PONTO OBSCURO
Como testemunha ocular e indignada daquela
tarde de 31 de março de 64, quando se consolidou, numa proclamação do
general Mourão Filho, o golpe contra o governo Goulart, as instituições e, por
fim, contra a liberdade, alguns colegas pedem minha opinião sobre aquele
episódio, passado mais de meio século. Digo que o tempo já se encarregou
de exorcizar duas antigas dúvidas. A primeira dúvida refere-se ao falado
projeto do governo de então de instalar no Brasil a república comuno-sindicalista,
o que ficou historicamente desmentido. O argumento foi para o arquivo de
pretextos grosseiros dos contrários. A segunda nuvem que se dissipou dizia
respeito ao real interesse do governo Kennedy de ajudar, no que fosse
necessário, para o êxito do golpe. O interesse está cabalmente comprovado.
Resta uma terceira questão, esta instigante
até os dias atuais, e sobre a qual ainda se debruça: o que faziam ou
deixaram de fazer os serviços de inteligência e contra-informação do Palácio
que não advertiram o presidente Goulart, afora breves insinuações,
de que estava em curso uma sublevação militar com apoio de segmentos da
política, de setores conservadores da Igreja e empresariais temerosos de se
verem tragado pelo comunismo?
A estranheza encontra campo fértil para as
indagações, mesmo passados 52 anos. Não se compreende tamanho despreparo, ainda
que se considere eventual engajamento de alguns oficiais comprometidos com o
projeto de apear o presidente constitucionalmente empossado. Pois os preparativos
para o golpe se faziam às claras, sem segredos. Em Juiz de Fora, a imprensa
cobria os sucessivos encontros, no aeroporto da Serrinha, entre o governador
Magalhães Pinto, o general Mourão e assessores de ambos. Tramava-se
abertamente. Nas horas que antecederam a proclamação do reduto golpista já se
efetuavam algumas prisões, jornalistas “suspeitos” eram vigiados, postos de
gasolina instruídos a não esgotarem suas reservas de gasolina, pois as tropas
precisariam de uma cota extra para “eventuais deslocamentos”. Nos quartéis,
oficiais descontentes com o golpe em curso eram convidados, com a tropa
formada, a dar um passo à frente e já ficaram detidos. Os setores de correios e
telefonia haviam sido tomados de véspera.
E o governo não viu isso.
MODELO DE CAMPANHA
É muito cedo para falar sobre o
que as candidaturas a prefeito vão dizer à cidade. Elas sabem apenas que
enfrentarão uma campanha vigorosa e pobre de recursos financeiros, retrato do momento
que estamos vivendo neste Brasil cheio de dúvidas.
Mas parece que o prefeito Bruno
Siqueira, do PMDB, dá a partida e passa a considerar alguns parâmetros para
chegar ao eleitorado na jornada que se avizinha; jornada que sinaliza algumas
marcas diferenciadas, entre as quais, como se disse, a duração relâmpago e a
escassez de recursos. Para falar ao eleitor, o primeiro passo que vai cumprir,
segundo ouço de assessores imediatos, é a transparência. Nada ficará sem ser
mostrado às claras. Preto no branco. Um modelo de seriedade pronto para
contrastar com eventuais projetos demagógicos. Exemplo disso seria mostrar o
que se tem conseguido fazer, ainda que com muito pouco do dinheiro sumido no
vendaval da crise financeira que se abate sobre o País.
Na sua campanha a arma seria
mostrar o que a população precisa saber, como as obras nos bairros ( a
Administração garante que nunca se fez tanto por eles). E predomina a intenção
de hospedar a prestação de contas e os novos projetos não apenas nos programas
de rádio e TV da Justiça Eleitoral, mas optar por uma conversa franca nas redes
sociais. Estas cada vez mais essenciais, até porque, segundo os especialistas,
em grupo de dez pessoas pelo menos quatro se orientam através delas. Eis um
salto na política de comunicação em processos eleitorais no município.
Além do mais, espera-se uma
campanha atípica. Primeiro pelo fato de ela se realizar no rastro ou no
rescaldo dos escombros de sucessivas crises que intercalam dificuldades
financeiras e políticas para a população. Situação assim leva ao risco de se
criar um útero fértil para a geração de oportunistas ou demagogos. Foi o que se
deu na década de 80, com a eleição de alberto bejani, protagonista de um
momento abjeto na história política municipal.
O eleitor, ainda que não tenha
sido contemporâneo de tal tragédia, precisa se informar e ter em mente que até hoje
estamos pagando por aquele pecado cívico.
Outro cuidado, que dizemos nós,
não os assessores do prefeito, é que as redes sociais vêm se tornando veículo
auspicioso para a intolerância, xingamentos e ofensas gratuitas sob o escuro do
anonimato. É preciso adotá-las como fonte de informação e diálogo; nunca
instrumento de guerra virtual de baixo nível.
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