NOS ANOS 60
No auge da crise gerada pela
renúncia do presidente Jânio Quadros e a acidentada chegada do governo João
Goulart, configurando um dos momentos mais graves da história republicana, o
deputado mineiro Paulo Pinheiro Chagas disse algo que remete Michel Temer
àquele tempo. Dizia ele que havia sido organizado um Ministério “as carreiras”,
nele havendo figuras ilustres, “mas a verdade é que tomado no seu conjunto é
heterogêneo e amorfo”. Queixava-se da velha e nunca negada subserviência dos
governos às imposições políticas do momento. Tal qual.
Chagas falava também do perigo do
clima instalado com a caça aos corruptos, muitos dos quais tendo como caçadores
os que haviam praticado os mesmos crimes que pretendem apurar. Os caçadores que
deviam ser caçados e depois cassados. Na hora em que o País corre o risco de se
reduzir apenas a uma imensa sindicância, cumpre então advertir que o vício e a
virtude não trocam de nome só porque mudaram de partido.
Quando se procede à
nacionalização da devassa e da delação premiada, haja cuidado com os interesses
paroquiais. Vale indagar se a apuração e a condenação são do interesse
nacional, e neste caso têm de ser levadas à frente e com rigor. Mas não pode a
Nação chegar ao ponto de ter de dizer como madame Roland: “Ó, austeridade,
quantos crimes se cometem em teu nome”, como lembrou Chagas no seu ”Velho
vento da aventura”.
Os cuidados têm de ser redobrados
para que a delação não esteja erigida em sistema e a suspeita transformada em
crime.
2 – Os discursos dos novos
ministros se referem a medidas a serem tomadas a longo prazo, com implicações
que têm pouco a ver com um curto governo que pode ter apenas seis meses, enquanto
Dona Dilma afastada se defende. O que permite imaginar que Temer e sua equipe
consideram aquela senhora definitivamente afastada. Henrique Meireles, por
exemplo, joga projetos e soluções para uma década. Certamente está entre os que
não esperam mais ver Dilma pela frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário