UMA NOVA ESQUERDA?
Os últimos
acontecimentos na área do governo, cuja gravidade é evidente, culminam com os
sinais de abertura de um tempo para reflexões sobre o futuro da esquerda no
Brasil. Parece claro ter sido instada à mesma encruzilhada que lembra algo
perecido com o destino da formiga saúva: a esquerda tem que se desligar do
governo antes que o governo se desligue dela. Brasília já parece pequena para
os dois, um asfixiando o outro. Os caminhos não seguem paralelos e os discursos
em escala de babel não falam a mesma linguagem.
Para os
que ainda veem no patrimônio ideológico da esquerda a solução de todos os
problemas e cultivam sinceramente esse ideal a solução é descer do governo
Dilma e espanar a herança lulista. Mas isso também não é tão fácil como pode
parecer, porque os graves resultados dessa união se agarram por um cordão
umbilical de décadas; e isso não se rompe num simples passe de mágica. Criou-se
uma sólida interdependência.
O primeiro
passo desse divórcio, numa jornada que parece longa, é examinar os fatores que
levaram à desconstrução da esquerda. Convém começar pela leitura de um texto do
senador Cristóvam Buarque, que acaba de circular na internet. Vai aqui
transcrito o trecho essencial:
“A
desconstrução da esquerda ocorreu por causa da aceitação da corrupção, sob o
argumento de que todos a praticam; pela perda do vigor transformador e pelo
consequente acomodamento; pela falta de imaginação para formular nossas
alternativas para o avanço social; pela incapacidade de perceber e entender a
vertiginosa transformação tecnológica e política no mundo e o desprezo por
compromissos programáticos e ideológicos.”
“A
esquerda não foi capaz de entender o pleno significado da queda do Muro de
Berlim, do fim do socialismo pela distribuição da produção e o consumo industrial
depredador; a consolidação do poder sindical pela aristocratização do
proletariado em contraposição aos interesses das grandes massas; não entendeu a
dimensão da crise que vai além da luta de classes e contesta a própria base da
civilização industrial; não tem proposta para a ampliação do bem-estar,
combinado com o equilíbrio ecológico; não percebe a força da globalização
implantando o livre comércio, quebrando as fronteiras nacionais; nem a
realidade da economia atual, onde o principal fator de produção é o
conhecimento, não o capital financeiro nem os recursos naturais.”
E mais não
precisava dizer.
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