quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

 

Eleição 2024 em pauta ( LXI )

PECULIARIDADES

Quem conhece bem a política da cidade lembra que, em termos de eleição para prefeitura, ocorrem algumas peculiaridades. Um curioso cita o período da Nova República ( a partir de 1985 ): com o processo de redemocratização do país várias forças política foram emergindo país afora.

Juiz de Fora já tinha Tarcísio Delgado como prefeito desde 1983, pelo MDB, partido que obteve ampla vitória nas eleições de 1982. Ele teve o primeiro mandato de seis anos ( gestão "Todos Juntos" ), e não elegeu sucessor nas eleições de 88. Tarcisio apoiou a chapa do MDB, sendo Murílio Híngel para prefeito, e Margarida Salomão para vice, ambos ex-secretários municipais de sua gestão. Outro concorrente à época foi Custódio Mattos (PSDB), também ex-secretário municipal da mesma gestão. Com o racha do grupo tarcisista a vitória foi do radialista Alberto Bejani, novato na política local.

PECULIARIDADES (II)

Tarcísio e seus antigos secretários governaram o município por maior parte do tempo desde 1983; nesse período, de aproximadamente quatro décadas, ele se elegeu para três mandatos, Custódio se elegeu para dois, e Margarida se elegeu para um mandato. Com outras origens políticas, Bejani e Bruno Siqueira se elegeram para dois mandatos cada um. Outro dado interessante: o eleitor juiz-forano gosta de reeleger prefeito. Considerando tal premissa, a prefeita Margarida tem o favoritismo para a eleição de outubro.

( Na verdade, a tendência para a repetição já vinha dos anos 50, quando Olavo Costa e Adhemar Andrade sucederam-se por 16 anos ).

Outro aspecto, analisado pelo atento analista, é a repetição das profissões de vice-prefeitos eleitos no citado período. Em sua maioria médicos, atuantes na política, mas que não conseguiram se tornar prefeitos. A maioria dos vices (médicos de profissão) também foram majoritariamente vereadores: João Carlos Arantes, Ivam de Castro, Eduardo de Freitas, Antônio Almas. O médico Sebastião Helvécio foi várias vezes deputado estadual, e também vice-prefeito. Já o médico João César Novais sempre foi dirigente partidário no MDB, e também vice-prefeito.

VICE MÉDICO

Assunto que os interessados têm procurado deixar longe do noticiário, sem poder negar o fundamento: a sucessão municipal de Juiz de Fora é objeto de conversas no gabinete do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco; ele cada dia mais candidato a governador de Minas. Tem sido conversado, com simpatia, a possibilidade de o vereador Antônio Aguiar tornar-se vice na chapa da prefeita Margarida.

Seria manter a tradição de um médico na vice.

POLARIZAÇÃO

A deputada estadual Sheila Oliveira e o ex-deputado federal Charlles Evangelista registram, nas redes sociais, a presença deles no ato político ocorrido na Avenida Paulista, em São Paulo, domingo passado, onde o protagonista do evento foi o ex-presidente Bolsonaro.

Charlles é pré-candidato a prefeito pelo PL, o mesmo do ex-presidente. Ele e a deputada aparecem em fotos e vídeos vestidos em verde e amarelo, em meio à multidão bolsonarista.

Evangelista faz questão de mostrar que é seguidor do ex-presidente, e fará uma campanha eleitoral com o viés da polarização com o PT.

JANELA PARTIDÁRIA

Vereadores que serão candidatos neste ano têm prazo de 7 de março a 5 de abril para mudar de partido. A escolha de nova sigla não afeta mandatos do ponto de vista legal. O prazo, conhecido como janela partidária, é esperado com ansiedade na Câmara.

As negociações das legendas com os vereadores dispostos a concorrer por novo partido, segundo se ouve dizer, envolvem propostas variadas, podendo até surgir garantias de financiamento da campanha eleitoral.

No caso de JF, conforme notícias de bastidores, espera-se a mudança de partido em torno de 80% pelos atuais 19 membros do Legislativo Municipal

ALIANÇA POLÍTICA

O Partido Social Democrático de Minas Gerais (PSD-MG) anunciou, na segunda-feira, a pré-candidatura de Fuad Noman para disputar a prefeitura de Belo Horizonte. Fuad é prefeito hoje, devido a renúncia de Alexandre Kalil, em 2022, para ser candidato a governador, com o apoio do PT mineiro. Kalil, embora derrotado em primeiro turno pelo governador Zema, teve boa votação.

Especula-se nos meios políticos da capital que o senador Rodrigo Pacheco tem interesse numa aliança com o PT/MG, nas eleições municipais e na de 2026.

E BH está na pauta das conversações. O PT tem com pré-candidato a prefeito o deputado federal Rogério Correia. Mas o presidente Lula quer um acordo com o PSD desde já, e sinaliza a possibilidade de apoiar Pacheco para governador.

IMPEACHMENT

O pedido de impeachment do presidente Lula havia reunido 134 assinaturas de deputados até o início da tarde do 21. Entre as assinaturas está a da deputada federal Ione Barbosa (Avante), com base eleitoral em Juiz de Fora.

Através de sua assessoria, ela divulgou que esteve reunida com parlamentares da Frente Evangélica, e decidiu assinar o pedido de impeachment do presidente pelas declarações contra Israel, feitas durante viagem à Etiópia.

Para a deputada, Lula atacou de forma direta o povo judeu, quando comparou os ataques de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto..

"A fala do presidente é algo que deve ser condenado. O mínimo que se espera é uma retratação urgente. Aqui na Câmara dos Deputados, estamos fazendo a nossa parte".

Apesar da mobilização, aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dizem que são nulas as chances de ele encaminhar o pedido de impeachment. Cabe ao presidente da Câmara aceitar ou não a denúncia e abrir o processo.

Passam-se s 94 anos. Em 1930 a cidade estava motivada com a chegada do primeiro dia de março, quando seriam realizadas eleições para presidente e vice-presidente da República, um senador e deputados federais. Naquele dia aviões do governo sobrevoaram a zona central, espalhando panfletos, convidando a população a votar em Júlio Prestes para presidente, esperança que nunca se concretizaria, porque Júlio só foi indicado depois que se sacrificou a candidatura de Antônio Carlos, que era da cidade. Disputava com Getúlio Vargas. As urnas de Juiz de Fora deram o recado: Getúlio, 3.198 votos; Júlio Prestes, 696.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

 

Um desencontro a resolver



((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))


As perturbações que se seguiram ao comentário do presidente Lula sobre o conflito na Faixa de Gaza, o que rendeu irremediável estremecimento das relações com Israel, têm tudo a exigir esforço para que situações dessa natureza não se repitam. Há algumas referências que podem contribuir para remover os riscos. Primeiramente, por demais óbvio, algo há muito tempo reclamado e recomendado é o alinhamento mais nítido no campo da política externa, acertando-se, minimamente, o que sobre ela pensa o presidente e, em outra via, o que pretende a experiência do Itamaraty. Lula tem no ministro aposentado Celso Amorim um orientador particular, inspirador. Já o ministério norteai-se pelas vias da técnica diplomática, onde uma das atenções básicas é não submeter-se a precipitações. O episódio da fala sobre a guerra entre judeus e os terroristas do Hamas deixou claro que o gabinete presidencial e a chancelaria trilham caminhos não coincidentes; pelo menos em dimensões desejadas. Aliás, visões diferentes e contraditórias sobre questões comuns figuram como outro ineditismo, entre os que o governo tem oferecido com frequência. Observemos, portanto, que nas questões com o mundo lá fora estamos diante de um desencontro a exigir acerto e simultaneidade, na forma e no conteúdo.

Outro ponto a avaliar, já que a questão em tela está em elaborar cuidados para que não se repitam desagradáveis incidentes, é o redobrado cuidado com os improvisos presidenciais. O improviso é, não raro, perigosa cilada para o homem público que nele se aventura. Fica na espeita, derruba o orador, principalmente quando a vítima incursiona em pálidos conhecimentos históricos de almanaque, tal como se deu na infeliz comparação da guerra atual com o Holocausto. Esse cuidado se acentua mais ainda, quando se leva em conta a disposição de Lula de levantar voo, e falar para o mundo o que pensa. Alguns homens experientes, que estiveram naquela cadeira, temiam os pronunciamentos em cima da hora, o excesso de confiança na memória e no talento verbal. Dizia-se que o melhor improviso é o que vem no bolso, alinhavado com horas de antecedência.

Passados vários dias da tragédia diplomática, a poeira insiste em não baixar. Para tanto, o que mais contribuiu foi o governo israelense considerar persona não grata o presidente brasileiro. Excedeu-se. Quase como um convite à suspensão temporária das relações entre os dois países. É preciso observar que, chegado o clima a esse nível, sem a disposição bilateral de pedido de desculpas, há apenas um remédio na prateleira da diplomacia: adotar o silêncio e o recolhimento, evitar novos comentários, e esperar que o tempo cuide das feridas. Esse tempo há de chegar, certamente, porque Brasil e Israel têm tradição de convivência respeitosa. Amigos de longa data, quando Lula e Natanayahu apenas acabavam de nascer.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

 

Eleição 2024 em pauta (LX)

"RACHADINHA"

O jornal “Tribuna de Minas” publicou matéria, na semana passada, sob o título "Ex-vereador é condenado a 31 anos por "rachadinha". É Luiz Carlos dos Santos, eleito vereador em 2008 como Dr. Luiz Carlos, pelo antigo PTC. Teve apenas um mandato de vereador, 2009-2012. Acaba de ser condenado por crime de peculato – “quando o agente ou funcionário público se apropria de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou o desvia, em proveito próprio ou alheio”.

A denúncia do Ministério Público o acusa de se apropriar de partes da remuneração que era paga, pela Câmara, aos funcionários nomeados por ele como assessores parlamentares.

Além da pena de reclusão de 31 anos, nove meses e dez dias de regime fechado, a sentença, assinada pela juíza Rosângela Cunha Fernandes, da 1ª Vara Criminal, também determina que ele pague multa. O advogado de defesa, Thiago Almeida, informou que “está ingressando com recurso de apelação e buscará, em segunda instância – e mediante o acionamento dos adequados mecanismos legais – a correção dos graves equívocos nos quais a decisão veio a incorrer”. O ex-vereador aguardará em liberdade, enquanto tramita o recurso em sua defesa.

RACHADINHA” (II)

Esse crime, conhecido como a suave "rachadinha", é uma forma de corrupção; uma prática amplamente conhecida nos bastidores dos poderes legislativos brasileiros, em todos os níveis, e em todos os tempos (inclusive nos dias atuais). Torna-se público, às vezes, quando de denúncia por parte de antigos colaboradores da assessoria dos políticos acusados desse crime.

Comentários foram ouvidos pois outros veículos, que também divulgaram a notícia. Uns entenderam a penalidade com a dosimetria elevada (quase 32 anos de reclusão), o que ensejará vários recursos às instâncias superiores, postergando decisão definitiva. Outros questionam o fato de ser um crime conhecido com pouca notícia de punição. Houve quem comentasse não ter conhecimento de um caso semelhante penalizando outro vereador da cidade.

PRÉ-CANDIDATURAS

O portal Congresso em Foco, que acompanha o cotidiano do Legislativo Federal, informa que a disputa pelas prefeituras poderá tirar cerca de 60 deputados federais e um senador (Eduardo Girão, CE), dos trabalhos legislativos no Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados conta com congressistas de 17 partidos como pré-candidatos em 2024, segundo levantamento do site.

As pré-candidaturas se concentram principalmente no Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Lula, e no Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro. São 12 deputados petistas que já articulam para serem candidatos às prefeituras. Entre os integrantes do PL, o número chega a 15.

No caso de Juiz de Fora temos a pré-candidatura da deputada Federal Ione Barbosa (Avante-MG).Ela está exercendo o primeiro mandato, obtido na eleição de 2022. Pelo que se ouviu dizer, o partido de Ione têm apenas duas pré-candidaturas para prefeituras, sendo Ione uma delas. Mas, deve-se lembrar que pré-candidatura é uma intenção, a ser concretizada ou não nas convenções partidárias no início do segundo semestre.

DEBATES

Se a oito meses da eleição já são sete os candidatos planejando disputar a prefeitura, é possível que sejam dez ou 11 até e eleição, o que permite lembrar que nunca chegou a um consenso a responsabilidade das emissoras de televisão ao organizar debates entre eles. Neste ano, certamente teremos de retomar o problema. Como fica a situação dos que entram na disputa?, mesmo sem a previsão de condições mínimas de um bom desempenho nas urnas. Porque também seus eleitores, ainda que em número reduzido, têm direito de saber o que pensam os candidatos.

Parece que vai prevalecer o critério de dar acesso aos programas apenas a quatro primeiros colocados nas pesquisas. Mas até que ponto as pesquisas são confiáveis? E por quanto tempo retratam a realidade eleitoral, sempre sujeitas a surpresas?

ABANDONO

O vereador Marlon Siqueira, através de redes sociais, denuncia o abandono das instalações do Parque de Exposições, e monstra, através das imagens de um vídeo, a situação de algumas edificações do local parcialmente em ruínas. Para ele, falta gestão da Secretaria de Agropecuária e Abastecimento: " Não querem trabalhar!" Ele lembra que a gestão do espaço está prevista em lei municipal, e, como vereador, vai cobrar isso, pois o patrimônio ainda está sob a responsabilidade da prefeitura.

O vereador recorda quando foi o titular dessa secretaria, no governo do prefeito Bruno Siqueira, e obteve o AVCB do Corpo de Bombeiros Militar, o que o espaço de exposições não tinha há 19 anos.

Marlon também destaca que recursos próprios dos proprietários rurais foram investidos para aquelas instalações, e cita, como exemplo, a depauperação do prédio do Clube do Cavalo.

DISPARIDADE

O jornal “O Pharol” publicou, em tom de crítica, que a prefeita fez nova mudança no secretariado, que volta a ter 17 homens e 12 mulheres". Lembra que, durante a campanha e após a eleição, ela havia prometido manter a paridade de gênero no primeiro escalão.

A matéria antevê que a disparidade entre homens e mulheres no secretariado deve ampliar com a saída de três mulheres, em abril, para se candidatar à Câmara.

A paridade na administração pública é meta do segmento político mais à esquerda. A intenção da prefeita foi cumprir esse objetivo, mas nem sempre é possível.

DISPARIDADE (II)

O governo Lula também tem sido criticado pela redução da participação feminina no governo (Esporte e Turismo), para ceder espaços aos partidos aliados no Congresso Nacional, e garantir a governabilidade. Acontece que os substitutos no ministério foram homens, indicados pelas legendas aliadas, ideologicamente mais à direita. Faz parte do jogo político.

Entretanto, quando abril chegar, esperam os críticos, a prefeita poderá recompor a participação feminina no seu staff, buscando a desejada paridade de gênero.

É antiga a discussão sobre o número ideal de parlamentares, muitas vezes prevalecendo o consenso de que não há necessidade de serem 513 na Câmara Federal. Nisso já se falava na década de 30, como se deu em uma das fugas do presidente Vargas para a fazenda São Mateus, onde apreciava descansar das pressões no Catete. Certa vez perguntou a Neca Venâncio, que tanto o divertia com suas tiradas pitorescas, a razão de defender a redução do número de cadeira na Câmara. Explicou o folclórico fazendeiro ser necessário economizar dinheiro: “é muito cachorro pra pouco osso”...

Não é questão para ser tratada com superficialidades, a começar por se constatar que nas bancadas legislativas o problema maior nunca foi a quantidade dos que estão ali; mas a qualidade deles. E no item da qualificação a responsabilidade é mais do eleitor, quando vota mal. E maus eleitores sempre haverá, mesmo que o número de candidatos coubesse nas duas mãos.