sexta-feira, 29 de abril de 2016




CONTRAGOLPE 


Sem cair de moda, e diante da denúncia de que o governo está sendo alvo de uma trama que resultará no fim da gestão Dilma, a palavra golpe vai ganhando novas dimensões e significados. Partidários do impeachment garantem que o verdadeiro golpe está na manobra dos que advogam nova e urgente eleição para a presidência. Ainda que fosse uma solução política para momento tão conturbado como o que estamos vivendo, a eleição antecipada não encontra abrigo no texto constitucional.

Sem se falar na promessa da presidente Dilma de arrumar as malas e viajar pelo mundo para se queixar da oposição demolidora. Contragolpe.



OS NÚMEROS


Ao mesmo tempo em que pelos corredores palacianos transitam o desânimo e a apatia, reflexo dos revezes que o governo vem enfrentando, restam os que procuram animar a presidente Dilma com tabelas, números e cálculos. Para eles a oposição estaria longe de gozar tranquilidade. E garantem a ela que os 2/3 de votos necessários para derrubá-la são uma conquista mais difícil do que se imagina.



DESÂNIMO

   
Mas, em contrapartida, é certo que o presidente do Senado, Renan Calheiros, lançou uma ducha de água fria em seu amigo Lula, horas passadas. Deixou claro que não vai dar para salvar o governo.


 O CLIMA


Com crises sucessivas, violência urbana descontrolada, desânimo geral e incertezas quanto ao futuro imediato do País, indaga-se em muitas capitais do mundo em que clima estará vivendo o Brasil nos jogos olímpicos.






quinta-feira, 28 de abril de 2016




Estagnação


Por causa da crise política nacional, que desaguou no Senado e onde vai polarizar atenções no decorrer de maio, as conversas sobre a sucessão municipal estão em suspenso. À exceção da aliança do PSDB com o prefeito Bruno Siqueira, que está acertada, apenas sujeita a alguns retoques.

 Os partidos e os políticos diretamente envolvidos no processo não têm como caminhar antes de se acertarem as bases políticas do governo Temer. Os reflexos  no campo municipal são inevitáveis, e isso independe das lideranças locais.

Com a novidade Temer, como ficam os partidos no plano municipal? O PT deve confirmar a oposição ao prefeito, até porque a ele deverão estar unidos peemedebistas e tucanos, seus adversários em plano nacional. É o que pode fortalecer o projeto dos petistas que advogam candidatura própria à sucessão de Bruno Siqueira.

Mas tudo ainda na dependência do que virá de Brasília.



Centenário


Está completando 100 anos o professor Franz Hochleitner, que ajudou a  projetar Juiz de Fora no exterior com seus estudos e descobertas sobre a civilização maia. Austríaco de nascimento, foi piloto na Segunda Guerra, escapou do momento da ocupação de Berlim pelos aliados, e veio para Juiz de Fora a convite de Hermann Göergen.

Formou-se em História pela Fafile. Lecionou História das Américas na UFJF, onde se encontra todo o acervo de suas pesquisas.

Na quinta-feira ele foi homenageado no Instituto Santo Tomás de Aquino, onde figura entre os veteranos. 





segunda-feira, 25 de abril de 2016




Olho no Senado


Nesta semana, mais que em qualquer outra, voltam-se as atenções para o Senado, onde se decidirá a sorte do governo Dilma, sob um clima que conta com o pessimismo dos situacionistas, em grande parte descrentes da capacidade de reversão de um quadro hostil. A admissibilidade do processo de impeachment é tida agora como certa, considerando-se que 45 dos membros da Casa são claramente favoráveis ao afastamento da presidente.

O Senado representa a unidade nacional, razão porque cada Estado da Federação conta com três cadeiras, independentemente do seu tamanho ou de sua importância político-estratégica. Assim, na sua essência não é um plenário político, como se vê na Câmara. Pelo menos em tese há que promover um julgamento diferente do que se viu no plenário dos deputados.

 

Com tal característica, a presidente tem ali a derradeira esperança de seu mandato. Pensa que pode gozar da influência dos governadores junto aos senadores, embora eles não tenham se mostrado tão fortes como se imaginava na Câmara. No embate anterior a presidente só ganhou em três estados.

 

A formação igualitária nas bancadas na Câmara Alta sempre teve seus adversários, pois discordam de um critério que confere o mesmo poder de voto a unidades federativas tão diferentes. Isso vem desde a Constituição de 1891. No Império era pior, pois muitos senadores gozaram da vitaliciedade. Na República começaram ganhando nove anos, reduzidos para oito em 1934. O senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) propôs a redução do mandato  para quatro anos. Quase foi escalpelado pelos colegas.



Dever do vice


O filósofo Brasílio Sallum, da Universidade de São Paulo, estudioso do mandato presidencial de Itamar Franco, informa que em 1992, nos três meses que antecederam o impeachment  do presidente Collor, seu vice começou a se preparar para assumir, a partir de criação de uma base de coalizão política. Sabia que os dias do titular estavam contados, e não podia esperar o capítulo final.

O filósofo lembra o episódio para concordar com as  articulações feita pelo vice de hoje, Michel Temer, que se prepara para assumir, mesmo faltando a palavra e o voto conclusivos do Senado. Faz o que tem de se feito em nome da responsabilidade do cargo.



quarta-feira, 20 de abril de 2016






SENADO DIFERENTE


1 - O plenário do Senado Federal, que votará a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma, promete ser bem diferente daquele espetáculo circense da Câmara dos Deputados no domingo passado, quando o palhaço Tiririca acabou sendo exemplo de sobriedade e compostura. Os senadores dirão apenas sim ou não à continuidade do processo, sem explicações vulgares, sem homenagens aos filhos e esposas, com seriedade, como convém a uma casa legislativa. Sem confetes e sem bandeiras, sem gritos histéricos e saudações piegas.

2 - Na tramitação da matéria no Senado parece estar identificado um contrate entre o presidente Renan Calheiros, que advoga calma e uso de todo o tempo para esgotar prazos em matéria tão importante, e, de outro lado, os senadores da Oposição, que querem pressa, alegando que é preciso correr com a votação, porque o Brasil está parado; literalmente parado.

3 - Com  44 senadores claramente favoráveis ao impeachment já se tem como certo que o parecer da comissão especial criada para julgar a admissibilidade terá aprovação.  Precisará de 41.

4 - O que poderia fazer a presidente Dilma para transformar em apoio à sua causa o ambiente hostil hoje facilmente identificado na Casa? É provável que ela caminhe no sentido de explorar o caráter regional da composição do Senado, convocando os governadores para influir. Jogará nisso suas últimas forças. Não é fácil, mas não se vislumbra uma rota menos sombria e menos acidentada.



NADA A TEMER


5 - Quem tem à mão todo o mapa eleitoral que Dilma começa a enfrentar é o vice Michel Temer; tanto o conhece e sabe que vai assumir, que ainda ontem cuidava objetivamente da formação do novo governo.

6 - A presidente Dilma insistiu muito na ideia de que estava sendo vítima de um golpe, e conseguiu levar essa apreensão a algumas das mais importantes capitais do mundo. O vice já tem gente trabalhando para desfazer a campanha, garantindo a inviolabilidade das instituições, e que sua eventual posse se processará em nome da Constituição.
Portanto, nada a temer com Temer.
  


OS NÚMEROS
 

7 - Sobre a votação e as barbaridades a que tivemos de assistir domingo último na Câmara, Eduardo Almeida Reis, um dos melhores escritores contemporâneos, envia ao blog a festa dos números daquela histórica sessão sobre o impeachment. Confiram:   
SIM: 367
NÃO: 137
Abstenções: 07
Ausentes:02
Cuspida: 01
Esposas Lisonjeadas:120
Amantes Zangadas: 200
Filhos falando "Ai, que mico!": 300
Professores de português quase sofrendo infarto: 124.218







terça-feira, 19 de abril de 2016






VICE PLANTONISTA


O vice-presidente Michel Temer continua sendo criticado pelo PT e demais partidos da base, sob a alegação de que, excessivamente confiante no impeachment da presidente Dilma, precipita gestões, consulta aliados e acerta cargos para a eventualidade de subir a rampa do Planalto. São críticas que se elaboram desde os primeiros momentos da admissibilidade do processo contra a presidente, mas principalmente depois do vazamento de uma gravação em que ele fala sobre condutas a tomar futuramente no cargo.

Pode ser que se veja nisso um descuido, uma imprudência, quando a política nacional vive momentos de ânimos acirrados. Mas é preciso considerar que tudo o que diz ou tem feito o vice constitui parte de suas responsabilidades. O vice há que estar preparado para enfrentar o eventual. Não pode se dar ao luxo de conviver com surpresas.

Então, quando fala sobre prioridades e nomes de possíveis ministros, ele age como tem de agir (fosse mineiro talvez se cercasse de maiores cuidados e mais discrição). Não seria cabível esperar a véspera da substituição, se esta realmente se efetivar, para organizar uma equipe e fixar condutas administrativas.



PIMENTEL


Com todas as atenções políticas concentradas em Brasília, e dali não arredam pé, o PT e o Planalto têm descuidado da sorte do governador de  Minas, Fernando Pimentel, abandonado nas montanhas. Não obstante, há quem assegure que os problemas que o cercam nada ficam a dever aos tormentos da presidente Dilma.

O Ministério Público considera que as provas de irregularidades praticadas pelo governador são muito graves; gravíssimas, tomando-se por base que elas dizem respeito a ações condenáveis  pessoais e familiares.


Diante disto, Minas periclita, sem recursos para tocar obras e servidores qualificados recebendo salários em parcelas. E dúvidas. Muitas dúvidas.





segunda-feira, 18 de abril de 2016






ÚLTIMA CARTADA

  
De volta ao chão a poeira da batalha que travou e perdeu, e perdeu feio, na Câmara dos Deputados, o governo dispõe de alguns caminhos para evitar que o Senado decrete o impeachment da presidente Dilma. O primeiro é afastar o ex-presidente Lula das negociações políticas, porque nesse particular se revelou desastrado, sem tato, antecipando premiações antes de ser conferida a votação. Foi um mau leiloeiro.

O segundo caminho é queimar a bandeira do “golpe”, porque isso não existe com 70%  dos votos da Câmara. Nem aqui nem em qualquer outra parte. Não colou a pregação governista.  

Terceiro caminho é apressar e expor logo as bases desse pacto que ela propôs, mas ainda sem detalhes. Isso talvez seja decisivo para a presidência, porque ao Senado, ao contrário da Câmara, que é uma casa essencialmente política, compete basicamente a unidade federativa. Essa ideia do pacto pode ser mais simpática aos senadores. Os deputados nem falaram de pacto.

E, ainda, o governo precisa superar lamúrias contra a Câmara, que, como se adiantou, tem na sua base a representação político-partidária. Não adiantaria, como não adiantou, querer limitar a visão dos deputados à interpretação jurídica dos fatos, por mais que sejam sustentáveis.

Não se ignora que são escassas as possibilidades de o governo ter êxito no Senado, onde é desafiado a barrar uma maioria simples, pois as bancadas do PSDB, PMDB e DEM são quase suficientes para acatar a proposta de impedimento. Mas, se vai tentar essa última cartada, é preciso que reconsidere a linha de atuação que vem adotando. E eliminar também as ameaças de “botar fogo” no Brasil através do MST. Caberia sensibilizar o Senado para as bases de um amplo acordo nacional.

É preciso, por fim, que a presidente explique, de viva voz, confirme ou desminta a notícia já veiculada de que teria sondado lideranças militares para a decretação do chamado “estado de defesa”, o que proporcionaria a ela a  suspensão da votação do impeachment no Congresso e o incômodo das hostilidades públicas da oposição. Uma espécie de estado de sítio com maquiagem; dessas maquiagens que usam veteranas senhoras, que escondem alguns sinais do tempo, mas não as rugas das ditaduras.



OMISSÃO


Sejam quais tenham sido as ideias e opiniões que se fizeram sobre a  presidente Dilma  e seu governo; concordem ou não com alegações jurídicas ou políticas para a decretação de seu impedimento; perdoem-se as pieguices de deputados que justificaram o voto para o agrado das mamães e dos netinhos; relegue-se até o fato de uma sessão histórica ser presidida por Eduardo Cunha.  Para tudo tem perdão ou explicação. Só não se pode perdoar é a abstenção de 7 deputados. Como admitir que diante de uma questão de tamanha importância, quando se discute  o futuro do Brasil, o sujeito se abstenha, manifestando indiferença, indefinição, um tanto faz como tanto fez. Para o omisso não há salvação.



O QUE FAZER?


Num ato de derradeira esperança, quando lhe escapavam as últimas bóias para sobrenadar no naufrágio, o governo da presidente Dilma mostrou coragem suficiente para mandar circular edição extra do Diário Oficial com centenas de nomeações de deputados e seus indicados, resultado dos “acertos” para conter o impeachment. Muitos estavam ali contemplados, mas votaram contra o governo. E agora? O que fazer com os amigos que traíram? Outra edição extra para o nada feito?



INAPTIDÃO


A presidente tem direito de acreditar na capacidade das pessoas que a cercam, sobretudo em tempo de grandes dificuldades. Mas há de convir que o ex-presidente Lula goza de total incapacidade para articular votos no Congresso Nacional. Fala muito e convence pouco.






quinta-feira, 14 de abril de 2016






PRESENTE E FUTURO


À expectativa provocada pela votação, na Câmara dos Deputados, do processo de impeachment da presidente Dilma, soma-se – é visível – uma preocupação geral sobre o futuro imediato do País. Haja ou não impeachment, o que  vai acontecer? Estando ela ou Temer no comando, por onde caminhar rápido rumo às soluções das muitas crises que nos afetam? Chegamos a um ponto, sem praticar excesso de pessimismo, que a agudez dos problemas está acima de atuais e eventuais dirigentes. Ou não é bem isso?

Outra dúvida reinante é quanto a reações populares violentas, também aí independentemente do resultado da votação final no Senado. Um palpite: em nome da tranquilidade, bom é que a diferença de votos, contra ou a favor da presidente, tenha diferença bem elástica, uma “goleada”, porque, sendo apertado o resultado, é que certamente os ânimos se tornarão acirrados.

Seja como for, eis um País mergulhado em grande incerteza. Como disse certa vez o ministro Marcelo Pimentel, do TST: “A gente não sabe para aonde ir; sabe apenas de onde quer sair”.



À TERRA FIRME


As expectativas no Brasil, parado à espera de definições, ampliaram-se nas últimas 48 horas, diante do anúncio de novos desembarques. PR, PP e deputados evangélicos deixaram a base do governo. Do que resultam duas observações: 1) são partidos sem expressão política ou ideológica, mas gozam de total fidelidade dos votos de seus representantes, o que lhes empresta vantagem aritmética em momentos decisivos; 2) se saltam do barco é porque pressentem o naufrágio. Ainda assim, é prudente relevar que continua no Congresso uma sedenta bancada, com a qual se pode conversar objetivamente, o que inclui cargos e  vantagens.

As pequenas legendas, por suas deficiências ou qualidades, vêm sendo  cortejadas pelo governo e pela oposição. São como as antigas pílulas do Doutor Ross: pequeninas mas resolvem.



PESAR


Registro, com pesar, o falecimento de Cid da Costa Lage, que estava próximo de completar 94 anos. Ele atuou na Rádio Difusora entre 1957 e 1962, e foi também quem criou e dirigiu nossa primeira agência de publicidade. Produziu e apresentou um dos mais famosos programas de rádio da época – Conversa em Família, onde desfilaram nomes famosos como Natálio Luz, Raimundo de Oliveira, Oto Ribeiro e Vilca de Oliveira. Cid foi um dos fundadores da Associação dos Radialistas, de curta duração.









quarta-feira, 13 de abril de 2016






MAIORIDADE ELEITORAL



Assistiu-se na TV a dois depoimentos otimistas em relação às eleições deste ano. Adriano Cardoso, conselheiro da OAB-MG, e Diogo Cruvinel, secretário judicial do TRE de Minas. Acham ambos que o eleitor vai se revelando cada vez mais protagonista do processo e, portanto, capaz de valorizar o voto sem comprometê-lo. Para o secretário concorre para tal previsão otimista o fato de o eleitor saber que também ele pode ser condenado  em até quatro anos de reclusão se pedir ou receber vantagem de candidatos.

Voto não tem preço, tem consequência, lembra Adriano Cardoso, para quem o crime da compra de voto vai desaparecendo, e para tanto têm contribuído campanhas moralizadoras desenvolvidas pela OAB e CNBB.

A Ordem, com 200 representações em Minas, mantém plantão para receber as denúncias de corrupção, e cuida de encaminhá-las à Justiça.

Neste ano a campanha eleitoral será mais curta e as empresas não poderão fazer doações (elas representavam 98% dos gastos dos candidatos).



 OUTRO OLHAR


Quando afirmam, com a autoridade que têm, que a compra de votos está decrescendo, com a esperança de que desapareça de vez, os dois especialistas certamente não se referem à campanha de compra de deputados para votar contra o impeachment. Neste caso a compra se faz tanto pelo varejo como pelo atacado.



OS PATRIOTAS


Os porta-vozes do governo recomendam que nestas horas de decisão e de mandatos em altos riscos a presidente deve direcionar os discursos ao patriotismo dos brasileiros, para que a ajudem a se manter no poder; os patriotas, que tantas vezes salvaram os governos. O problema é onde encontrá-los. Nas camadas mais pobres? Difícil. Como diz Luiz Fernando Veríssimo, não é possível encontrar patriotas nas filas do INSS e dos hospitais.



RUMO AO PLENÁRIO



Passado o primeiro teste do impeachment, com o governo derrotado na comissão da admissibilidade do processo, o desafio para a assessoria da presidente Dilma é tentar controlar o plenário da Câmara, onde seu destino começa a ser traçado na sexta-feira. Se de um lado tem a seu favor a maioria de uma base bem alimentada, seus planos podem esbarrar em dificuldades diante dos partidos que estão se afastando parcial ou totalmente. Como sinalizam o PP e o PR. Pode ser também que os fisiológicos estejam apenas fazendo charme para valorizar o preço do voto. Pode ser. Ainda pode ser que o destino do governo se concentre exatamente nos nanicos, sempre dependentes, mas sabem que chegou a hora de deixar a nau capitânia. O PMDB foi o primeiro.



ALIANÇA


Prosperam as consultas para a aliança municipal PMDB-PSDB. Como em todo escopo de aliança eleitoral, o primeiro ponto a ser tratado é a escolha do nome do vice na chapa do prefeito. Os tucanos pretendem indicá-lo. Pode ser um empresário, sem passado político.

Nas eleições municipais os dois partidos sempre trilharam caminhos diferentes.







terça-feira, 12 de abril de 2016






INDÍCIO  


Os números projetados pela votação da admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma, em comissão especial, não significam que o governo esteja a caminho da forca, mas são um claro indício de que o desastre é possível, ainda que no fim da jornada dependa de 2/3 do plenário da Câmara. Ficou claro que as negociações do Palácio não resultaram como esperava, o que serve à presidente Dilma como advertência: seu interlocutor Lula não está conseguindo dar conta do recado. É preciso encontrar alguém mais hábil.

Ainda em relação às negociações para a obtenção de votos, o que se faz com incomparável pragmatismo, parece que se tem conferido supervalorização do voto do deputado. Aquele que se entrega à oferta e cede à corrupção não vale um milhão. Vale bem menos.



RECUPERADO  


O ex-deputado Roberto Jeferson, do PTB, homem que abortou o mensalão, primeira entre as grandes máquinas da corrupção, considera-se totalmente recuperado do câncer que o desafiou há dois anos. Numa entrevista na TV disse que já retomou sua moto predileta e viajou do Rio a Juiz de Fora. Vinda e volta.



SIMON



Ficou marcada para o dia 29 a visita à cidade do senador Pedro Simon, que vem a convite do  Instituto Itamar Franco para pronunciar palestra sobre o momento político brasileiro. Ele fala às 20h no Museu Murilo Mendes, visita o Memorial da República, e na manhã seguinte, antes de retornar a Porto Alegre, vai conhecer a sede do PMDB.





segunda-feira, 11 de abril de 2016






A GÊNESE DO GOLPE



Cabe indagar onde estaria o berço desse golpe que o governo denuncia?, e o vê como nome verdadeiro das intenções de impeachment da presidente. Em que gabinetes sinistros estaria sendo costurado o plano arquitetado para empurrar dona Dilma contra a parede do dilema: sair por conta própria ou pelo impedimento definitivo?

Pois muito bem. O combate eficaz a tão grave trama, se verdadeira, importaria em identificar sua verdadeira origem; o foco onde prospera a insídia projetada e nela aplicar um fumacê prodigioso, tal como se faz com os mosquitos da dengue.

Mas há uma certa confusão quanto às origens. Antes de tudo porque os governistas levantam como primeiro suspeito o vice Michel Temer, que foi escolhido a dedo por dona Dilma para acompanhá-la na chapa da reeleição. Uma confiança que vem de longe, e a ele ficou devendo o apoio sempre fundamental do PMDB. Não teria logo identificado nele vocação golpista?

Suspeita-se do Congresso Nacional. Mas ali o governo sempre teve e tem maioria fiel, generosa, “acessível”, como ainda agora se vê nos acordos pragmáticos e objetivos conduzidos pelo ex-presidente Lula.

Suspeita-se da Polícia Federal. Mas ela é parte do próprio governo, diretamente vinculada ao Ministério da Justiça, e em seu nome, contra imoralidades, tem obrigação de agir.

Suspeita-se do Ministério Público. Porém ele constitui parte da administração pública em que o governo sempre buscou e obteve caminho para suas demandas.

Suspeita-se do Supremo Tribunal Federal. Ora, ali a maioria é constituída de ministros nomeados pelos governos do PT. É um tribunal onde o governo raramente perde.

Suspeita-se até da Procuradoria-Geral da República, a mais fiel e republicana das Procuradorias.

Suspeita-se do povo, que em 70% manifesta desconfiança na capacidade da presidente em conduzir soluções para os gravíssimos problemas do momento.

Suspeita-se do ex-líder do governo, senador Delcídio, a quem se atribui o agravamento dos problemas palacianos depois de promover esforço suicida para afastar o governo dos estilhaços do Lava Jato.

Na busca desesperada de culpados, ideal é que a presidente volte preocupações para as entranhas de seu próprio governo. As evidências mostram que golpe, se houver, então é de governistas, simpatizantes, agregados, dos dependentes de copa e cozinha. Coisa bem doméstica.






sábado, 9 de abril de 2016





A JORNADA DO VICE, AOS TRANCOS E BARRANCOS


Se existe algo que não se pode chamar de novidade na política brasileira é o papel do vice na acidentada história republicana que viveram nossos antecedentes e ainda hoje vivemos nós. Aqui, mais que em qualquer outro lugar do mundo, o vice jamais foi condenado ao papel decorativo, mero eventual. Não. Em pelo menos meio século da crônica política ele esteve presente e foi decisivo. Saiu daquela cadeira do substituto à espera do imprevisto para galgar o poder.

O vice, na hora em que o destino acena com a rampa do Planalto, convém ser discreto, deixar a linha de fogo do pesadelo das crises. Como fez Itamar em 92, como faz agora Michel Temer. Não permitir sinais de possível envolvimento com tramas e acidentes, pois quando  transparecem suspeitas ficam os ressentimentos, como se deu entre Figueiredo e seu vice Aureliano.

Discrição e comedimento. Diferentemente, por exemplo, do atabalhoado Manoel Vitorino, vice imprudente de Prudente de Morais. O presidente se licenciara para submeter-se a uma cirurgia, da qual para muitos não conseguiria sair vivo. Também acreditando nisso, tão logo se viu no cargo o baiano Manoel mudou quase todo o Ministério, reformulou condutas políticas do governo e mudou a  sede  da presidência, que estava no Itamaraty  e passou para o Catete. Prudente, horrorizado, abandonou o leito da convalescença em Petrópolis, voltou correndo para o Rio e reassumiu.

 O jornalista Hélio Fernandes, que conhece bem esses fatos, já escreveu que em matéria de vices o Brasil tem dois recordes: Carlos Luz, que esteve apenas um dia na presidência, e José Sarney, que ficou devendo à morte de Tancredo Neves os cinco anos em que esteve na presidência. Não incluímos na lista recordista as três horas em que José Maria Alkmin substituiu o presidente Castello Branco quando este foi ao Paraguai para inaugurar uma ponte entre os dois países.

O vice Sarney é um caso universal. Foi vice na presidência mais tempo que o vice americano Andrew Johnson, que havia abiscoitado 3 anos e 11 meses do mandato de Lincoln; mais que Theodoro Roosevelt, herdeiro de 3 anos e 8 meses de McKinley, e Truman, que completou quase 4 anos de Franklin Roosevelt.

No Brasil a sorte do vice republicano é muito rica, sem que dela nem o primeiro escapou. Em 1891 um golpe do marechal Deodoro da Fonseca durou apenas 20 dias, derrubado pelo vice Floriano Peixoto, que assumiu prometendo eleição, mas logo se esqueceu disso. Nilo Peçanha era o substituto de Afonso Pena, que morreu em 1909, e assumiu. Nove anos depois morre o presidente Rodrigues Alves, que já vinha enfermo da campanha. Seu vice, Delfim Moreira, não menos enfermo, com a gravidade de doença mental, passou o tempo assinando papéis que em sua maioria ignorava.

A Velha República fecha suas páginas em 1930, vem a Aliança chamada Liberal, que levaria Getúlio Vargas ao poder; mas aí a História mudou o enredo, pois o vice João Pessoa foi assassinado,  resultado de lutas pessoais, crime politicamente aproveitado pelos interesses do momento. Getúlio, pai do grande golpe que desaguou na ditador do Estado Novo, pagou o preço em 1954, suicidando-se. O vice Café Filho assumiu e adoeceu no cargo, num dos momentos mais delicados de nossa História. Substituiu-o Carlos Luz, por sua vez sucedido por Nereu Ramos, a quem coube passar a presidência a Juscelino.

A jornada dos substitutos continuou. E saltou para 1961, quando a renúncia do presidente Jânio Quadros foi buscar na China o vice João Goulart, mas sob resistência dos militares só pôde assumir pela via de um parlamentarismo híbrido. Derrubado pelo golpe de 64, vieram vices civis, sem chance de aparecer. Alkmin com Castello Branco. Pedro Aleixo com Costa e Silva, mas quando o general-presidente adoeceu e morreu o vice foi rechaçado, e em seu lugar entrou uma Junta Militar.

Redemocratizado o País, nem por isso o destino dos vices saíram de cena. Em 85, morto Tancredo, sobe Sarney. Em 92, decretado o impeachment de Fernando Collor, assume Itamar Franco.

Vale registrar na crônica desses homens pouco eventuais um detalhe singular. A vice-presidência, que antes de 1964 formava-se em chapa própria, independente do presidente, é para suceder o titular em caso de morte ou impedimento definitivo. Mas aqui na verdade ele substitui. O que resulta um caso curioso: no Brasil o vice assume, fica aqui decidindo e assinando pelo governo, enquanto o titular, em outros países, faz a mesma coisa. Damo-nos ao luxo de dois presidentes ... Nada mais exótico.




sexta-feira, 8 de abril de 2016

  


O GOLPE EXISTE


Eleição geral antecipada (ou precipitada) para outubro, proposta sob o calor e o tiroteio do imenso desgaste do governo;
a presidente e toda a sua equipe amargando 70% de reprovação  de norte a sul do País;
a oposição desarticulada e sem saber onde está o túnel por onde devemos expulsar a crise;
os partidos à deriva, divididos, todos acusados de corrupção, ativa ou passiva;
a população enfrentando desemprego, carestia, desânimo e insegurança;
todas as evidências de uma mutilação indolor dos mandatos;
a sempre suspeita lembrança do Parlamentarismo, essa grande solução só desengavetada em momentos inconvenientes;
compra de votos de deputados no varejo e no atacado, para o que der e vier.

Com tudo isso e por tudo isso: eis o golpe de que tanto se tem falado.


 


PROGNÓSTICO DIFÍCIL  


Não passam de exercício de “achismo” as previsões e profecias sobre o que haverá de decidir o plenário da Câmara dos Deputados sobre o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma. Tomados os indícios de hoje, como os de ontem, reina soberana a incerteza, porque do Congresso pode-se esperar tudo, graças à sua multifacetada composição.

Gustavo Capanema evitava prever votações com grande antecedência. Dizia que toda Câmara tem 10% de notáveis, 10% de bandidos e 80% de normais. Lula já foi mais rigoroso: há ali mais de 300 picaretas.

O perigo é que o número de notáveis, sempre mais discretos, empata com a audácia dos bandidos. E os chamados “normais?”. Bem, esses, assim como a parcela da população que representam, navegam aos sabor das emoções da hora. Por isso não autorizam maior segurança nas previsões.

Essas dúvidas e defeitos não se restringem ao Brasil. Para Hubert Humphrey, vice do presidente Lyndon Johnson, dos Estados Unidos, “é verdade que há vários idiotas no Congresso. Mas os idiotas constituem boa parte da população e devem estar bem representados”.





quinta-feira, 7 de abril de 2016







DIFERENTES


Quando o vereador abate uma paca é execrado, agravado em manifestações diante da Câmara, crucificado pelos ambientalistas, perde o mandato. Quando o deputado leva R$ 1 milhão para votar contar o impeachment da presidente é apenas quebra de uma formalidade ética?     



UM PASSO À FRENTE


A discussão que se trava em torno do processo de impeachment da presidente e do vice-presidente da República tem substância suficiente para relegar a segundo plano outras graves questões do interesse nacional. Relega, ainda mais, reflexão tão desapaixonada quanto possível sobre desdobramentos, consequências e resultados para o Brasil do dia seguinte à última decisão sobre o pretendido impedimento. O que vai acontecer depois? É preciso que as lideranças políticas, entidades representativas, partidos e cientistas políticos estejam debruçados sobre o que virá quando estiver definida a sorte desse governo. Como será o nosso after day?

É preciso dar um passo à frente e que se abra essa discussão.

Sendo mantida no cargo, protegida por decisão do Senado Federal em última instância, o que a presidente terá de nos dizer e fazer, com a responsabilidade de arrancar o País da gravíssima crise em que se encontra? Mesmo ferida e atordoada por essa mesma crise, mas fortalecida no embate final, quais os remédios amargos a prescrever?

Mas se se considerar a outra ponta dos desdobramentos, isto é, sai a presidente e assume quem tem o dever constitucional de assumir, como haverá o País de se conduzir, observado que a mudança do governo não significaria automática e milagrosa superação das mesmas dificuldades com as quais deitamos e com as quais nos levantamos todos os dias. Se o atual governo tem muito que explicar, seu sucessor não escaparia desse desafio.

O calor das paixões nessa dolorosa travessia tem impedido que se discuta o destino em que o Brasil vai atracar. Parece que todos estão jogando com o tempo, confiando tudo nele, remédio para tudo. O tempo paga com o tempo, como diria Seu Mané a Joaquim Retireiro, nos Contos da Mata Mineira, de Alberto Furtado Portugal. Mas já não se disse melhor mesmo é não esperar acontecer?






quarta-feira, 6 de abril de 2016






EXEMPLO


O deputado federal Arnaldo Faria de Sá, desses que não têm papas na língua, chega à conclusão de que o Brasil não terá jeito se continuar com governantes petistas, que ele joga na conta de “gente desclassificada”, sob o comando da presidente Dilma. Em uma entrevista na Rede Vida recomendava que o substituto de Dilma (o deputado considera o  impeachment favas contadas),  faça tal como fez Itamar Franco, que assumiu no lugar de Collor, isto é, convoque as forças políticas e não políticas a formarem fileira em torno de um projeto de desarmamento das paixões e a retomada da dignidade nacional.

Sobre o destino do projeto de impeachment Arnaldo considera que ele está sancionado e decretado pelo clamor das ruas.



DENGUE


Mesmo com ligeiros sinais de que a onda de dengue começa a perder forças, as autoridades recomendam que a população não quebre a guarda e se mantenha atenta e em alerta. No caso de Juiz de Fora, onde chegamos a um índice preocupante da incidência, vê-se que o poder público tem feito muito, mas, como disse o secretário José Sóter Figueirôa em audiência na Câmara Municipal, é preciso ter em mente que 80% dos riscos de dengue estão em casa, isto é, o combate ao mosquito depende mais dos cuidados que a família deve tomar.



VIA ÚNICA 

Cresce o exército dos que consideram que a solução mais adequada para a crise política brasileira está na convocação de eleição presidencial para outubro, juntamente com prefeitos e vereadores, faltando convencer a presidente Dilma de que é melhor reduzir drasticamente  a duração de seu mandato a ter de continuar vivendo no inferno em que se encontra.

A eleição antecipada é proposta do senador Valdir Raupp, do PMDB. Ele reconhece que é uma ideia pessoal, ainda sem lastro suficiente para prosperar.


 TORMENTA


A segunda passagem da presidente Dilma pelo governo não nega, pelo contrário de certa forma até confirma, a maldição do segundo mandato. Os problemas que ela tem vivido, e em muitos casos contribuído para agravá-los, podem explicar.

O segundo mandato foi trágico para muitos. Lincoln foi assassinado. Richard Nixon sofreu impeachment, um câncer fez o francês George Pompidou interromper o segundo mandato, Getúlio Vargas suicidou-se, De Gaulle foi obrigado a renunciar, depois de um plebiscito desfavorável.


Em contradita, o caso de Lula?  De forma alguma. Foi no seu segundo mandato que se abriram as comportas do mensalão e do Lava Lato, que figuram entre as maiores escândalos de toda a História. E querem mais? 





sexta-feira, 1 de abril de 2016




DESEMPREGO CRUEL


Que coisa singular. O Brasil inteiro preocupado com o emprego de dona Dilma e do vice-presidente Michel Temer, deixando passar de passagem essa multidão de desempregados que cresce nos grandes e médios centros da produção. Esses desocupados, que a crise empurra para a margem da estrada, já são quase 12 milhões. Considerada a média familiar de três membros, são 36 milhões de pessoas sob o risco de se verem privadas de necessidades básicas.

As estatísticas mostram que os trabalhadores expulsos do mercado estão saindo às ruas para fazer qualquer coisa em nome da sobrevivência; ainda que sobrevivência miserável. Como diria José Américo de Almeida, na “Bagaceira”, sobre os nordestinos famintos, são os resignados às necessidades de cada dia, não para ganhar a vida, apenas para não perdê-la.  


OLHO NO VICE


Quando as bancadas de oposição na Câmara dos Deputados informam que já têm quatro votos a mais que os necessários para remeter ao Senado a proposta de impeachment da presidente Dilma crescem os contatos de lideranças políticas com o vice Michel Temer. É a expectativa de que a precipitação dos fatos vai concorrendo para levá-lo à presidência.

Bem pesados tais fatos e a caminhada longa que a crise ainda promete, pode ser que as articulações se operam com alguma precipitação. Seria este o momento de o PMDB lançar programa de eventual governo complementar?

Seja como for e como se entender o momento, Temer tem um fim de semana em que polariza todas as atenções, na expectativa de que sua biografia contribua para ampliar a acidentada presença dos vice-presidentes que protagonizaram pelo século da história política do País. Basta recordar. Entre 1889 e 1930 cinco vices ocuparam a presidência da República: Floriano Peixoto, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Wenceslau Braz e Delfim Moreira. Depois de 1954 todos assumiram: Café Filho, Nereu Ramos, João Goulart, José Sarney e Itamar Franco.
  

SOBRE 64


No dia 31, para lembrar o 64 do golpe, registramos aqui: aos que testemunharam aquele episódio e aquele momento, espantou sobretudo o fato de o governo ter ignorado a sublevação que o cercava, tramada tão às claras que nem cuidou de se manter escondida. E  mais: se algum mistério ainda restasse em torno da derrubada do presidente Goulart ficou a inexplicável omissão dos serviços de inteligência, que não advertiram nem sugeriram reações no momento adequado.

Pois na mesma noite da nota desta página tranquilizou ouvir entrevista na televisão do ex-ministro Almino Afonso dizendo tudo isso; e com as mesmas palavras. Almino, que foi um dos grandes homens daquele momento, explicou que ao meio-dia de 31 de março fez um telefonema a João Goulart alertando sobre a movimentação de tropas em Juiz de Fora, e dele ouviu, como resposta, que tudo não passava de conversa da oposição. Pouco depois, preocupado e conversando com Arthur Virgílio Filho, passou o general Assis Brasil, que Almiro considerava um despreparado, e também por ele foi tranquilizado.


Difícil de acreditar, mas o presidente Goulart só foi dar pela coisa quando as tropas do general Mourão se aproximavam do Rio de Janeiro, às 18 horas.