DEPOIS
DA TEMPESTADE VEM OUTRA TEMPESTADE
A saída
do PMDB da órbita do governo contribuiu para levar a tragédia política
brasileira a uma consequência já prevista.
É isto:
os fatos estão empurrando a crise pra frente, sem lhe dar chance de retrocesso
salvador ou a uma estagnação balsâmica. O estágio agora atingido, além de acenar
para novos desdobramentos, mostra que os dois lados – os que querem o impeachment
da presidente e os que o repudiam - estão carregando nos ombros um novo desafio:
ambos temem as consequências pelo que advirá no estuário final de tantos problemas.
Porque, observe-se, se a presidente ficar de pé, apesar de tantos solavancos,
a Nação vai se manter no quadro de estagnação em que se encontra agora.
Se, ao
contrário, ela cai, o governo substituto estará condenado a passar em cima de
perigosos escombros. Eis um tempo de prosseguidas tensões. As duas facções
sentem os desafios que as aguardam. Sabem que não haverá mar de rosas à sua
espera, mas é certo que virão novos impasses, com crise ou sem crise. No
momento em que se registra esta nota, fim de noite de 31 de março, as
previsões continuam desfavoráveis àa dona Dilma. Depois de perder o maior
entre seus aliados, ela deve estar percebendo que novas adesões que se
insinuam vêm com o ranço do oportunismo e da fidelidade circunstancial. É
como os soldados que vão à guerra procurando apenas uma trincheira, distantes
e apáticos em relação ao tiroteio.
2 – A
presidente Dilma deve ter sentido, e se não sentiu é preciso o que alguém
faça a advertência, sobre o erro que praticou ao atribuir a Lula a tarefa de
sanear as origens da crise política. Ele começou conversando com o PMDB, e o
partido logo lhe deu as costas. Lula fracassou na primeira missão; e a ficar no
Ministério, que seja apenas para sair do olhar do juiz Sérgio Moro. Ela
precisa urgentemente da interlocução conduzida por alguém de insuspeita
capacidade, que não alimente divergências e rancores. Diferentemente do
ex-presidente.
Ao PT agora já não bastam as consultas discretas ao professor Delfim Neto,
oráculo da cúpula petista. Num deserto onde são raras as competências para a árdua
tarefa de restabelecer o diálogo civilizado, o governo precisa descobrir alguém,
com um perfil semelhante, por exemplo, ao do ex-ministro Ayres Brito, do Supremo
Tribunal.
3 – A
exacerbação dos espíritos, os gritos raivosos das ruas e os xingamentos das
redes sociais mostram que no Brasil o diálogo entrou em coma induzido pela
intolerância. Pode morrer, não apenas para o governo e para a oposição, mas
morrer para todos os segmentos da sociedade. O Brasil está mergulhado numa
guerra de bate-boca.
4 – O
PMDB de Juiz de Fora já havia prometido e antecipado
fidelidade
ao seu presidente estadual, Antônio Andrade, qualquer que fosse a decisão da
direção nacional quanto ao rompimento com o Planalto. Andrade ficou solidário
com Michel Temer, o que significa que numa escala natural decrescente o
diretório municipal está politicamente afastado do governo federal. Mas em
Minas ele continua com um padrinho poderoso, pois Andrade também é
vice-governador de Minas. Num primeiro olhar, os petistas entendem que ocorre
o esfriamento natural no diálogo da deputada Margarida Salomão com o prefeito
Bruno Siqueira. Vinham se entendendo muito bem, mutuamente festejados; de
forma que em dado momento cogitou-se até aliança para a eleição de outubro. Se
o PT se afastar, o que certamente o prefeito não desejaria, ocorrerá
naturalmente no âmbito municipal a
aproximação do PSDB com o PMDB, o que conjuntura também pode forçar o PT a
ter candidato próprio à prefeitura.
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