DOENTE TERMINAL
A
sabedoria de uma nação (não é de hoje que se fala) só pode ser medida com a sua
capacidade de aprender as lições das tragédias que o destino coloca à sua
frente. Em cada tropeço há uma razão para corrigir a rota da caminhada.
Até porque, tanto para os povos como para as individualidades é caminhando que
se descobre o caminho. Tudo isto para dizer que é da atual crise, grave crise,
que o Brasil tem de extrair proveitosas lições. Uma delas, talvez a mais
importante de todas, é que se exauriu, esgotou-se esse presidencialismo fajuto,
que se baseia no modelo de coalizão clientelista e cartorial. Não dá mais para
conviver com os vícios tão antigos que já eram objeto de preocupação de Rui: “O
presidencialismo brasileiro não é se não a ditadura do estado crônico, a
irresponsabilidade geral, a irresponsabilidade sistemática do Poder Executivo”.
Não há negá-lo.
À
antiga inconveniência que Rui identificou somaram-se outras como obra do tempo
e dos modos. Crises em cima de crises produziram nesse presidencialismo, há
muito em estado terminal, uma quase secular intranquilidade social. As
instituições e a política no Brasil vivem aos solavancos. É preciso romper com
essa nefasta tradição.
Amanhã
dona Dilma entra em recesso de seis meses, que certamente se estenderão por
dois anos. Mas a desejada saída não pode desconhecer que estamos
inaugurando mais uma temporada de sacrifícios, porque é largo e fundo o rombo
que ela vai deixar e que promete ampliar numa onda de oposição sistemática. Mas
valerá o sacrifício se começarmos a enterrar o presidencialismo velho e
velhaco. Melhor ainda se caminharmos para o ideal, que é o parlamentarismo.
CRUELDADE
A
política, quando mergulhada no jogo de interesses desenfreado, é capaz de
perder a medida das maldades, que se tornam incontroláveis, capazes de tudo.
Agora, num derradeiro e desesperado esforço para ficar de pé em muletas, o
governo, através do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, aproveita-se
de um despreparado, acidentalmente presidente da Câmara dos Deputados, para
arquitetar a monstruosidade de sustar o julgamento do impeachment da presidente
da República, matéria vencida naquele âmbito legislativo, mas já sob a
responsabilidade do Senado Federal. Empurraram o pobre deputado Waldir Maranhão
numa cilada; certamente ele para esse papel, próximo do simplório, espécie de
pau-mandado, imune ao ridículo, universal modelo do trabalho servil. E o colocam
como protagonista de uma encenação bufa, que horrorizou a todos, até mesmo a um
Renan. Imaginem.
Os
governistas que patrocinaram esse ridículo expuseram seu arsenal de crueldade.
Pecado capital e imperdoável por terem usado e abusado de um pobre coitado que
sai do episódio como um bobão.
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