terça-feira, 1 de março de 2016




UMA NOVA ESQUERDA?


Os últimos acontecimentos na área do governo, cuja gravidade é evidente, culminam com os sinais de abertura de um tempo para reflexões sobre o futuro da esquerda no Brasil. Parece claro ter sido instada à mesma encruzilhada que lembra algo perecido com o destino da formiga saúva: a esquerda tem que se desligar do governo antes que o governo se desligue dela. Brasília já parece pequena para os dois, um asfixiando o outro. Os caminhos não seguem paralelos e os discursos em escala de babel não falam a mesma linguagem.

Para os que ainda veem no patrimônio ideológico da esquerda a solução de todos os problemas e cultivam sinceramente esse ideal a solução é descer do governo Dilma e espanar a herança lulista. Mas isso também não é tão fácil como pode parecer, porque os graves resultados dessa união se agarram por um cordão umbilical de décadas; e isso não se rompe num simples passe de mágica. Criou-se uma sólida interdependência.      

O primeiro passo desse divórcio, numa jornada que parece longa, é examinar os fatores que levaram à desconstrução da esquerda. Convém começar pela leitura de um texto do senador Cristóvam Buarque, que acaba de circular na internet. Vai aqui transcrito o trecho essencial:

“A desconstrução da esquerda ocorreu por causa da aceitação da corrupção, sob o argumento de que todos a praticam; pela perda do vigor transformador e pelo consequente acomodamento; pela falta de imaginação para formular nossas alternativas para o avanço social; pela incapacidade de perceber e entender a vertiginosa transformação tecnológica e política no mundo e o desprezo por compromissos programáticos e ideológicos.”

“A esquerda não foi capaz de entender o pleno significado da queda do Muro de Berlim, do fim do socialismo pela distribuição da produção e o consumo industrial depredador; a consolidação do poder sindical pela aristocratização do proletariado em contraposição aos interesses das grandes massas; não entendeu a dimensão da crise que vai além da luta de classes e contesta a própria base da civilização industrial; não tem proposta para a ampliação do bem-estar, combinado com o equilíbrio ecológico; não percebe a força da globalização implantando o livre comércio, quebrando as fronteiras nacionais; nem a realidade da economia atual, onde o principal fator de produção é o conhecimento, não o capital financeiro nem os recursos naturais.”

E mais não precisava dizer. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário