DIFERENTES
Quando o vereador abate uma paca
é execrado, agravado em manifestações diante da Câmara, crucificado pelos
ambientalistas, perde o mandato. Quando o deputado leva R$ 1 milhão para votar contar
o impeachment da presidente é apenas quebra de uma formalidade ética?
UM PASSO À FRENTE
A discussão que se trava em torno
do processo de impeachment da presidente e do vice-presidente da República tem
substância suficiente para relegar a segundo plano outras graves questões do
interesse nacional. Relega, ainda mais, reflexão tão desapaixonada quanto
possível sobre desdobramentos, consequências e resultados para o Brasil do dia
seguinte à última decisão sobre o pretendido impedimento. O que vai acontecer
depois? É preciso que as lideranças políticas, entidades representativas,
partidos e cientistas políticos estejam debruçados sobre o que virá quando
estiver definida a sorte desse governo. Como será o nosso after day?
É preciso dar um passo à frente e
que se abra essa discussão.
Sendo mantida no cargo, protegida
por decisão do Senado Federal em última instância, o que a presidente terá de
nos dizer e fazer, com a responsabilidade de arrancar o País da gravíssima
crise em que se encontra? Mesmo ferida e atordoada por essa mesma crise, mas
fortalecida no embate final, quais os remédios amargos a prescrever?
Mas se se considerar a outra
ponta dos desdobramentos, isto é, sai a presidente e assume quem tem o dever
constitucional de assumir, como haverá o País de se conduzir, observado que a
mudança do governo não significaria automática e milagrosa superação das mesmas dificuldades
com as quais deitamos e com as quais nos levantamos todos os dias. Se o atual
governo tem muito que explicar, seu sucessor não escaparia desse desafio.
O calor das paixões nessa
dolorosa travessia tem impedido que se discuta o destino em que o Brasil vai
atracar. Parece que todos estão jogando com o tempo, confiando tudo nele,
remédio para tudo. O tempo paga com o tempo, como diria Seu Mané a Joaquim
Retireiro, nos Contos da Mata Mineira, de Alberto Furtado Portugal. Mas já não
se disse melhor mesmo é não esperar acontecer?
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