terça-feira, 10 de maio de 2016




DOENTE TERMINAL 


A sabedoria de uma nação (não é de hoje que se fala) só pode ser medida com a sua capacidade de aprender as lições das tragédias que o destino coloca à sua frente.  Em cada tropeço há uma razão para corrigir a rota da caminhada. Até porque, tanto para os povos como para as individualidades é caminhando que se descobre o caminho. Tudo isto para dizer que é da atual crise, grave crise, que o Brasil tem de extrair proveitosas lições. Uma delas, talvez a mais importante de todas, é que se exauriu, esgotou-se esse presidencialismo fajuto, que se baseia no modelo de coalizão clientelista e cartorial. Não dá mais para conviver com os vícios tão antigos que já eram objeto de preocupação de Rui: “O presidencialismo brasileiro não é se não a ditadura do estado crônico, a irresponsabilidade geral, a irresponsabilidade sistemática do Poder Executivo”. Não há negá-lo.

À antiga inconveniência que Rui identificou somaram-se outras como obra do tempo e dos modos. Crises em cima de crises produziram nesse presidencialismo, há muito em estado terminal, uma quase secular intranquilidade social. As instituições e a política no Brasil vivem aos solavancos. É preciso romper com essa nefasta tradição.

Amanhã dona Dilma entra em recesso de seis meses, que certamente se estenderão por dois anos.  Mas a desejada saída não pode desconhecer que estamos inaugurando mais uma temporada de sacrifícios, porque é largo e fundo o rombo que ela vai deixar e que promete ampliar numa onda de oposição sistemática. Mas valerá o sacrifício se começarmos a enterrar o presidencialismo velho e velhaco. Melhor ainda se caminharmos para o ideal, que é o parlamentarismo.



CRUELDADE


A política, quando mergulhada no jogo de interesses desenfreado, é capaz de perder a medida das maldades, que se tornam incontroláveis, capazes de tudo. Agora, num derradeiro e desesperado esforço para ficar de pé em muletas, o governo, através do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, aproveita-se de um despreparado, acidentalmente presidente da Câmara dos Deputados, para arquitetar a monstruosidade de sustar o julgamento do impeachment da presidente da República, matéria vencida naquele âmbito legislativo, mas já sob a responsabilidade do Senado Federal. Empurraram o pobre deputado Waldir Maranhão numa cilada; certamente ele para esse papel, próximo do simplório, espécie de pau-mandado, imune ao ridículo, universal modelo do trabalho servil. E o colocam como protagonista de uma encenação bufa, que horrorizou a todos, até mesmo a um Renan. Imaginem.

Os governistas que patrocinaram esse ridículo expuseram seu arsenal de crueldade. Pecado capital e imperdoável por terem usado e abusado de um pobre coitado que sai do episódio como um bobão.








Nenhum comentário:

Postar um comentário