segunda-feira, 30 de maio de 2016






ILUSTRES E POUCO CONHECIDOS 




O Instituto Histórico, celebra hoje o 166º aniversário da emancipação política de Juiz de Fora. O que inclui reverenciar a memória de juiz-foranos lustres e pouco conhecidos. Três dos nossos historiadores, Paulino de Oliveira, Jair Lessa e Sinval Santiago consideravam que Juiz de Fora faltou com a história e com a justiça por não exaltarem convenientemente o Barão da Bertioga, pelo muito que fez aqui. Lindolfo Gomes achava até que a cidade devia, por isso, chamar-se Bertioga, que não apenas destinou sua imensa fortuna à Santa Casa como inscreveu seu nome em notáveis realizações.

São muitos os ilustres não suficientemente conhecidos e homenageados. Começamos por lembrar, pelo oportuno, que neste fim de maio transcorreu o centenário de nascimento de Jurandy Noronha, juiz-forano falecido no ano passado, e que se tornou pai da história cinematográfica do Brasil. Produziu “No tempo da manivela”, com filmes do período 1889-1930, e criou o Dicionário do Cinema Brasileiro.  Ninguém aqui ficou sabendo de sua morte, como não sabia de sua vida.

Ainda para falar apenas sobre aqueles de que pouco ou nada a cidade sabe, é mister citar o maestro Francisco Vale, que nasceu aqui em 1869. Por recomendação pessoal de Dom Pedro II  estudou em Paris, na École Cantorum, aluno do grande César Franck. Elogiado por Massenet, ouviu do maestro Mancinelli este elogio: “Você está tomado pelo espírito de Mozart”. Foi autor de fugas, sonatas e “Bailado na Roça”, sua obra principal. Em 10 de outubro de 1906, depois de pronunciar conferência no Clube Juiz de Fora, suicidou-se, confiando às águas do Paraibuna a vida, a depressão e suas obras imortais.

Outro nome é Hélio Lobo, que nasceu em Juiz de Fora 1883, bacharelando-se no Rio de Janeiro, chegando a ocupar cadeira na Academia Brasileira de Letras, uma das três que couberam a juiz-foranos. Nesta cidade escreveu seu primeiro livro, “Sabres e Togas”. Integrou o Tribunal Arbitral Brasil-Peru antes de assumir várias missões diplomáticas, algumas delas envolvendo questões sensíveis nas relações entre povos. Para tais missões esteve na França, Estados Unidos, Holanda, Inglaterra, Uruguai.  Sobre esse juiz-forano disse Otávio Mangabeira: “Um dos melhores homens que conheci em minha vida”.

Um detalhe que vale registrar: servindo na Holanda em 1932, recusou-se a dar visto diplomático para o embarque de armas e munições de que se valeria o governo Vargas para atacar os constitucionalistas de São Paulo. Não aceitaria, disse ele, contribuir para a morte de jovens idealistas.

Uma palavra sobre Frederico Carlos Hohne, que eu diria ser o mais desconhecido entre os juiz-foranos ilustres de todos os tempos. Viveu e sobreviveu indicado como um das personalidades da América Latina mais respeitadas no campo da ciência natural. Nasceu aqui em 1882, na Colônia de São Pedro. Menino, já revelando pendores para o universo das plantas, descia a rua Halfeld vendendo orquídeas, e por isso era por muitos chamado “o alemãozinho das parasitas”. Depois de estudar no Granbery foi para o Rio, onde começou chefiando os jardineiros da Quinta da Boa Vista. Cresceu, mostrou grandes conhecimentos, e com o marechal Rondon embrenhou-se Mato Grosso e  Amazonas a dentro, como primeiro entre os naturalistas da expedição. Nessas andanças perigosas recolheu para o Museu Nacional as amostras de mais de duas mil plantas medicinais. Por indicação do Itamaraty, integrou a Expedição Científica Roosevelt. Valendo-se de seus conhecimentos escreveu vários livros sobre ciência natural e se tornou professor convidado de 10 academias dos Estados Unidos e Europa. Em São Paulo, uma pesquisa de jornais o consagrou como “a pessoa mais notável do Brasil” nos anos 20.

Inesquecível, nesta noite em que reverenciamos juiz-foranos de prestígio internacional, mas nem por isso suficientemente celebrados, é José Lemos Monteiro da Silva, que ficou consagrado como pai da Infectologia na América Latina nos anos 30 e Mártir da Ciência. Nasceu aqui em 1897 e morreu aos 42 anos, quando se deixou infectar no Instituto Oswaldo Cruz, durante pesquisas finais com o Richettssia Brasilieneses, para ampliar os conhecimentos sobre a picada de carrapatos. José Lemos, mesmo tão prematuramente falecido, deixou estudos fundamentais para o combate à febre amarela, o tifo e a varíola. Sobre essas enfermidades escreveu cerca de 70 livros.

De prestígio internacional, este agora contemporâneo de nosso dias, foi o padre Leopoldo Krieger, cujos trabalhos no campo da citologia vegetal foram e ainda são citados em todo o mundo. Doutor pela Universidade de Munsten, na Alemanha, foi aqui, na Academia de Comércio, que se tornou pioneiro no emprego de microscópio eletrônico para o estudo das células vegetais, utilizando-se de samambaias. Krieger levantou 25 mil espécies de plantas em Ibitipoca, o que significou o maior trabalho do mundo nesse gênero em área restrita.

Por fim, e entre tantos, uma reverência ao juiz-forano Domingos Vidal, nosso homem na Conjuração Mineira. Nasceu em 1761 na fazenda do juiz de fora, formou-se em Medicina em  Montpelier, especializando-se depois em cirurgia em Bordeaux. Estando de volta, ele se entusiasmou pelas ideias libertárias; essas mesmas ideias dos amigos de Tiradentes que os ventos  de Vila Rica vinham soprar nas margens do Paraibuna. Degredado, foi morrer em Cabo Verde, na África, provavelmente de febre tifóide. No Instituto Histórico de Juiz de Fora, em 1986, quando se falava sobre o nome da cidade, houve quem sugerisse que ela se chamasse Domingos Vidal.  

Pode-se falar sobre outros juiz-foranos nascidos ou aqui acolhidos, cujo prestígio e sabedoria avançaram além dos limites do município. Como o jurista João Luiz Alves, da Academia Brasileira de Letras; Rocha Lagoa, que chegou à fórmula para a produção do leite em pó; Hermenegildo Villaça, patrono da cirurgia em Minas; Mauri Pinto de Oliveira, que colocou sua sala de pesquisas na vanguarda da malacologia e da vida dos moluscos; Franz Hochleitner, o austríaco que acaba de chegar aos 100 anos, e que fez de Juiz de Fora referência internacional na decifração dos código dos maias e sua histórica Porta do Sol.


Como disse, inspirou esta breve reflexão o desejo de reverenciar vultos que pontificaram no passado, foram ilustríssimos nas atividades a que se dedicaram e levaram alto e longe o nome da cidade em que nasceram ou que, vindos de outras terras, foram aqui acolhidos, embora ainda a merecer as homenagens que lhes são devidas. 





Nenhum comentário:

Postar um comentário