quinta-feira, 24 de março de 2016






PMDB, UM CIRINEU


Caminha a presidente Dilma por essa via dolorosa que ainda ontem ela voltou a definir como caminho do golpe, exercitando-se para não reconhecer que, na verdade, está andando em cima de buracos abertos por picaretas e resvalando em abismos construídos pelas muitas picaretagens de sua própria gente. Está disposta a camuflar a herança que já seria muito pesada, mesmo que não se devesse a ela alguns acréscimos às suspeitas e ao emaranhado de denúncias que o Lava Jato faz sangrar.

(Mas na intimidade da inevitável consciência do fim da noite, longe das câmeras, a presidente deve saber que parte de suas dificuldades está exatamente nesse imenso esforço para transferir aos contrários os pecados que começaram e prosperaram na copa e cozinha do governo de seu antecessor).

Seja como for, à  medida em que as costas presidenciais vão se esfolando sob o chicote da crise e ela perdendo o fôlego para carregar a cruz, é preciso agarrar o Cirineu mais próximo do seu Calvário, o velho PMDB, que vem de uma tradição de socorrer aflitos que sangram, mas farisaicamente cobrando caro para desempenhar esse papel. Ao governo o partido nada mais oferece além da expectativa de uma solução prevista  para o dia 29. Desembarca da solidariedade circunstancial ou fica? O que se diz em Brasília é que 60% dos votos do diretório nacional são pela ruptura com um governo que entendem  já irremediavelmente soçobrado. Contudo, em se tratando do PMDB, ideal é uma certa dose de cautela. Fica a dúvida para o dia 29. Qual será o papel do partido? O Cirineu solidário na agonia ou Pilatos que lava as mãos, nada tem a ver com isso e manda crucificar?



CULPADA DE SEMPRE


Seria injusto e manifesta ignorância histórica acusar a presidente Dilma de inovar, quando atribui à mídia a responsabilidade por arrastar o País para a crise em que encontra; crise de tal forma grave, que se torna impossível prever solução próxima. Não é ela a primeira, nem será única a apelar para esse discurso, pois antes a tal receituário muitas vezes recorreram políticos em maus lençóis. Houve uma dirigente partidária, deputada Ivete Vargas, do PTB, que produzia um libelo diário contra os jornalistas. História antiga. 

A presidente Dilma faz lembrar certos reis da Antiguidade, que mandavam matar os mensageiros de más notícias. Bastava o cavaleiro chegar para dizer que a batalha estava perdida. Matem o sujeito que traz notícias inconvenientes.



ESSENCIAL E PERIFÉRICO


Voltamos à presidente Dilma, certamente a maior e mais generosa fonte de novidades. De novo ela desafia nossa memória em relação ao grampo com que a polícia, autorizada, gravou o conteúdo de um telefonema seu com o ex-presidente Lula na outra ponta da ligação. Ameaçou ela: “Façam isso nos Estados Unidos e vejam o que acontece”. Pois se fez. Um telefonema grampeado do presidente Richard Nixon só não lhe custou o impeachment porque  ele renunciou antes.

Outro aspecto em torno do mesmo episódio é que ela e o governo falam apenas da divulgação do diálogo Dilma – Lula, uma publicação que é realmente discutível. A Justiça pode ter exorbitado. Mas nada se fala sobre o essencial da gravação, que é muito mais grave, pois oferece o mais importante e influente ministério a alguém que precisava disso para escapar da prisão iminente. Isso é muito mais sério que a quebra de discutível privacidade. Não se tratava de conversa de portadores de paixões discretas ou namoros em risco, mas assunto de relevância nacional.


 TUDO PODE PIORAR


Velhos irlandeses e chineses, e depois deles muitos outros povos buscaram suas seculares experiências para ensinar o necessário comedimento nas queixas. Diziam eles e dizemos nós hoje que nada na vida é tão ruim que não possa piorar. Lembremo-nos disso quando se dá conta de estarem reunidos em Brasília Renan Calheiros, Lula e José Sarney, este há tempos esquecido, cuja ressurreição vem fora de hora. O que tramam esses sumos sacerdotes no Sinédrio?    





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