quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Solidariedade e Poder



No semestre passado, o Partido dos Trabalhadores investiu no projeto de jogar tudo que era possível em novo destino para o ex-presidente Lula; nele e na sua imagem de mártir, o que se fez com um numeroso e amplo arsenal de recursos jurídicos para libertá-lo, ainda que ciente das escassas possibilidades de êxito. Os obstáculos existiam, como ainda existem, nesse triângulo francamente hostil e intolerante em relação ao chefe petista: Curitiba-Porto Alegre-Brasília. O próximo julgamento, rumoroso caso do sítio de Atibaia, reafirmará essa versão nacional do outro triângulo, o de Bermudas. Caindo ali, não há salvação.

Observadores pragmáticos, que não desprezam a solidariedade dos petistas àquele que é o maior dentre eles, lembram que esse sentimento não pode nem deve excluir alguma preocupação com a reorganização da estrutura partidária, que acaba de sair gravemente avariada da eleição de outubro. Não se pode ignorar isso; mais ainda: sem achar que basta xingar o presidente eleito, rotulando-o de nazista ou trumpista. Esse discurso é insuficiente, principalmente quando se desperta para o risco de o PT se ver desalojado do papel de líder natural da oposição a Bolsonaro. Se perder muito tempo, o script pode acabar caindo em outras mãos.




FHC didático

Ressalvando que não pretende dar conselhos a um governo do qual não participa e não ajudou a se formar, o ex-presidente Fernando Henrique nem se nega a mostrar o caminho que lhe parece único para viabilizar a polêmica reforma da Previdência: ir, com fé e coragem, à opinião pública, enfrentá-la, e explicar, paciente e didaticamente, o objetivo dessa proposta. Garante que sem apoio popular a matéria não avança. Inútil tentar.
FHC lembra a experiência que viveu com o Plano Real. Foi preciso falar diretamente ao povo e explicar tudo com minudências.


Consultoria

Com tantos novatos entrando em campo na política, às voltas com o que andaram prometendo, parece promissor, no futuro imediato, um projeto de consultoria. O deputado federal Marcus Pestana, do alto comando do tucanato, não se reelegeu, depois de quatro mandatos. Não deixará Brasília, nem voltará a lecionar Economia para universitários. Quer montar consultoria para políticos e empresários.


Pelo gênero

Tão logo seja possível definir, com detalhes, o perfil da nova bancada feminina na Câmara, a disposição será o ataque frontal ao comportamento do governo Bolsonaro quanto às distinções de gênero. Algumas entidades feministas, mais antigas, vão cair em campo para retomar suas lutas. Começando por jogar os bancos na ciranda, com a denúncia de que apenas 20% das funcionárias qualificadas nas agências conseguem atingir os postos de chefia. Para não repetir o que já denunciaram: nada mais machista que os contracheques, sempre 40% mais pobres para as mulheres.


Dia de ressaca

Ficou claro ( quem contestaria?) que esteve longe de ser expressiva a presença de delegações estrangeiras na festa de posse do presidente Bolsonaro. Em parte porque o novo governo, antes mesmo de começar, não se fez de rogado para construir indisposições em algumas capitais. Mas é certo que também influiu o fato de a solenidade se dar no Dia da Fraternidade Universal, de difícil deslocamento, além de compromissos familiares e de comemorações pelo resto do mundo.
É preciso retomar a discussão da PEC | 51, de 2003, que fixa a posse do presidente na segunda quinzena de dezembro.


Palavras em crise

Estes novos tempos, com as crises que vão produzindo, apreciam desfigurar o sentido natural das palavras. O indulto chamado De Natal ficou para outro dia. O 13º salário, também inspirado em abono natalino, por causa dos cofres indigentes, vai ser diluído em meses que nada têm a ver com papai noel.
No curso de palavras ao vento, dona Domares Alves, ministra, manifesta-se “tremendamente” cristã. E, no Rio, “abate”, até agora usado para definir o destino de gado confinado, transformou-se em sentença fatal para o governo enfrentar criminosos.
É preciso restituir o verdadeiro significado das palavras, já ensinava Julian Marías.





"Ser presidente é ofício mais exigente do que se pensa. Os que têm personalidade normal não deviam aspirar a isso."

Steve Pieczenik, psiquiatra de presidentes americanos

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