PMDB, UM CIRINEU
Caminha
a presidente Dilma por essa via dolorosa que ainda ontem ela voltou a definir
como caminho do golpe, exercitando-se para não reconhecer que, na verdade, está
andando em cima de buracos abertos por picaretas e resvalando em abismos
construídos pelas muitas picaretagens de sua própria gente. Está disposta a
camuflar a herança que já seria muito pesada, mesmo que não se devesse a ela
alguns acréscimos às suspeitas e ao emaranhado de denúncias que o Lava Jato faz
sangrar.
(Mas
na intimidade da inevitável consciência do fim da noite, longe das câmeras, a
presidente deve saber que parte de suas dificuldades está exatamente nesse
imenso esforço para transferir aos contrários os pecados que começaram e
prosperaram na copa e cozinha do governo de seu antecessor).
Seja
como for, à medida em que as costas presidenciais vão se esfolando sob o
chicote da crise e ela perdendo o fôlego para carregar a cruz, é preciso
agarrar o Cirineu mais próximo do seu Calvário, o velho PMDB, que vem de uma
tradição de socorrer aflitos que sangram, mas farisaicamente cobrando caro para
desempenhar esse papel. Ao governo o partido nada mais oferece além da
expectativa de uma solução prevista para o dia 29. Desembarca da
solidariedade circunstancial ou fica? O que se diz em Brasília é que 60% dos
votos do diretório nacional são pela ruptura com um governo que entendem
já irremediavelmente soçobrado. Contudo, em se tratando do PMDB, ideal é
uma certa dose de cautela. Fica a dúvida para o dia 29. Qual será o papel do
partido? O Cirineu solidário na agonia ou Pilatos que lava as mãos, nada tem a
ver com isso e manda crucificar?
CULPADA DE SEMPRE
Seria
injusto e manifesta ignorância histórica acusar a presidente Dilma de inovar,
quando atribui à mídia a responsabilidade por arrastar o País para a crise em
que encontra; crise de tal forma grave, que se torna impossível prever solução
próxima. Não é ela a primeira, nem será única a apelar para esse discurso, pois
antes a tal receituário muitas vezes recorreram políticos em maus lençóis.
Houve uma dirigente partidária, deputada Ivete Vargas, do PTB, que produzia um
libelo diário contra os jornalistas. História antiga.
A
presidente Dilma faz lembrar certos reis da Antiguidade, que mandavam matar os
mensageiros de más notícias. Bastava o cavaleiro chegar para dizer que a
batalha estava perdida. Matem o sujeito que traz notícias inconvenientes.
ESSENCIAL E PERIFÉRICO
Voltamos
à presidente Dilma, certamente a maior e mais generosa fonte de novidades. De
novo ela desafia nossa memória em relação ao grampo com que a polícia,
autorizada, gravou o conteúdo de um telefonema seu com o ex-presidente Lula na
outra ponta da ligação. Ameaçou ela: “Façam isso nos Estados Unidos e vejam o
que acontece”. Pois se fez. Um telefonema grampeado do presidente Richard Nixon
só não lhe custou o impeachment porque ele renunciou antes.
Outro
aspecto em torno do mesmo episódio é que ela e o governo falam apenas da
divulgação do diálogo Dilma – Lula, uma publicação que é realmente discutível.
A Justiça pode ter exorbitado. Mas nada se fala sobre o essencial da gravação,
que é muito mais grave, pois oferece o mais importante e influente ministério a
alguém que precisava disso para escapar da prisão iminente. Isso é muito mais
sério que a quebra de discutível privacidade. Não se tratava de conversa de
portadores de paixões discretas ou namoros em risco, mas assunto de relevância
nacional.
TUDO PODE PIORAR
Velhos
irlandeses e chineses, e depois deles muitos outros povos buscaram suas
seculares experiências para ensinar o necessário comedimento nas queixas.
Diziam eles e dizemos nós hoje que nada na vida é tão ruim que não possa
piorar. Lembremo-nos disso quando se dá conta de estarem reunidos em Brasília
Renan Calheiros, Lula e José Sarney, este há tempos esquecido, cuja
ressurreição vem fora de hora. O que tramam esses sumos sacerdotes no Sinédrio?
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