sexta-feira, 25 de setembro de 2015





VELHA RECEITA


Tanta expectativa para quase nada. Os remanejamentos que a presidente Dilma prometeu, mantendo em suspense os meios políticos durante dias, acabaram por adotar o receituário de sempre: um acordo objetivo e de conversa franca com o PMDB, que sempre se mostra disposto a ajudar, desde que para tanto possa abocanhar o naco mais suculento do poder. Depois de ameaçar criar dificuldades, convenceu-se rapidamente de que o seu melhor domicílio continua sendo Pasárgada, onde é amigo da rainha Dilma, sem os encargos do governo.

Ganhando cinco ministérios, dos mais estratégicos e influentes, o PMDB concordou, com a velocidade de sempre. Ampliou sua adesão, mas não o suficiente para deixar a presidente tranquila, porque o largo apoio do partido é circunstancial e episódico. Soma-se a isso o apetite para novos cargos no futuro.

Na política, o comando peemedebista faz lembrar as velhas roceiras que indicavam chá de jalapa nos momentos mais difíceis, mas sem responsabilidade com os desarranjos intestinais.



MAIS VIOLÊNCIA  


Na cidade há seis anos, para onde veio com a finalidade de assumir o arcebispado, dom Gil Moreira diz que o impressiona, cada dia mais, a onda de crescente violência em Juiz de Fora. Ao abrir os jornais, salta à vista o volume de crimes que ocorrem nos bairros, com dois dados geralmente presentes: as drogas e o envolvimento de menores. Para o metropolita, avaliando-se a situação, estamos caminhando para um quadro alarmante.

O comentário foi feito na festa de São Mateus, quando convidou os fiéis para a Marcha da Paz, que os católicos promovem no dia 4, domingo, partindo da igreja da Glória às 14h, rumo à Catedral, onde haverá celebração eucarística.



MEDALHA E SAMBA


Neste sábado, a partir de 14h, no Centro de Educação de Jovens e Adultos, na Travessa Prisco Viana, o Instituto Cultural do Samba, presidido por Régis da Vila, vai homenagear personalidades e entidades que mais têm contribuído para a divulgação do samba em Juiz de Fora. É um troféu que traz o nome do mais importante jornalista da cidade, José Carlos de Lery Guimarães.



PENA DE MORTE



Morreu, nesta semana, o procurador da Justiça Sidney Afonso. Durante uma década em que desempenhou atividades diversas na comarca, sobretudo no Tribunal do Júri, foi também centro de muitas polêmicas, algumas de repercussão nacional. Uma delas nos anos 70: defensor da pena de morte, disse que se disporia pessoalmente a aplicá-la se ninguém tivesse coragem para fazê-lo. 





terça-feira, 22 de setembro de 2015




REFORMA


Qualquer reforma ministerial, seja em que circunstância ocorrer, tem tudo par mexer com a política. A reforma que a presidente Dilma promete para esta quarta-feira não haveria de ser diferente, embora logo saliente o ponto nevrálgico da questão: até que ponto serão afetados os interesses da base aliada? Porque se as correntes de apoio saírem feridas o governo assina seu atestado de óbito na discussão parlamentar de temas que dizem respeito a questões imediatas. Mas se esses interesses forem preservados e não entrarem na berlinda a reforma ministerial logo se revelará insuficiente.

Outra variação em torno do mesmo tema é a redução do número de ministérios. Aí uma eficácia mínima que seja fica na dependência da extinção corajosa de pastas e de cargos, sem o piedoso remanejamento de milhares de ocupantes de cargos de confiança, que são os mais caros e quase sempre improdutivos.

Seja como for, a presidente terá de mostrar coragem, sem ignorar que nesta altura dos acontecimentos a amizade e a lealdade escasseiam.




MALDIÇÃO



A luta de dona Dilma é também uma luta para escapar da maldição do segundo mandato. Nenhum presidente que foi ao cargo pela segunda vez saiu-se melhor que na gestão anterior. Quando a coisa não acabou de maneira mais trágica. Lincoln foi assassinado, Nixon caiu por força de impeachment, George Pompidou morreu de câncer, Getúlio Vargas suicidou-se, De Gaulle renunciou em 69 no segundo mandato, depois que os franceses lhe negaram voto de confiança em plebiscito. Foram muitos os casos. 




domingo, 20 de setembro de 2015




NATIMORTO


O ICMF vai descer goela abaixo do Congresso, não pelo fato de o governo Dilma ter jogado sua sorte nesse novo sacrifício cobrado à população em nome de um prometido reordenamento do orçamento federal. Vai passar porque, sabidamente, o Planalto envolveu diretamente o interesse dos governadores, afagou-lhes com uma cota do imposto, certo de que em seus estados eles saberão como pressionar seus parlamentares.

Mas é um encargo que vai ser ressuscitado sob a égide do descrédito. Da vez anterior veio com a promessa de socorrer a saúde, o que não aconteceu. O Ministro Adib Jatene, que teve a ideia, morreu desgostoso ao ver seu propósito desvirtuado.



NOVA IMAGEM


As telas da TV brasileira andam longe de oferecer conteúdo que satisfaça a família brasileira, queixou-se o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Azevedo, que veio a Juiz de Fora na quinta-feira para presidir a solenidade de lançamento da TV Horizonte, com sinal em UHF 47. O acontecimento foi celebrado com entusiasmo pelos católicos ao ganhar um canal que tem como principal atividade a evangelização, sem esquecer o esporte, cultura, artes e o cotidiano da sociedade.

Para dom Walmor outro dado importante é que a TV Horizonte é essencialmente mineira, contrapondo-se aos demais canais católicos, todos geradores em São Paulo.



TUDO IGUAL  


De um velho álbum de recortes de jornais. Atualíssimo, dizia o grande Joaquim Nabuco, pouco antes de morrer, em janeiro de 1910:
“Os partidos políticos formam-se todos da mesma massa, que é o povo, e vão ao mesmo fogo, que é o espírito da atualidade. Se o espírito do tempo tende à corrupção eles serão corruptos. Se forem, pelo contrário, probos e severos, nem um nem outro merecerão suspeitas. É ainda a lei do nível dos líquidos em vasos comunicantes”.





quarta-feira, 16 de setembro de 2015




SOBRE A SUCESSÃO MUNICIPAL 


Juiz de Fora poderá ter vários candidatos a prefeito, considerada a movimentação de parlamentares com domicílio eleitoral aqui. São pré-candidatos Margarida Salomão (PT) e Júlio Delgado (PSB), ambos federais; Noraldino Júnior (PSC) e Antônio Jorge (PPS), estaduais.

Já o prefeito Bruno Siqueira (PMDB) provavelmente disputará a reeleição. Será fator atraente para sua disposição se os concorrentes forem numerosos na disputa, pois certamente se beneficiará desse fator. Bruno, no exercício do mandato leva certa vantagem sobre seus prováveis adversários na disputa, pois já inicia o pleito com aproximadamente trinta por cento do potencial de voto. É o que diz a experiência.

Mas, como estamos apenas especulando, e o período agora é só para isto mesmo, só resta aguardar passar o mês de outubro, seguindo o calendário costumeiro, e verificar se houve mudanças partidárias. Em junho de 2016 ocorrerão as convenções dos partidos, e assim será dado inicio à campanha eleitoral. Haverá então o período de gestação. Até lá algumas candidaturas podem ser ‘abortadas’, por ‘ordens superiores’. Ou a renúncia de pré-candidaturas por decisão própria.

Vejamos, então, o caso dos parlamentares federais. A deputada Margarida tem sinalizado que não será candidata, e parece desejar uma aliança do PT com o PMDB, reproduzindo o que ocorre nos níveis federais e estaduais. O deputado Júlio Delgado não seria candidato, pois o PSB poderá apoiar outra candidatura. Este partido está sobre o comando estadual do prefeito de BH, Márcio Lacerda, adversário político de Delgado. Aliás, o deputado tem manifestado o desejo de trocar de partido, por sentir-se desconfortável na legenda, desde a assunção do prefeito Lacerda. Especula-se também sobre eventual mudança de seu domicílio eleitoral para a capital. Mas ainda não se sabe se ele teria algum projeto para as eleições municipais de BH.

Noraldino e Antônio Jorge (PPS) estão em campanha, embora não assumam totalmente tal intenção para evitar os desgastes políticos devido a uma exposição antecipada de seus projetos. Além disso, os partidos deles podem optar por não terem candidaturas na cidade, devido a ‘entendimentos superiores’ das legendas, na ‘costura’ de interesses macropolíticos.


Ainda é possível emergirem novas candidaturas para a prefeitura, pois há projetos envolvendo os nomes do ex-reitor Henrique Duque e do ex-deputado Sebastião Helvécio, ambos ainda sem partido. Duque se movimenta nos bastidores, e poderá se filiar ao PSD. Helvécio é o presidente do Tribunal de Contas do Estado até o final do próximo ano, e terá que renunciar ao cargo para disputar o pleito. Em termos de partido Helvécio poderá volta ao seu partido, o PDT.




domingo, 13 de setembro de 2015




NOVOS VOOS


Esta é uma semana que pode trazer novidades em relação a filiações partidárias, considerando-se que dentro de vinte dias termina o prazo para que se inscreva quem pretender disputar cargo eletivo em outubro de 2016. Novidades que poderão vir principalmente da Câmara Municipal, pois nem todos os vereadores (todos concorrerão a um novo mandato) consideram-se confortáveis nas legendas em que se encontram. Fora de cogitação para mudanças as bancadas do PT e do PMDB.

Nos que têm o comando de mais de um partido, como o deputado Isauro Calais, do PMN, é que residem as principais expectativas de mudanças, isto é, remanejamentos de nomes para facilitar a formação das chapas de vereadores.

Alguma expectativa também na faixa dos nomes cogitados para a prefeitura, além da decisão de João Vitor, ex-secretário no governo Tarcísio Delgado, de se filiar ao PRB, onde seria opção para a principal legenda dos evangélicos. Também com 20 dias para se definir partidariamente, e como possível candidato, o ex-reitor da UFJF, Henrique Duque. O PMN filiou o juiz aposentado José Armando da Silveira, mas nem ele nem seu partido disseram que se trata da sinalização de uma possível candidatura.

Passou o fim de semana em Juiz de Fora o deputado Lafayette Andrada, que representa a oposição ao atual comando do PSDB em Juiz de Fora. Está conversando muito sobre política. Não quer permitir que o partido entre em 2016 sem candidato próprio. É ele próprio uma opção.

  

CINEMA


Começa nesta segunda-feira o Circuito Universitário de Cinema, no auditório da OAB, na Avenida dos Andradas, mas com uma programação que se estenderá até o dia 24. A iniciativa é da Ordem e da Faculdade Doctum, que às 19h estará exibindo o filme Yoani, incluindo, após a exibição, um debate sobre a obra, com a participação de Deo Campos e Wagner Parrot. Toda a programação estará aberta ao público.



SINISTRO


Estudo elaborado por órgãos oficiais de finanças dos Estados Unidos, que em geral trabalham para o Departamento de Estado, revela que a corrupção que está sendo apurada na Petrobras constitui o maior escândalo dos tempos republicanos em todo o mundo. Mais um recorde indesejável.



CARNAVAL


Se se tomar por base o volume das mensagens de internautas, o cancelamento do desfile das escolas de samba no carnaval ganhou ampla aprovação. O cancelamento foi decidido pelas entidades carnavalescas diante do que consideram ajuda insuficiente da prefeitura.


A opinião pública entendeu que os tempos andam ruins e os cofres da prefeitura quase franciscanos. E as coisas podem estar piores no carnaval. 



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

                               “Rua das horizontais”


( Notas breves para a história da prostituição em Juiz de Fora )


Wilson Cid



“De gôndolas, em sonhos belos,
desfilam nobres casais:
os rapazes de Martelos
e as moças da Henrique Vaz”
(Parabuneidas)


Aquelas velhas estradas que os pioneiros abriam, caminho das aventuras e da ânsia de descobrir riquezas e caçar escravos, jamais escaparam de um destino comum: os bandeirantes passavam e deixavam para trás as roças recém-plantadas, um posto de pousada e poucas mulheres que se dispunham a ficar para servir com o corpo a viajantes ávidos, que depois de longas jornadas traziam grandes apetites de comida e amor. Sempre foi assim, e nada faria com que o Caminho Novo de Garcia tivesse diferente sorte.

Pelo que sei, os primeiros cronistas que por aqui passaram preferiram ignorar esse detalhe da incipiente ocupação do vale do Paraibuna. Nada registraram, como se não tivessem visto ou experimentado mulheres que se dedicassem ao ofício do sexo. Haviam contudo, pelo menos na Rocinha da Negra, na divisa das províncias, onde eram frequentes as baldeações e as paradas de Tiradentes, que desde 1783 dava combate aos assaltantes da estrada, o bando de Joaquim “Montanha”, que ficou famoso pela crueldade. Havia mulatas que trabalhavam na pequena propriedade rural que o alferes tinha no lugar, e consta que alimentava especial preferência por elas.

De forma que pelo Caminho Novo homem que passasse podia ir ao prazer antes de segui a viagem de semanas para Vila Rica. A propósito, para confirmar tais visitas, sabe-se que nessa época eram comuns os casos de crianças que cresciam apenas com as mães, sem que conhecessem nem soubessem o nome do pai. O pai ia-se quase sempre para sempre.


2 - À medida em que a cidade crescia, conta o historiador Roberto Dilly, os “homens de moral” cuidavam de afastar para o mais longe possível as mulheres que se dedicavam à prostituição, removidas do centro, mas não tanto; afinal a distância reduziria a clientela. Esse jogo de inconveniência não deixava de ter uma pitada de hipocrisia no receituário do moralismo. Mas tinha de ser jogado, em nome das famílias e das jovens recatadas.

Em Juiz de Fora, primeiro foi a Santa Rita, que a demarcação das ruas condenou a ser a sede da zona boêmia, com seus buracos, lama, esgotos aparentes e casas paupérrimas com cerca de bambu, Eram tais casas o primeiro endereço dessa gente de “vida airada”, expressão criada por Ignácio Gama, nosso primeiro escrivão de órfãos.

Segundo Dilly, ali viveram algumas que ficaram famosas, como a quase negra Lima, a Aninha Tamanduá, Florência Gambá e Merência, sem faltar uma que a todos apavorava, Frutuosa, com fama de feiticeira. De reza cruzada por prostituta e feiticeira ninguém escapava.

Com o passar dos anos a Santa Rita foi dividir a tarefa com a Rua do Sapo, que depois se chamaria Conde D' Eu e hoje é Fonseca Hermes. Tanto dividiu, que logo se estabeleceu um diferencial na categoria das prestadoras de amor pago. É de Jair Lessa, em seu “Juiz de Fora e seus Pioneiros”, a explicação: na Sapo, as mulheres ”sofisticadas, louras, de pés macios, enfeitadas com colares e brincos emprestados pelas cafetinas; na Santa Rita, para os viajantes pobres, mulher de segunda classe, “escrachada e cachaçal”.



3 - Mas a zona se atrevia a atender homens um pouco além de suas calçadas, atingindo seu comércio a parte baixa da Liberdade (Floriano Peixoto), Hipólito Caron e Avenida Kascher, como também a ribeira do Paraibuna. Paulino de Oliveira, “Memórias Quase Póstumas”, informa que em certa época, lá pelos anos 30, o meretrício começava na Marechal Deodoro, em frente à Galeria Pio X, atingia a Batista de Oliveira, depois a Floriano e a Hipólito Caron. Famosas por ali eram Maria Repinica e Rita Espanta Patrulha, esta capaz de encarar a polícia em qualquer circunstância.

Na Rua do Sapo algo a denunciava: a terra amarelada. Pedro Nava confirmou, ao falar de Felisberto Soares Horta, casado com sua prima. Era proibido limpar as botinas antes de entrar em casa, porque a mulher queria saber por onde o marido havia andado. Se chegasse com sinais de terra amarela dava-se mal...

A proximidade com o rio custou caro a elas, pois facilmente as água das enchentes invadiam seus quartos. Desalojadas, sem produzir e sem comer, ocasiões em que esse conjunto de misérias fazia prosperar nelas certo temor de que aquilo era mesmo castigo que os céus enviavam a quem pecasse na luxúria. Podia até ser castigo, não o suficiente para regenerações, sempre raríssimas. Mas na madrugada de 27 de janeiro de 1922, primeira vez em que a terra tremeu em Juiz de Fora, muitas traçaram o sinal da cruz, invocaram a proteção de Deus e correram temerosas para o Milheiros (Largo Riachuelo), onde se julgavam a salvo.



4 - Dias de faturamento geralmente coincidiam com os fins de semana. Mas bons mesmo eram aqueles em que os operários recebiam o salário, porque enquanto os casados corriam para casa, onde dívidas e despesas os esperavam, os solteiros tomavam o rumo das mulheres. E elas já sabiam quando haveriam de trabalhar mais: “Dia da Mineira”, “Dia da Pantaleone”, “Dia da Meurer”. Cada fábrica tinha o seu dia de suprimento.

Não menor era a capacidade da Hipólito Caron de denunciar a longo prazo os seus habitués. Nava, no “Baú de Ossos”, identificou ali um viveiro de sífilis, tragédia que infelicitou o amigo Isador (sic), sempre cuidadoso para não ser flagrado nas escapadas à zona. Era membro da União dos Moços Católicos. Certa vez, conta, “foi contemplado com uma carga composta de gonorreia de gancho e uma cavalhada de provocar inveja aos melhores haras”. Situações bem comuns na “crônica prostiputaz”, como o memorialista definia a Rua do Alecrim. Dilly anotou “Rua da Alegria” e “Rua das Pecadoras”, sem dizer exatamente onde elas se situavam. Mas provavelmente aquelas tradicionais de sempre.



5 - As peripécias da prostituição floresciam a ponto de preocupar o bispado de Mariana, que enviou emissário para tomar providências e sacudir religiosos que viam esse e outros problemas sociais com olhar de paisagem. Porém, nem por isso as memórias do comércio do sexo deixariam de ganhar deliciosas crônicas de Murilo Mendes, poeta que aqui nasceu e viveu na infância e adolescência. Na Europa, lembrava-se daquele tempo em que a aristocrática Juiz de Fora era “um pedaço de terra cercado por todos os lados”, mas sem esquecer das prostitutas mais famosas, a começa por Desdêmona, vice-putain da cidade; não a primeira, porque a precedência não podia ser negada a Ipólita (sem H). Desdêmona, que ninguém ficou sabendo de onde veio, ”foi plantar suas coxas na rua do amor industrializado, excomungado”.

Bem antes, ficou o caso pitoresco do grande romancista Artur Azevedo, que aqui morou alguns meses, e se foi queixando-se de que Juiz de Fora é fria demais no inverno e quente demais no verão. Pois Artur acabava de assistir no teatro à peça “O Naufrágio do Vapor Porto”, e, faminto, pediu que lhe indicassem o lugar onde àquela hora da noite pudesse comer. Um gozador recomendou a “Maison Moderne”, e só ao chegar lá ele descobriu que era um prostíbulo de baixa categoria...

Foi também nosso o advogado Amanajós Alcântara de Vilhena Araújo, com justiça celebrado como o maior e mais encrenqueiro boêmio de Juiz de Fora em todos os tempos. Fiel vassalo das bebidas fortes, bastava-lhe um pouco do álcool diariamente consumido para promover os maiores transtornos. Temido pelas crianças e evitado por toda gente de bem, Amanajós não perdia oportunidade de visitar a zona, onde, no dizer de Murilo, “moravam as horizontais e ele horizontalizava-se a noite inteira”. Desgarrafadamente bêbado, livre depois dos exercícios de Afrodite, certa madrugada acabou adormecendo junto à jaula de um circo, sem cuidar que ela ficara mal fechada, desmaiou junto ao leão Marruzko. Para sorte sua, o felino dormia o sono de um ancião desdentado e vegetariano...



6 - Na velha Redação do Diário Mercantil, lá pelos anos 50, veteranos repórteres ouviam no seu plantão histórias sobre conhecidas prostitutas do triângulo formado pelas ruas Sapo, Liberdade, Hipólito Caron e, mais tarde, a Henrique Vaz, para onde foram empurradas, quando o delegado Abreu decidiu que não podiam mais ficar nas ruas centrais. Cuspindo fogo, foram para o outro lado do Paraibuna, condenação a que o folclore da cidade atribuiu alguns insucessos do delegado na política. Praga de puta. Mas acaba que a Henrique Vaz é que se celebrizou como a grande e última zona da cidade. Foi onde, já no começo do fim, celebrizaram-se as pernas de Tereza, perfeitas, torneadas e cobertas de penugem suave que fazia lembrar pêssegos da melhor procedência. O sobrenome de Tereza era Bezerra, não do batistério, mas para celebrar uma de suas habilidades. Tal como as vizinhas, manejava também com destreza a navalha com que se defendia dos desaforos dos gigolôs. Brigas eram comuns e diárias, principalmente depois do consumo de cervejas e cachaças do Bar Brasil. “Corre que aí vem o Dorigatti”, investigador da Policia, com terno e sapatos brancos contrastando com o preto do bigode bem rapado.

Contava-se ainda, com muita graça, a história da singular Aurora, que teve uma passagem meteórica por Juiz de Fora. Certo dia de junho de 1940 ela desceu do Rápído, trem da Central do Brasil, foi para um dos quartos alugados para encontros na Floriano. Do pouco tempo em que morou aqui, ficou a fama de que só conseguia atingir ou fingir o clímax do prazer cantarolando a estrofe do Hino Nacional, ato inconsciente que talvez resultasse de um distante avô, protagonista da Retirada da Laguna na Guerra do Paraguai. Deu-se que, certa noite, prestando na cama seus favores ao cabo Expedito, corneteiro do Regimento, este não menos cioso das posturas cívicas recomendadas no quartel, pôs-se de pé, nu, com a mão e todas as demais parte do corpo em posição de sentido ao ouvir o primeiro sinal da estrofe o Hino. À inesperada cena de patriotismo seguiu-se o insucesso das boas intenções que o coitado acabara de trazer do quartel.



7 - Foram as aventuras e tragédias encenadas nos quartos de biombos de Desdêmona e Ipólita (sem H), da Florência Gambá, de Tereza e quantas alugavam o corpo para uma vida quase invariavelmente curta e trágica que se construiu a crônica da prostituição em Juiz de Fora. A “vida airada” foi desaparecendo aos poucos. As ruas da boêmia ganharam novas funções e biografias. Zona virou coisa demodê, e os que precisavam daqueles serviços ganharam outros endereços, ao ar livre no descampado da Titia no Aeroporto ou em companhia das moças que vinham trabalhar no K-2 de dona Carmem Maranhão.

Em meados da década de 60, na Radio Industrial, José Carlos e eu vivíamos o Repórter da Madrugada, com o carro de reportagem tentando descobrir onde estava a notícia naquelas horas quase mortas. Quanta vez o fato estava na Henrique Vaz!, velho domicílio daquelas pobres mulheres, damas de uma rua em fim de carreira, decadente, cenário apagado de incríveis histórias. Mas ainda a tempo de conhecer e entrevistar o legendário Juvenal, com seus oitenta e tantos anos, metade dos quais dedicados às “horizontais” com invulgares façanhas. Mas dele nada mais havia além da simbólica presença e velhas lembranças. Pobre Juvenal. Pendia inerte a veneranda tripa.






quinta-feira, 10 de setembro de 2015





CINTO APERTADO


A reedição da CPMF, imposto de renda mais pesado e congelamento de obras, ainda que muitas delas essenciais. Eis alguns dos itens da prescrição medicamentosa com que o governo acena para o tratamento das enfermidades da política econômico-financeira, que, digamos, talvez com uma dose de pessimismo, já se internou no CTI. Observe-se que, sem qualquer toque de criatividade, o recurso anunciado é o de sempre: transferir o ônus para os ombros do contribuinte. Nem o doutor Lery, considerado um especialista experimentado, cuidou de buscar receita mais criativa, e também manda transferir mais alguns quilos dos erros do governo para o costado de um País que já ostenta um primeiro lugar olímpico entre os mais cruéis e famintos na relação com os contribuintes.

Recorrendo aos sacrifícios de costume, que sabe muito bem transferir, o governo também vai deixando de lado a ideia da redução do número de ministérios, anunciada como contrapartida da pena a ser aplicada sobre a população. Poucos acreditaram ou ainda acreditam nesse corte na carne, até porque a redução de cargos significaria reduzir fontes de atendimento aos interesses políticos da base de apoio parlamentar. Sem cargos disponíveis e oferecidos o governo não respira.




VERSO E REVERSO


Não é coisa que se ignore a peste com que as drogas vêm que assolando a população jovem do Brasil e do resto do mundo, já com a certeza sinistra que estamos assistindo à derrocada de uma geração inteira, sem que se tenham à mão, pelo menos de imediato, recursos eficazes para conter o ritmo da tragédia.

Mas essa tragédia tem um segundo lado não menos desanimador, tomando-se por base fatos que se tornam conhecidos nos relatos de educadores diretamente envolvidos nas políticas municipais de combate ao tráfico e consumo de drogas. São os casos, não raros, de meninos e meninas que enfrentam o problema da dependência dos pais que vivem permanentemente drogados.

Em um determinado bairro, numa casa já por si miserável, duas meninas são obrigadas à tarefa diária de lavar o quarto comum, que fica num ambiente insuportável depois dos constantes vômitos da mãe, usuária de drogas, em quem os malefícios aumentam em razão da alimentação insuficiente.


Em outro caso, não menos trágico, duas adolescentes, já trabalhando, são muitas vezes chamadas a deixar a empresa e correr a Benfica para retirar da rua a mãe totalmente drogada e caída. 





sábado, 5 de setembro de 2015





GRAVIDADE E MISTÉRIO


Ficou como frase lapidar da semana aquela que o vice-presidente Michel Temer usou para pintar sombrio o futuro da presidente Dilma. Disse que do jeito como as coisas se precipitam, ela não tem como chegar ao fim do mandato. Eis uma declaração que tem tudo para estimular nossos problemas. Num primeiro momento parece ter faltado a ele uma dose de cortesia, considerando-se que é o sucessor de dona Dilma. Em segundo lugar, tomando-se que até há pouco era o coordenador político do governo, a convite dela, e portanto convivendo com as intimidades palacianas, seria de sua obrigação prestar à Nação maiores esclarecimentos, além de uma frase de previsão sinistra. Não se concebe que tenha ele chegado a uma constatação tão grave sem que saiba de coisas e fatos ainda mais sérios além de tudo que sabemos.

A semana também vai ser fechada sem esclarecimentos maiores sobre o que está acontecendo nas relações do ministro Leyv com a presidente e sua assessoria política. Há desencontros e ressentimentos que contribuem para ampliar as incertezas sobre a crise financeira. As correntes de influência no governo digladiam, num clima de confusão. O próprio governo desautorizou o ministro sobre alguns aspectos dos ajustes tributários, para depois, numa reviravolta, prestigiá-lo.
Para completar e agravar: vive em total desordem a base parlamentar que tem obrigação de ajudar a presidente.



CRISE COMPENSADA


O cancelamento do desfile das escolas de samba no carnaval de 2016 é um dado a mais para demonstrar que os cofres realmente andam pobres. Essas escolas não conseguem se autofinanciar, não promovem durante o ano, não fazem dinheiro. Se a prefeitura deixa de financiar não há desfile. Fica uma advertência: desfile não pode ser patrocinado exclusivamente com dinheiro público.

Na quinta-feira, ao falar na inauguração da creche Marcelo Gaio, o prefeito Bruno Siqueira garantiu que, apesar da crise, a cidade nunca teve um volume de obras como o que agora se vê. Para compensar os problemas nacionais, diz que sua equipe está trabalhando mais, sem tolerância com corrupção e com aplicação inadequada do dinheiro público.



A PROPÓSITO...


Se faltava para a cidade uma obra do nível de primeiro mundo, o mês de setembro foi inaugurado com a creche Marcelo Gaio, no bairro Santos Dumont.

Diante do que se tem ali, nada mais se pode exigir para empreendimentos desse tipo.