PALAVRAS & PALAVRAS
Assessores
da presidente Dilma sugerem aos adversários (mais que os comportados
oposicionistas) que desistam do sonho de vê-la renunciar; que acordem para a
realidade. Ela própria já disse isso algumas vezes e, da última vez, até
inovou. ”Não me renuncio”.
Interessante
observar a insistência com que os líderes negam a dificuldade extrema para a
qual são empurrados pelos fatos. Mas sabem que é consensual tal realidade,
apesar de toda a promessa de resistência, sinceramente desejada por eles. No
caso brasileiro, o que se tem avaliado é que ela renunciaria se perceber que é
iminente a derrota na guerra do impeachment; muito menos por considerar que seu
afastamento esvaziaria as crises, mas porque pode sentir que afinal lhe faltam
as forças de apoio. Lembremo-nos que os políticos, principalmente quando no
poder, são de uma crueldade pragmática. Não esperam a tempestade cair,
bastando-lhes sentir as nuvens densas. Se percebem que navegam em barco que faz
água, saltam antes do afundamento.
Como
nos enterros, a participação vai até à beira das covas. A solidariedade não
chega ao ponto louco de entrar nelas.
Desejável
é que, mesmo com toda a certeza de que não deixará o cargo, e tem reiterado, a
presidente não devia insistir em garantir isso. Pode pensar, desejar, mas não
apregoar, porque apregoando assim acaba excitando e desafiando os que desejam
vê-la apeada do cargo.
Nenhum
presidente é invulnerável quando sente que lhe escapam as forças de apoio.
Lembremo-nos da lição de Ortega y Gasset: nós somos nós e nossas
circunstâncias. As circunstâncias de Dilma são os políticos das bases que lhe
dão sustentação. As circunstâncias valem mais que mil canhões e a palavra de
uma legião de conspiradores.
Sobre
o uso das palavras em momentos delicados vejamos um caso bem recente. O
presidente Lula se proclamou o homem mais honesto do mundo, mas horas depois
estava com a polícia batendo em sua porta, sob graves suspeitas. “Onça”, apelido
do capitão Luiz Monteiro, governador do Rio de Janeiro em 1725, comunicava
orgulhosamente à Coroa: “Nesta terra todos roubam. Só eu não roubo”. Pouco
depois era desmentido pelos fatos.
Nesta
nossa República, como se promete o que não se cumpre! Getúlio foi exceção.
Prometeu se matar se fosse derrotado na Revolução Constitucionalista de 32. Não
precisou ir ao gesto extremo. Em 1954 só sairia morto do Catete. E saiu,
acompanhado da bala que lhe estourou o coração.
Palavras
e & palavras. Castello Branco em 64 prometeu eleição livre no ano seguinte.
Não cumpriu e prorrogou seu próprio mandato. Costa e Silva, que o sucedeu,
disse que deixaria o cargo sem os Atos Institucionais. Deixou o AI-5, o mais
severo dos Atos da ditadura. Médici assumiu garantindo que acabaria com a
repressão. Ninguém a ele se comparou na repressão. Geisel, que chegou com bons
modos, prometeu respeitar o Congresso e não cassar. Fechou e cassou.
Figueiredo foi diferente, porque anunciou a distensão e cumpriu.
Vê-se
que no poder a palavra é relativa e muitas vezes negada. Depende das
circunstâncias. Dona Dilma pode sair, segundo a trama desses fatos que não
conseguir administrar. Pouco a fazer ante tal conspiração.
Em
clima semelhante ao que estamos vivendo hoje um veterano parlamentar dizia que
aos governos fracos muitas vezes faltam forças até para a renúncia. Como os
moribundos das Memórias de Pedro Nava, que só passavam para a outra depois de
engolir marmelada com Vinho do Porto. Mas essa estranha associação estaria na
carta de vinhos do Palácio?
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