parece
disposto a não continuar sendo alguém que não dispensa a
oportunidade de provocar. A conferir.
Mais
ainda, o que faz acreditar no projeto do novo mandato é exatamente o
acerto com o Centão, que vai chegando sem desmentir seu caráter
original, isto é, uma simbiose, uma fusão de grupos e interesses,
no meio dos quais as ideias e as propostas primam por dividendos
imediatos. Esse conjunto de homens com mandatos funde-se como águas
de todos os rios; não é direita nem é esquerda; “muito pelo
contrário”, dizia-se do velho PSD. Tão diverso na composição,
sua cartilha recomenda pragmatismo no trato dos assuntos políticos,
o que faz dele um insaciável consumidor de cargos e influências.
Não lhe é bastante influir hoje no controle de 2% dos recursos
orçamentários da União.
Acertados
os ponteiros, mesmo o governo correndo o risco de ver essa adesão
dissolver-se no futuro por força de circunstâncias, o presidente
sente que esse é o caminho; e é para isso que ele arreia seu
cavalo. Mas no cavalgar é bom já ir pensando na extensão das
ofertas compensadoras, pois não terá como escapar de mudanças
significativas na estrutura do poder. Os apoiadores da força
parlamentar vão chegando sequiosos e ansiosos por galgar posições,
algo nem muito difícil de explicar, enquanto perdurar essa
indecência de deputados e senadores interrompendo o exercício do
mandado para ocupar funções executivas, nas quais em geral se
organizam para serem reeleitos com o manejo de verbas orçamentárias.
(Estamos
assistindo no episódio à invenção de uma nova física,
alterando-se o princípio de Arquimedes: dai-me um cargo público e
um ponto de apoio no Tesouro e eu levanto uma eleição).
O
Palácio há que abrir logo o espaço para abrigar agentes da nova
adesão. Já estaria a confirmar tal empenho a insinuação do
presidente da Câmara, do PFL, portanto centrista, de se criarem
novas regras para o aproveitamento de militares em funções civis
que estejam sob as ordens do presidente da República. Faz sentido,
sob a ótica do Centrão, pois ao redor de Bolsonaro avolumam-se os
camaradas, ocupando cargos que os apoiadores veem com olhos de
volúpia. A presidência nem está dispensada da mexer no escalão
ministerial, porque ali as fardas estão nos cabides de 30% dos
cargos “generalizados”…
Outra
tarefa a se confiar às forças políticas em estágio de adesão,
como certamente esperam assessores palacianos, é que a elas pode
caber a tarefa de atrair a classe média, indispensável na
elaboração de qualquer plano que vise à reeleição. Essa faixa
eleitoral, longe das contestações da esquerda ou do apoio
automático da direita, pode ajudar o presidente a carregar alguns
fardos, mas não aliviar suas costas da responsabilidade pessoal no
comportamento displicente que adotou em relação à tragédia
sanitária que o país está vivendo, porque neste caso o que tem de
fazer é torcer para que o tempo se encarregue de empurrar as culpas
ao esquecimento coletivo. Esperançoso, porque o eleitorado padece do
mal de passar por cima do tempo e esquecer os males maiores. Só se
for assim, porque o presidente tentou ver a epidemia como gripe que
se cura com xaropes caseiros, enquanto milhares de brasileiros
baixavam ao túmulo. Não há Centrão que possa absolvê-lo da falta
de solidariedade objetiva.
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