domingo, 12 de fevereiro de 2012

O que o mineiro não diz, dizendo?

Esta queixa vem de muitos lugares, mas principalmente dos gaúchos e dos paulistas: não é fácil saber exatamente o que um mineiro quis dizer além das palavras que acaba de pronunciar, como também temem seu excessivo cuidado em assumir posições. É o que tem levado nosso político a navegar entre a crítica e o anedotário, algumas vezes até para lhe negar confiança, como a ex-governadora do Rio Grande, Yeda Crusius, sobre certa indefinição do ministro Eliseu Resende: “Ele é bom, mas é muito mineiro”. Então, segurar um montanhês seria como tentar segurar um peixe ensaboado.
Hoje, quando se fala nas questões nacionais que envolvem decisão tão necessária quanto rápida, costuma-se recomendar cuidado com o que dizem os representantes do estado, não exatamente porque comprometem a verdade, mas porque é preciso saber o que está por trás do que ele diz. Não é de hoje. Guimarães Rosa teria recomendado o mesmo cuidado. Mineiro quando diz “vou chegando” é porque, na verdade, está saindo...
O ex-ministro Saulo Ramos, que escreveu o excelente “Código da Vida”, foi quem melhor descreveu essa peculiaridade, que tem na conta de alta inteligência. Lê-se na página 88:
“O mineiro diz, mas não diz exatamente o que quer dizer. De tal forma, que somos levados a afirmar que disse. A ciência está em aferir o que o mineiro não diz quando está dizendo, e entender a outra coisa que está querendo que você saiba.”


Dilma na mira
do fogo amigo

A semana não chegou com promessa de dias mais calmos para a presidente Dilma. Não propriamente por causa da oposição, que tem preferido deixar o tempo passar. O fogo vem é de dentro do próprio palácio e da bancada que tem obrigação de defendê-la. A começar pelos evangélicos, que veem o governo simpático a duas coisas que seus pastores não admitem e não colocam como tema de negociação: o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. As pressões, até agora feitas com certa reserva, passaram para o campo da ameaça pública de hostilidade, com grave risco de ganhar caráter de contencioso político a dois temas delicados. Os pentecostais já tem seu primeiro alvo: Fernando Haddad, candidato de Dilma à prefeitura de S.Paulo. Vão atacá-lo.
Não bastasse, o PMDB vai retomando o discurso queixoso em relação a cargos. O partido se considera desprestigiado, e arrasta o descontentamento regional, quando lembra que os 11 melhores ministérios não apenas estão com os petistas, mas com petistas de São Paulo.
Não param aí as preocupações. No encontro nacional que marcou seus 32 anos, o PT fez severa e justa crítica ao senador José Sarney, mas destinada a levar constrangimento à presidente.


Na privatização,
“la même chose”


Não têm razão os que querem crucificar o PT pelo fato de seu governo entregar à iniciativa privada três dos mais importantes aeroportos do País, ainda que o partido esteja engolindo seco o mesmo caroço que o repugnava nos tempos de Fernando Henrique. Agora, eles e os tucanos são aliados do pragmatismo, para confirmar o economista Gilberto Ramos: a esquerda nada mais é que a direita quando está fora do poder. Delfim Neto não via de outra maneira: “nada é mais parecido com o governo do que a oposição no governo”.
Seria impossível cobrar da presidente que deixasse de fazer o que a sensatez recomendava, sem apelos gratuitos à ideologização, mas com pés e mãos na realidade.
Se alguma coisa se pode criticar na reação dos petistas é sua incursão na semântica. Dizem: o que se fez foi concessão, não privatização; como se isso alterasse essencialmente os investimentos e os lucros que entram na história dos aeroportos.
Chegam certas horas que os governos são muito iguais. Quem estudou no velho Machado Sobrinho, na década de 50, pode ter na lembrança uma frase favorita do professor de francês, Francisco Bedendo, para cobrar análise gramatical de seus alunos: “Plus ça change, plus c'est la même chose”. Quanto mais muda, mais é a mesma coisa.



Vizinho de risco

A greve da Polícia Militar baiana, que perdeu a compostura quando virou arruaça, serviu para despertar a atenção do governo, que tem a responsabilidade de impedir que o problema se alastre, sem embargo da legitimidade da queixa quanto aos soldos, pois os PMs ganham miséria. Foram logo tomadas medidas de precaução, inclusive com o estado de alerta entre algumas tropas do Exército. Em Juiz de Fora, sede da 4a Brigada de Infantaria Motorizada, 3.500 homens estão de prontidão, e descem para o Rio, se a PM partir para a greve.


Descompasso

Do jeito como andaram as expectativas em torno de um acordo entre o PMDB e o governador, a previsão era que alguns peemedebistas da cidade fossem saudar Anastasia, quando, sábado, ele desembarcou na Serrinha e foi inaugurar o armazém distribuidor da Bahamas. Como não apareceu qualquer representante do partido para as honras de estilo, vê-se que a aproximação fracassou mesmo. Teria vindo ordem de cima para se prestigiar o desembarque.

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De Memória

Sem mulheres

Do jeito como foi projetado e construído o Fórum, nos anos 60, no pavimento destinado às sessões do Tribunal do Júri não foram criadas instalações sanitárias para mulheres. Para evitar que vivessem situações de constrangimento, o juiz Sidney Afonso determinou, em dezembro de 1979, que elas não mais fizessem parte dos sorteios para a definição do corpo de jurados. O caso ganhou grande repercussão, pois foi o primeiro de que se teve notícia. Mas elas não entenderam a decisão como fidalguia, e 30 advogadas e estudantes promoveram um protesto contra a medida ”machista e discriminadora”, embora um levantamento entre advogados e promotores indicassem que 90% das mulheres, sempre que sorteadas, pediam para serem dispensadas.

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(( Esta coluna está na edição desta segunda-feira do TER NOTÍCIAS ))

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