DESEMPREGO
CRUEL
Que
coisa singular. O Brasil inteiro preocupado com o emprego de dona Dilma e do
vice-presidente Michel Temer, deixando passar de passagem essa multidão de
desempregados que cresce nos grandes e médios centros da produção. Esses
desocupados, que a crise empurra para a margem da estrada, já são quase 12
milhões. Considerada a média familiar de três membros, são 36 milhões de
pessoas sob o risco de se verem privadas de necessidades básicas.
As
estatísticas mostram que os trabalhadores expulsos do mercado estão saindo às
ruas para fazer qualquer coisa em nome da sobrevivência; ainda que
sobrevivência miserável. Como diria José Américo de Almeida, na “Bagaceira”,
sobre os nordestinos famintos, são os resignados às necessidades de cada dia,
não para ganhar a vida, apenas para não perdê-la.
OLHO NO VICE
Quando
as bancadas de oposição na Câmara dos Deputados informam que já têm quatro
votos a mais que os necessários para remeter ao Senado a proposta de
impeachment da presidente Dilma crescem os contatos de lideranças políticas com
o vice Michel Temer. É a expectativa de que a precipitação dos fatos vai
concorrendo para levá-lo à presidência.
Bem
pesados tais fatos e a caminhada longa que a crise ainda promete, pode ser que
as articulações se operam com alguma precipitação. Seria este o momento de o
PMDB lançar programa de eventual governo complementar?
Seja
como for e como se entender o momento, Temer tem um fim de semana em que
polariza todas as atenções, na expectativa de que sua biografia contribua para
ampliar a acidentada presença dos vice-presidentes que protagonizaram pelo
século da história política do País. Basta recordar. Entre 1889 e 1930 cinco
vices ocuparam a presidência da República: Floriano Peixoto, Afonso Pena, Nilo
Peçanha, Wenceslau Braz e Delfim Moreira. Depois de 1954 todos assumiram: Café
Filho, Nereu Ramos, João Goulart, José Sarney e Itamar Franco.
SOBRE 64
No
dia 31, para lembrar o 64 do golpe, registramos aqui: aos que testemunharam aquele
episódio e aquele momento, espantou sobretudo o fato de o governo ter ignorado
a sublevação que o cercava, tramada tão às claras que nem cuidou de se
manter escondida. E mais: se algum mistério ainda restasse em torno da
derrubada do presidente Goulart ficou a inexplicável omissão dos serviços de
inteligência, que não advertiram nem sugeriram reações no momento adequado.
Pois
na mesma noite da nota desta página tranquilizou ouvir entrevista na televisão
do ex-ministro Almino Afonso dizendo tudo isso; e com as mesmas palavras.
Almino, que foi um dos grandes homens daquele momento, explicou que ao meio-dia
de 31 de março fez um telefonema a João Goulart alertando sobre a movimentação
de tropas em Juiz de Fora, e dele ouviu, como resposta, que tudo não passava de
conversa da oposição. Pouco depois, preocupado e conversando com Arthur
Virgílio Filho, passou o general Assis Brasil, que Almiro considerava um
despreparado, e também por ele foi tranquilizado.
Difícil
de acreditar, mas o presidente Goulart só foi dar pela coisa quando as tropas
do general Mourão se aproximavam do Rio de Janeiro, às 18 horas.
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