terça-feira, 31 de maio de 2016







CULTURA E VIOLÊNCIA


A violência urbana, que se amplia, não pode afetar os programas que a Funalfa vem promovendo em praças públicas, em nome do desejável acesso da população aos bens da cultura, independentemente dos níveis sociais que a constituem. É o que se espera.

No último fim de semana, evento realizado na Praça Antônio Carlos foi prejudicado por alguns desordeiros, que chegaram ao local embriagados; e se enfrentaram, com as consequências  já conhecidas.

A Funalfa também foi vítima do lamentável incidente, mas nem por isso deve abdicar de suas responsabilidades com a arte e a cultura, que continuarão sendo prestigiadas, sem a discriminação de setores da sociedade; sem limitar suas promoções (ao contrário do que desejem alguns elitistas) a uma reduzida e privilegiada faixa da população que pode pagar ingressos. O que seria antidemocrático e injusto por excelência. Aliás, se o pagar ingresso evitasse, por si só, as ações criminosas, atos de violência e vandalismo, os estádios de futebol não seriam o frequente cenário de destruição e morte em que se transformaram.

Os meios intelectuais e artísticos da cidade esperam que as iniciativas da Funalfa continuem no ritmo com que vêm sendo realizadas. Cessá-las ou reduzi-las por precaução ou medo dos criminosos seria dar a vitória  aos pequenos grandes delinquentes, que se misturam com o público jovem para destruir, prejudicar ou inviabilizar manifestações populares.


Não é difícil identificá-los, mesmo quando  procuram se esconder no anonimato ou sob o conhecido “de menor”. São os mesmos que depredam escolas, invadem salões de festas, formam gangues nos bairros e, não raro, colaboram no  tráfico de drogas. Felizmente em minoria, o que facilita colocá-los ao alcance da polícia. 




segunda-feira, 30 de maio de 2016






ILUSTRES E POUCO CONHECIDOS 




O Instituto Histórico, celebra hoje o 166º aniversário da emancipação política de Juiz de Fora. O que inclui reverenciar a memória de juiz-foranos lustres e pouco conhecidos. Três dos nossos historiadores, Paulino de Oliveira, Jair Lessa e Sinval Santiago consideravam que Juiz de Fora faltou com a história e com a justiça por não exaltarem convenientemente o Barão da Bertioga, pelo muito que fez aqui. Lindolfo Gomes achava até que a cidade devia, por isso, chamar-se Bertioga, que não apenas destinou sua imensa fortuna à Santa Casa como inscreveu seu nome em notáveis realizações.

São muitos os ilustres não suficientemente conhecidos e homenageados. Começamos por lembrar, pelo oportuno, que neste fim de maio transcorreu o centenário de nascimento de Jurandy Noronha, juiz-forano falecido no ano passado, e que se tornou pai da história cinematográfica do Brasil. Produziu “No tempo da manivela”, com filmes do período 1889-1930, e criou o Dicionário do Cinema Brasileiro.  Ninguém aqui ficou sabendo de sua morte, como não sabia de sua vida.

Ainda para falar apenas sobre aqueles de que pouco ou nada a cidade sabe, é mister citar o maestro Francisco Vale, que nasceu aqui em 1869. Por recomendação pessoal de Dom Pedro II  estudou em Paris, na École Cantorum, aluno do grande César Franck. Elogiado por Massenet, ouviu do maestro Mancinelli este elogio: “Você está tomado pelo espírito de Mozart”. Foi autor de fugas, sonatas e “Bailado na Roça”, sua obra principal. Em 10 de outubro de 1906, depois de pronunciar conferência no Clube Juiz de Fora, suicidou-se, confiando às águas do Paraibuna a vida, a depressão e suas obras imortais.

Outro nome é Hélio Lobo, que nasceu em Juiz de Fora 1883, bacharelando-se no Rio de Janeiro, chegando a ocupar cadeira na Academia Brasileira de Letras, uma das três que couberam a juiz-foranos. Nesta cidade escreveu seu primeiro livro, “Sabres e Togas”. Integrou o Tribunal Arbitral Brasil-Peru antes de assumir várias missões diplomáticas, algumas delas envolvendo questões sensíveis nas relações entre povos. Para tais missões esteve na França, Estados Unidos, Holanda, Inglaterra, Uruguai.  Sobre esse juiz-forano disse Otávio Mangabeira: “Um dos melhores homens que conheci em minha vida”.

Um detalhe que vale registrar: servindo na Holanda em 1932, recusou-se a dar visto diplomático para o embarque de armas e munições de que se valeria o governo Vargas para atacar os constitucionalistas de São Paulo. Não aceitaria, disse ele, contribuir para a morte de jovens idealistas.

Uma palavra sobre Frederico Carlos Hohne, que eu diria ser o mais desconhecido entre os juiz-foranos ilustres de todos os tempos. Viveu e sobreviveu indicado como um das personalidades da América Latina mais respeitadas no campo da ciência natural. Nasceu aqui em 1882, na Colônia de São Pedro. Menino, já revelando pendores para o universo das plantas, descia a rua Halfeld vendendo orquídeas, e por isso era por muitos chamado “o alemãozinho das parasitas”. Depois de estudar no Granbery foi para o Rio, onde começou chefiando os jardineiros da Quinta da Boa Vista. Cresceu, mostrou grandes conhecimentos, e com o marechal Rondon embrenhou-se Mato Grosso e  Amazonas a dentro, como primeiro entre os naturalistas da expedição. Nessas andanças perigosas recolheu para o Museu Nacional as amostras de mais de duas mil plantas medicinais. Por indicação do Itamaraty, integrou a Expedição Científica Roosevelt. Valendo-se de seus conhecimentos escreveu vários livros sobre ciência natural e se tornou professor convidado de 10 academias dos Estados Unidos e Europa. Em São Paulo, uma pesquisa de jornais o consagrou como “a pessoa mais notável do Brasil” nos anos 20.

Inesquecível, nesta noite em que reverenciamos juiz-foranos de prestígio internacional, mas nem por isso suficientemente celebrados, é José Lemos Monteiro da Silva, que ficou consagrado como pai da Infectologia na América Latina nos anos 30 e Mártir da Ciência. Nasceu aqui em 1897 e morreu aos 42 anos, quando se deixou infectar no Instituto Oswaldo Cruz, durante pesquisas finais com o Richettssia Brasilieneses, para ampliar os conhecimentos sobre a picada de carrapatos. José Lemos, mesmo tão prematuramente falecido, deixou estudos fundamentais para o combate à febre amarela, o tifo e a varíola. Sobre essas enfermidades escreveu cerca de 70 livros.

De prestígio internacional, este agora contemporâneo de nosso dias, foi o padre Leopoldo Krieger, cujos trabalhos no campo da citologia vegetal foram e ainda são citados em todo o mundo. Doutor pela Universidade de Munsten, na Alemanha, foi aqui, na Academia de Comércio, que se tornou pioneiro no emprego de microscópio eletrônico para o estudo das células vegetais, utilizando-se de samambaias. Krieger levantou 25 mil espécies de plantas em Ibitipoca, o que significou o maior trabalho do mundo nesse gênero em área restrita.

Por fim, e entre tantos, uma reverência ao juiz-forano Domingos Vidal, nosso homem na Conjuração Mineira. Nasceu em 1761 na fazenda do juiz de fora, formou-se em Medicina em  Montpelier, especializando-se depois em cirurgia em Bordeaux. Estando de volta, ele se entusiasmou pelas ideias libertárias; essas mesmas ideias dos amigos de Tiradentes que os ventos  de Vila Rica vinham soprar nas margens do Paraibuna. Degredado, foi morrer em Cabo Verde, na África, provavelmente de febre tifóide. No Instituto Histórico de Juiz de Fora, em 1986, quando se falava sobre o nome da cidade, houve quem sugerisse que ela se chamasse Domingos Vidal.  

Pode-se falar sobre outros juiz-foranos nascidos ou aqui acolhidos, cujo prestígio e sabedoria avançaram além dos limites do município. Como o jurista João Luiz Alves, da Academia Brasileira de Letras; Rocha Lagoa, que chegou à fórmula para a produção do leite em pó; Hermenegildo Villaça, patrono da cirurgia em Minas; Mauri Pinto de Oliveira, que colocou sua sala de pesquisas na vanguarda da malacologia e da vida dos moluscos; Franz Hochleitner, o austríaco que acaba de chegar aos 100 anos, e que fez de Juiz de Fora referência internacional na decifração dos código dos maias e sua histórica Porta do Sol.


Como disse, inspirou esta breve reflexão o desejo de reverenciar vultos que pontificaram no passado, foram ilustríssimos nas atividades a que se dedicaram e levaram alto e longe o nome da cidade em que nasceram ou que, vindos de outras terras, foram aqui acolhidos, embora ainda a merecer as homenagens que lhes são devidas. 





segunda-feira, 23 de maio de 2016






INACREDITÁVEL 



Difícil de acreditar que num momento como este que Minas vive, de mil aperturas, os deputados tenham coragem de reajustar seus subsídios. Pois isto aconteceu. O ajuste foi de quase 30%. E os servidores estão recebendo seus vencimentos em parcelas, para confirmar  as agruras do Tesouro e os maus lençóis  em que está metido o governador Pimentel.

A alegação de defasagem é inaceitável, mesmo tendo recorrido a ela os parlamentares mineiros. Desvalorização por desvalorização do dinheiro também sofrem os servidores
À Assembleia caberia, pelo menos e pelo mínimo, um gesto de solidariedade com os verdadeiros sacrificados.


2-  O Presidente Michel Temer certamente não teria como esperar esse acidente de percurso, a denúncia de envolvimento do ministro Romero Jucá com as investigações da Lava Jato, sendo atribuída a ele uma gestão para pôr paradeiro nas investigações. Temer, antes de o ministro se licenciar, estava numa encruzilhada: ao manter o ministro estaria contaminando o governo recém-criado; afastado, ainda que temporariamente, revela descaso na formação do primeiro escalão de uma equipe que não completou seu primeiro mês.


3- Em cada passo da vida política brasileira se consolida a convicção de que os males maiores desse quadro de corrupção, de suspeitas e de crimes não constitui fato isolado nas ações pessoais ou de grupos. Os males nascem do nosso esgotado modelo de presidencialismo de coalizão, que se oxigena no intenso tráfico de influências, sobretudo nas relações com o Congresso. O presidencialismo, do jeito como o que temos, esteja lá quem estiver, de FHC a Dilma, tem de se submeter a uma reforma sem troca de favores e sem indulgências.


É preciso mexer na base, na estrutura do modelo, que não dá mais para sobreviver. Até porque não há Petrobrás que aguente esse custo político.







sexta-feira, 20 de maio de 2016





120 ANOS DA BIBLIOTECA


Este 20 de maio marca os 120 anos da criação da Biblioteca Municipal, que hoje tem o nome do poeta Murilo Mendes, dado pelo prefeito Mello Reis por sugestão de um representante da imprensa local. Em 1896 foi oficialmente criada e, no ano seguinte, instalada em solenidade presidida pelo Agente Executivo, João Penido. A criação foi resultado da Resolução 369, em cumprimento a  um projeto do vereador Fonseca Hermes.

Seu primeiro livro adquirido, por sugestão do vereador, foi o Dicionário Histórico e Geográfico Brasileiro. O jornalista Heitor Guimarães logo assumiu a tarefa de organizar o acervo, e meses depois já contava com 800 volumes, dos quais 280 doados pelos intelectuais da cidade. Em 1925 a Biblioteca passou a funcionar no antigo pavilhão que havia no centro do Parque Halfeld, já então  com 2.800 volumes, um acervo que agora é 20 vezes maior. A Murilo Mendes, hoje no seu espaço definitivo no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, é administrada pela Funalfa.



QUE GOLPE?


O pedido do Supremo Tribunal Federal à presidente afastada Dilma Rousseff para que informe à Corte, concreta e objetivamente, o que a leva a denunciar ter sido vítima de um golpe, é um pedido que pode ou não ser atendido. A decisão do STF resulta de ação proposta por deputados que tencionam processá-la por calúnia e difamação. Mas não está obrigada a falar sobre isso aos ministros.    

O problema mais constrangedor para ela é que, se calar, estará admitindo que essa história de golpe é uma fantasia que seu governo inventou na tentativa de evitar o impeachment. Mas se a toda hora ela continua falando nisso, com apoio dos amigos bolivarianos da Venezuela, é razoável supor que tem provas contundentes. O silêncio seria comprometedor.






quinta-feira, 19 de maio de 2016







APOSENTADORIA 


Os desgastes e protestos serão enormes, mas o governo Temer não terá como escapar de medidas radicais em relação aos gastos gritantes, e se essas medidas começam doendo em 4 mil ocupantes de cargos de confiança, que serão cortados, haverão de doer também nos que estão correndo contra o tempo para atingir a aposentadoria. A explicação é simples: com um déficit atual que chega perto de R$ 180 bilhões, dentro de mais alguns meses os que já dispõem do benefício não receberão, vão levar o calote. E os que esperam continuarão expulsos.  

Está decidido: o governo vai mandar o brasileiro trabalhar mais antes de ir para o pijama. E nesse particular não há contestá-lo. Em 1935, quando Getúlio Vargas criou as bases para a aposentadoria por tempo de serviço, a expectativa de vida ficava em torno de 40 anos. Hoje vivemos em média 78. Há que haver um ajustamento à realidade dos tempos.

Não se sabe até que ponto vai a coragem do governo para atacar esse problema nas suas bases. Por exemplo: não seria a hora de partirmos para estudar parcial participação da previdência privada, dividindo o ônus com o velho e cansado INSS?, mesmo tirando dele um rendimento substancial. Mas é certo que isso seria mexer demais com a estrutura estatal que administra o setor. E a gestão de Temer só começou e enfrenta muitos gritos.   

Há anos, escrevendo sobre esse desafio, o ministro Roberto Campo, ainda que muito contestado, disse algo que vale a pena refletir. A compulsoriedade das contribuições para o INSS é péssima para os pobres, pois os priva de decidirem sobre o administrador a quem confiar suas poupanças. Seu dinheirinho vai para uma vala comum exposto à predação das classes politicamente mobilizadas, que caçam aposentadorias especiais e sempre são contempladas. Por falar nessas ricas aposentadorias especiais: se for possível conter o apetite delas já teremos dado um grande passo.  






quarta-feira, 18 de maio de 2016






NOS ANOS 60


No auge da crise gerada pela renúncia do presidente Jânio Quadros e a acidentada chegada do governo João Goulart, configurando um dos momentos mais graves da história republicana, o deputado mineiro Paulo Pinheiro Chagas disse algo que remete Michel Temer àquele tempo. Dizia ele que havia sido organizado um Ministério “as carreiras”, nele havendo figuras ilustres, “mas a verdade é que tomado no seu conjunto é heterogêneo e amorfo”. Queixava-se da velha e nunca negada subserviência dos governos às imposições políticas do momento. Tal qual.

Chagas falava também do perigo do clima instalado com a caça aos corruptos, muitos dos quais tendo como caçadores os que haviam praticado os mesmos crimes que pretendem apurar. Os caçadores que deviam ser caçados e depois cassados. Na hora em que o País corre o risco de se reduzir apenas a uma imensa sindicância, cumpre então advertir que o vício e a virtude não trocam de nome só porque mudaram de partido.

Quando se procede à nacionalização da devassa e da delação premiada, haja cuidado com os interesses paroquiais. Vale indagar se a apuração e a condenação são do interesse nacional, e neste caso têm de ser levadas à frente e com rigor. Mas não pode a Nação chegar ao ponto de ter de dizer como madame Roland: “Ó, austeridade, quantos crimes se cometem em teu nome”, como lembrou Chagas  no seu ”Velho vento da aventura”.
Os cuidados têm de ser redobrados para que a delação não esteja erigida em sistema e a suspeita transformada em crime.

2 – Os discursos dos novos ministros se referem a medidas a serem tomadas a longo prazo, com implicações que têm pouco a ver com um curto governo que pode ter apenas seis meses, enquanto Dona Dilma afastada se defende. O que permite imaginar que Temer e sua equipe consideram aquela senhora definitivamente afastada. Henrique Meireles, por exemplo, joga projetos e soluções para uma década. Certamente está entre os que não esperam mais ver Dilma pela frente.





segunda-feira, 16 de maio de 2016






NOVO PDT


O PDT está em fase de montagem de uma nova estrutura em Minas, que está sob o comando do deputado Mário Heringer.Para assumir a presidência é cogitado Vitor Valverde, secretário de governo do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda. Para que tal se concretize falta o pronunciamento da bancada do partido na Assembleia Legislativa, o que deve ocorrer nas próximas horas.



SALVAÇÃO


O presidente Temer tem dito, mas seus ministros só raramente, que este é um governo de “salvação nacional”. O discurso ainda não está uniformizado. Mas antes do final do mês os ministros e  porta-vozes começarão a insistir nesse compromisso salvador, praticando-se um discurso franco, capaz de revelar em detalhes a grave situação em que o Brasil se encontra; mais grave que anteriores previsões. Em suma: os brasileiros que preparem os costados, pois vêm aí mais sacrifícios. Para as doenças graves xaropes não bastam.



LAERTE


Um infarto do miocárdio, cuja gravidade não permitiu tempo para os socorros, matou o jornalista Laerte Brasil, sepultado na tarde de domingo. Em 2012 ele disputou a prefeitura pelo partido Comunista,obtendo 1.402 votos.







sábado, 14 de maio de 2016





SOB NOVO GOVERNO



1) Sob algum aspecto o presidente Temer reedita para si o desafio de Prudente de Morais, primeiro civil no cargo e primeiro eleito pelo voto universal. Como? É o apelo à pacificação política do País, cheio de ódios e ressentimentos. Com Prudente também foi preciso vencer a oposição saudosista, que hoje são os petistas; naquele tempo eram os monarquistas.

Não é tarefa muito fácil, mas tem de ser enfrentada.


2) Na sua primeira entrevista coletiva os ministros do novo governo não conseguiram esconder que estão diante de um elenco de problemas bem maiores que aqueles que esperavam encontrar. Uma amostra é a que está baseada em conclusão do Tribunal de Contas da União: mais de 100 mil bolsas-família são pagas com irregularidades, entre as quais o desvio de finalidade.


3) Missão para o ministro José Serra, que vai comandar a política externa, é vencer a má vontade da imprensa estrangeira em relação ao governo Temer. Não há um único jornal da Europa que não o hostilize. Os europeu adotaram a ideia do golpe.


4) O PMDB agora é telhado. O PT é a pedra. Apenas para atualizar velho ditado que a vida continua a confirmar.


5) A crise política em que o País se envolveu, aliada às expectativas em torno da formação do novo governo, não estimulou, na verdade arrefeceu a tarefa dos partidos de construir as chapas dos candidatos a prefeito e vereador que vão concorrer em outubro. Para tanto, supunha-se até que um eventual agravamento dos problemas pudesse recomendar o adiamento  das eleições.

Os partidos e as alianças têm mais um mês para definir suas candidaturas, preparando-as para as convenções.


6) Ainda abalado com o afastamento da presidente, o que representou seu maior acidente político, o PT tem agora de voltar os holofotes para o governador Fernando Pimentel, sobre quem pesam denúncias muito mais graves que aquelas em que Dilma tropeçou.

Não apenas o governador de Minas, mas também a primeira-dama está sob suspeita de enriquecimento com recursos extras da campanha eleitoral. Procurando poupa-la, Pimentel a nomeou para integrar o Secretariado, mas a Justiça considerou o ato ilegal, o que a obriga a estar exposta às luzes do Ministério Público.


7) Diz Henrique Meireles, ministro da Fazenda: é preferível o pouco do que o nada. Em resumo, o recado aos aposentados, que ganham como único aceno imediato a manutenção dos benefícios tal como se encontram. Por hora, nada mais que isso.







quarta-feira, 11 de maio de 2016




SUMIU


Não há quem possa dar notícias sobre o paradeiro do senador José Sarney, que tem o condão de se transformar em fluido nos momentos inconvenientes. Volatiza-se. Nesse particular parece que vai tendo em Lula um aluno aplicado. Para quem foi presidente da República, ainda que acidentalmente, como agora será Michel Temer, esperava-se que Sarney aparecesse. Nem que fosse palpitar.



SÍMBOLO 

O deputado Waldir Maranhão, que em menos de dez horas, como presidente interino da Câmara, assinou ato impugnando o  processo de impeachment de dona Dilma, e logo o revogou, passa à história como símbolo da indigência parlamentar brasileira. Alvo de chacota internacional, nem mesmo teve sensibilidade para perceber que naquele ato estava apenas sendo instrumento de um abuso do governo e de quantos tentavam desesperadamente salvar a presidente do desastre final. Cometeu suprema indecência.

Começou por atropelar 70% dos votos de seus colegas deputados que votam pelo processo, para depois confessar, de boca fechada, sua insegurança com a atitude esdrúxula.
Não resta à Câmara outro caminho que não a cassação de seu mandato.



DEBOCHE


Inspirada no lamentável episódio do deputado Maranhão ao propor o cancelamento do processo de impeachment de Dilma, a internet saiu com esta:  Collor pede revisão de seu processo de impeachment por alegar supostas irregularidades. D. Pedro II aproveita para pedir revisão da Proclamação da República pelo golpista Marechal Deodoro da Fonseca. Tiradentes viu brecha para pedir seu desenforcamento e Pedro Álvares Cabral se disse arrependido de ter descoberto esta terra e pede para retirar seu nome dos livros de história...



CINEMA


Neste mês transcorre o centenário de nascimento de Jurandyr Noronha, que figura entre esses juiz-foranos ilustres que a cidade ousa ignorar. Noronha morreu no ano passado no Rio de Janeiro, onde residia há tempos. Pioneiro da pesquisa do cinema brasileiro, produziu também “No tempo da manivela”, filmes do período 1898-1930. E é autor do Dicionário do Cinema Brasileiro.



DIREITO


Das queixas que surgem de todos os lados sobre a retração do mercado de trabalho não escapam os advogados, que têm lamentado o desaparecimento dos clientes. Estes, empobrecidos, preferem adiar suas postulações junto à Justiça. Alguns advogados explicam, entre os fenômenos da retração, o fato de em Juiz de Fora estarem funcionando nove cursos de Direito.



MAQUETES


Sugestão para a noite desta quinta-feira: conhecer a exposição de maquetes históricas e reduzidas que com Alexandre Fioravante perpetua algumas construções da cidade. Ele recebe no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas a partir de 19 horas.




CALDO AMARGO


O presidente Michel Temer não terá como fugir da prescrição de remédios amargos para corrigir, tão rápido como for possível, o grande rombo na economia que vai receber como herança de Dona Dilma. No conjunto, os déficits chegam a 1 trilhão! Pois com as enfermidades da política econômica nesse dimensão, a receita promete coisas como os antigos purgantes, que não permitiam saber se era pior o gosto do remédio ou o do mal-estar. É o caso da Previdência, que despenca célere para a UTI, e requer uma cirurgia profunda e dolorosa.


Há de ter coragem o presidente para enfrentar os narizes torcidos, a começar pela base aliada, sempre ávida em torno dos ministérios, dez do quais já vão fechar as portas. 





terça-feira, 10 de maio de 2016




DOENTE TERMINAL 


A sabedoria de uma nação (não é de hoje que se fala) só pode ser medida com a sua capacidade de aprender as lições das tragédias que o destino coloca à sua frente.  Em cada tropeço há uma razão para corrigir a rota da caminhada. Até porque, tanto para os povos como para as individualidades é caminhando que se descobre o caminho. Tudo isto para dizer que é da atual crise, grave crise, que o Brasil tem de extrair proveitosas lições. Uma delas, talvez a mais importante de todas, é que se exauriu, esgotou-se esse presidencialismo fajuto, que se baseia no modelo de coalizão clientelista e cartorial. Não dá mais para conviver com os vícios tão antigos que já eram objeto de preocupação de Rui: “O presidencialismo brasileiro não é se não a ditadura do estado crônico, a irresponsabilidade geral, a irresponsabilidade sistemática do Poder Executivo”. Não há negá-lo.

À antiga inconveniência que Rui identificou somaram-se outras como obra do tempo e dos modos. Crises em cima de crises produziram nesse presidencialismo, há muito em estado terminal, uma quase secular intranquilidade social. As instituições e a política no Brasil vivem aos solavancos. É preciso romper com essa nefasta tradição.

Amanhã dona Dilma entra em recesso de seis meses, que certamente se estenderão por dois anos.  Mas a desejada saída não pode desconhecer que estamos inaugurando mais uma temporada de sacrifícios, porque é largo e fundo o rombo que ela vai deixar e que promete ampliar numa onda de oposição sistemática. Mas valerá o sacrifício se começarmos a enterrar o presidencialismo velho e velhaco. Melhor ainda se caminharmos para o ideal, que é o parlamentarismo.



CRUELDADE


A política, quando mergulhada no jogo de interesses desenfreado, é capaz de perder a medida das maldades, que se tornam incontroláveis, capazes de tudo. Agora, num derradeiro e desesperado esforço para ficar de pé em muletas, o governo, através do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, aproveita-se de um despreparado, acidentalmente presidente da Câmara dos Deputados, para arquitetar a monstruosidade de sustar o julgamento do impeachment da presidente da República, matéria vencida naquele âmbito legislativo, mas já sob a responsabilidade do Senado Federal. Empurraram o pobre deputado Waldir Maranhão numa cilada; certamente ele para esse papel, próximo do simplório, espécie de pau-mandado, imune ao ridículo, universal modelo do trabalho servil. E o colocam como protagonista de uma encenação bufa, que horrorizou a todos, até mesmo a um Renan. Imaginem.

Os governistas que patrocinaram esse ridículo expuseram seu arsenal de crueldade. Pecado capital e imperdoável por terem usado e abusado de um pobre coitado que sai do episódio como um bobão.








sexta-feira, 6 de maio de 2016







ONDE TUDO É POSSÍVEL


Não há quem seja capaz de apostar muitas fichas no futuro imediato da política brasileira, que conserva a tradição de criar surpresas; surpresas que podem sair de qualquer gabinete, a qualquer hora, mesmo nos ambientes mais sóbrios, para desmentir o Barão de Itararé: de onde menos se espera é que não sai mesmo nada. No Brasil sai.

Parece que a inesperada decisão do ministro Teori Zavascki de tirar Eduardo Cunha da presidência da Câmara, além de privá-lo do mandato, tem tudo a  ver com algo fantástico que se tramava no Supremo:  com inspiração no ministro Marco Aurélio,  o que teria sido decidido ontem era não apenas a remoção de Cunha, mas tornando sem efeito todas as iniciativas por ele tomadas, inclusive o processo de impeachment da presidente Dilma. Plano que Teori fez abortar em cima da hora.

Pode-se imaginar o tumulto em que o Brasil estaria mergulhado se, nesta altura dos acontecimentos, em véspera da destituição da presidente, a suprema Corte mandasse dizer: tudo sem efeito.

Quem conhece Eduardo Cunha, suas habilidades e capacidade de nadar em mares revoltos recomenda que ele ainda não seja tratado como peixe morto.


 O QUE MUDA


As conversações sobre a sucessão municipal e suas implicações estão em suspenso. Aqui  e em qualquer outra parte do Brasil, porque todos esperam que a política nacional ganhe alguns graus de confiança ou que remova parte da escuridão em que se vê mergulhada há meses. Sem isso, como definir as bases das campanhas dos candidatos a prefeito em cidades de maior expressão?

No caso de Juiz de Fora, depois  de definida a candidatura à reeleição do prefeito Bruno Siqueira, a formatação das alianças do PMDB parou no que vinha sendo tratado com o PSDB. Esperar para ver como vão soprar os ventos  de Brasília. Não estão  esgotados os detalhes.


Mas, em relação a Bruno, a principal novidade virá na próxima semana, quando seu partido, PMDB, estará no poder central, e com a participação dos tucanos, com quem ele deverá contar na sua aliança. O prefeito poderá dizer aos eleitores que agora a cidade tem tudo para ganhar o que lhe tem sido negado pelo governo do PT.








quinta-feira, 5 de maio de 2016



PONTO FINAL 



O relatório do senador Antônio Anastasia propondo a admissibilidade do processo contra a presidente Dilma, o que nas próximas horas resultará no seu afastamento, parece ter posto um ponto final nos esforços do PT para defendê-la. O partido e o ex-presidente Lula, este já desaparecido, devem admitir, sem alimentar maiores sonhos, que o impedimento por seis meses nada mais é que uma espécie de aviso prévio. Se no cargo ela não teve força e prestígio suficientes para se manter, não os terá na reclusão do Alvorada, residência que, aliás, ela não devia aceitar. É uma humilhação ser condenada a morar na cozinha, depois dos regalos da melhor das salas da casa.

Mas o que é essencial neste momento é a previsão, sustentada por sólidos indícios, de que dona Dilma vai assistir ao abandono total por parte do PT e demais aliados, leais no velório e no acompanhamento do enterro, mas não ao ponto de morar na cova com o finado governo. A presidente sabe disso e sente isso, quando vê despovoados de ministros os corredores e os gabinetes do palácio. Ausentes ministros e assessores, sem esperanças na sobrevivência, parentes de um enfermo desenganado.  

Chegou a hora de o PT começar a pensar no seu futuro e retomar o discurso de oposição, esse mesmo discurso que o levou a derrubar o PSDB e a ganhar o poder. E nessa hora não cabe sentimentalismos e saudades. Veremos. 





quarta-feira, 4 de maio de 2016





A VEZ DO LEÃO


A se tomar por base o primeiro relatório da Receita sobre o volume das declarações de renda apresentadas na semana passada, quando expirou o prazo para o cumprimento dessa obrigação, o número de faltosos neste ano será significativo, sem considerar os que praticaram omissões e, portanto, ficam sujeitos à malha fina. Imposto todos têm de pagar, ainda que protestando o fato de não ser aplicado, não reverter à sociedade como devia ser. Educação, saúde, transportes em situação caótica, além da corrupção, explicam a cara feia do contribuinte.

Mas o poder é forte, é preciso pagar, mesmo com choro, como escreveu José Nêumanne Pinto em “A ceia da aranha” para lembrar aquela passagem mitológica da conversa de Júpiter com a ovelha: são injustos e odiosos, além disso contra a lei, os sucessivos sustos com que os lobos  afligem. É melhor, entretanto, que suportes com paciência os agravos. A questão é que o lobo é forte demais para não ter razão.

Sobre o Imposto de Renda é oportunamente citado o professor Miguel Reale. A  maior prova do estado catatônico em que mergulhou a sociedade brasileira é o próprio símbolo do Fisco Federal, o leão, o rei das feras, aquele que sempre reserva para si, sem a menor cerimônia, o mais suculento naco da injusta divisão.


Ainda Nêumanne, que dispensa apresentação: “O estado-devedor se dá o direito da inadimplência impune; o brasileiro é vítima da farra sodomita que o monstro estatal promove porque não precisa  pagar”.




terça-feira, 3 de maio de 2016






Homem forte


Com a decisão do vice Michel Temer de  atribuir a Henrique Meireles, e somente a ele,  a tarefa de falar sobre a política econômica que será adotada no pós-Dilma depreende-se que aos demais colaboradores fica vedado tratar do assunto. Decisão que permite concluir que serão tomadas medidas de alta complexidade. O discurso será único e com interpretação alinhada com um conjunto de decisões políticas.

A volta de Meireles  deve causar algum constrangimento à presidente Dilma. Assim como Temer, ela também o desejou para o Ministério da Fazenda. Quem não deixou foi Lula.  De forma que em seu projeto de atacar a política do sucessor  fica para a presidente o entrave da  coerência.


 Noemi


Dona Noemi Teixeira Vieira morreu aos 107 anos. Foi sepultada ontem, depois de longa e prolifera existência. Foi a primeira secretária do Instituto Santo Tomás ide Aquino, tarefa  que assumiu há 60 anos a convite do fundador, professor Joaquim Ribeiro de Oliveira. Escritora, dava-se ao luxo de usar o manuscrito, pois gozava do privilégio de excelente caligrafia.



Aos jovens


Na  sexta-feira, foi o ex-senador Pedro Simon, durante sua visita ao Instituto Itamar Franco;  ontem, o ex-presidente Fernando Henrique, em debate na TV Band;  pouco antes, o ex-ministro Delfim Neto.  Discurso único: o Brasil precisa começar a mobilizar os jovens, como forma de instalar nova forma de lidar com o poder público, sem maiores vícios. O exemplo estaria nessa nova geração de juízes e promotores, uma  geração disposta a passar o País a limpo.



Acerto


Dirigentes do PMDB  e do PSDB têm conversado em Belo Horizonte sobre detalhes da aliança já acertada em torno da candidatura do prefeito Bruno Siqueira à reeleição.



Receita


Amigos e médicos voltam a recomendar ao ex-presidente Lula que se abstenha de longos discursos e cuide da rouquidão agravada, sob pena de perder a voz. Ele chegou tão próximo de uma afonia que nem sempre é possível entender o que diz. Por isso, poucos se assustaram  quando em recente comício lembrou o sacrifício de Tiradentes, que segundo ele foi um herói crucificado...