quinta-feira, 30 de junho de 2016





BASTIDORES



1- As pesquisas de opinião sobre a intenção de votos dos pretensos candidatos à Prefeitura são noticiadas “à boca miúda” nos ambientes políticos da cidade, toda vez que se fala da eleição municipal. Mas, ninguém informa sobre pesquisa registrada no Justiça Eleitoral, o que possibilitaria conhecermos a metodologia usada e analisar os números apurados pelos entrevistadores, e as conclusões dos analistas contratados.

Como são notícias oficiosas não podem ser consideradas verídicas. O que se sabe das pesquisas de opinião sobre a intenção dos eleitores juiz-foranos (até o momento) aponta que mais da metade prefere os nomes (em ordem alfabética) já conhecidos de políticos locais: Bruno (prefeito), Margarida (deputada federal) e Noraldino (deputado estadual). Como a campanha só começa em meados de agosto “muita água vai passar debaixo das pontes”, e as pesquisas oficiais certamente surgirão para elucidar qual a tendência eleitoral do povo desta cidade.


2 -  Ouviu-se um comentário no calçadão da Rua Halfeld, ao cair da tarde de segunda-feira, que o suplente de deputado federal Wadson Ribeiro (PC do B), embora articule sua candidatura à Prefeitura,  no fundo espera uma composição política com o PT. Segundo um interlocutor do ex-deputado o caminho natural seria manter ao nível municipal a sólida aliança nacional. O PC do B manteve-se fiel ao PT ‘na alegria e na tristeza’, então por que caminhar separado nas eleições municipais numa cidade deste porte?. O sucesso da deputada federal Margarida Salomão seria a efetivação de Wadson Ribeiro como deputado federal, abandonando definitivamente a suplência na segunda metade do mandato. O governado Pimentel (PT) poderia intermediar essa pendenga, tendo em vista suas boas relações com os comunistas no Estado.


3 – Como farão os candidatos? Pela primeira vez não terão a ajuda de pessoa jurídica para financiar a campanha, mas só de pessoa física, esta podendo contribuir com até 10% do rendimento que declarou no imposto de renda do exercício anterior. Certamente exercitam-se as formas de mascarar, com retoques de legalidade, as doações de grande empresas. Dá-se um jeito, sempre.


4 – O PDT tem se reunido para debater possível apoio à candidatura do prefeito Bruno Siqueira. O atual secretário de Governo da Prefeitura de Belo Horizonte, Vitor Valverde, que chegou a ser cogitado, vai disputar, dentro de dois anos, uma cadeira de deputado federal. E já trabalha o eleitorado da região.




Memória (XI)


Veio de dezembro de 1865 a decisão da Câmara de Vereadores de exigir, por força de lei, a interligação definitiva do bairro Mariano Procópio ao centro da cidade, que até então viviam praticamente isolados e em frequentes litígios. O viajante e cronista Richard Burton, que por aqui passou, hospedou-se em um hotel de Mariano, e registrou que os moradores de lá se ufanavam de nada terem a ver com a cidade velha, referindo-se a Juiz de Fora.

Tratava-se de um sentimento que vinha do tempo em que a estação ferroviária, chamada Rio Novo, situava-se naquele bairro. Juiz de Fora ainda não tinha sua estação.
Inspirado nas desavenças entre os moradores, chegou a haver um movimento de separação territorial. O lugar se tornaria cidade independente, com o nome de Marianópolis, como registrou o historiador Jair Lessa.







quarta-feira, 29 de junho de 2016







VIOLÊNCIA EM CENA


O psicólogo juiz-forano Jacob Goldberg, que tem seus primeiros anos de vida no velho Granbery, hoje trabalhando em S.Paulo, onde tem um dos consultórios mais procurados. Foi interessante a palestra que pela televisão ele tratou da delinquência juvenil, tema que ganha preocupante atualidade, quando se sabe que dois entre três menores que se entregaram ao crime não tiveram convivência com o pai. Ficaram confiados à mãe ou a parentes, estes também ausentes por terem de trabalhar. Jacob adverte para a importância de os meninos estarem com o pai, não apenas com a mãe. O pai, estando ausente, contribui para que o menor busque nas ruas e no convívio com estranhos a figura do herói e do protetor que não encontra em casa. Esse herói, não raro, será o bandido, que não tem regras nem leis para obedecer e é um péssimo professor.

O pronunciamento do psicólogo juiz-forano sugere reflexões mais demoradas, numa sociedade em que os meninos   estão cada vez mais esquecidos e carentes de amor.

Outra intervenção no campo da violência e do crime é do engenheiro civil Marcelo Frank, que trata da questão diretamente frente aos desafios de Juiz de Fora nesse campo. Transcrevo sua reflexão, intitulada “O Município e a segurança pública”.

"A violência está presente também em Juiz de Fora. Os dados estatísticos demonstram essa perversa evolução. Os homicídios e as tentativas de homicídios registrados na cidade revelam uma reprodução do fenômeno da violência, que acontece nas regiões metropolitanas do país. Juiz de Fora já foi uma cidade boa de viver, relembram os habitantes mais antigos. A população um dia se orgulhou desse valor. Hoje os moradores desta cidade compartilham suas apreensões da intranquilidade de ir e vir pelas nossas ruas.

Os governos e a sociedade precisam, com certa urgência, tomar decisões capazes de inibir a progressão desses fatos lamentáveis, sob o risco da situação sair do controle. Afinal, segurança pública é um direito humano! E como tal devemos lutar por ele. Bem sabemos das causas estruturais que contribuem para o fenômeno da violência, mas também conhecemos programas governamentais que têm se revelado ineficazes no enfrentamento da questão.

O diálogo entre governo e sociedade precisa evoluir de forma que a insegurança pública possa diminuir. O município se defronta com a situação de insegurança e o cidadão destina a demanda ao gestor municipal. Mas a competência é do governo estadual. Isto é verdade por preceito legal. Entretanto, as polícias não estão dando conta da escalada de violência. As políticas públicas sociais que objetivam a inclusão social precisam de mais recursos para diminuir a quantidade de jovens envolvidos na violência urbana.

O que fazer? Como o município pode contribuir para melhorar a sensação de segurança do cidadão? O prefeito pode melhorar a segurança pública da cidade quando estabelece parceria com o governo estadual em diversos aspectos dentro de sua competência legal. Um exemplo é quando a Prefeitura, através do setor atinente ao assunto, mantém a iluminação pública de forma permanente e abrangente. As correções de defeitos e a substituição de lâmpadas queimadas precisam muito da rapidez. Outro exemplo de cooperação são as câmeras de vigilância em logradouros, inibindo os crimes ou ajudando a identificar criminosos. Nestes casos a manutenção do serviço precisa ser efetiva nas ruas, praças e demais espaços públicos.

As iniciativas citadas anteriormente já existem em nossa cidade, podendo ser aprimoradas e otimizadas. Outras poderiam ser lembradas caso fosse feito um inventário completo dos acordos de cooperação entre os governos municipal e estadual. O que nos preocupa é a possibilidade de municipalização da segurança pública, assim como ocorreu com a saúde e a assistência social. Na prática, o município recebeu as obrigações de atendimento dessas políticas públicas, mas sem o necessário aporte de recursos. As guardas municipais, que inicialmente se destinavam à proteção do patrimônio de propriedade do município, gradativamente tendem a absorver outras tarefas da segurança pública.

As próximas eleições municipais vão proporcionar o debate deste assunto, e os candidatos à Prefeitura e à Câmara Municipal deviam elaborar suas propostas para o tema, de forma objetiva e sem onerar mais o orçamento municipal. O aprofundamento do tema pode inserir soluções possíveis para o problema da segurança sem desconhecer as causas estruturais e sem cair na tentação de municipalizar mais uma política pública".



MEMÓRIA (X)


Muito mais que o concurso de uns poucos homens deslocados para dar combate aos paulistas de 1932, Juiz de Fora se inscreveu na crônica daquele conflito constitucionalista graças a uma atitude corajosa do juiz-forano Hélio Lobo, advogado e deputado. Naquele ano, estando a serviço da embaixada brasileira na Holanda, ele se recusou a dar visto em documentos de despacho de armas e munições para o Brasil, que teriam logo o destino da frente de luta contra os rebeldes. Negou-se, mesmo sabendo que tal atitude poderia comprometer sua carreira. Em carta pessoal ao presidente Getúlio Vargas, Hélio explicou que assinando a documentação consular estaria contribuindo para o morticínio de jovens idealistas, referindo-se aos soldados de São Paulo.  






terça-feira, 28 de junho de 2016






REGISTROS


1) Ontem, os 90 anos da fundação do Centro Industrial passaram sem comemoração, certamente pelo fato de o momento da política econômica não recomendar festividades. Mas esse mesmo momento sugere abrir uma ampla discussão sobre o futuro dos pequenos e médios produtores, que vêm perdendo espaço para os grandes grupos, ainda que reconheçam sua importância.  Detalhe que merece uma avaliação mais cuidadosa  é o esgotamento do capital produtivo local, sem condições de medir  forças com o capital que procede de outras praças.

O tema pode,inclusive, tomar parte nas agendas da próxima campanha eleitoral.



2) São muitas, embora sem um número definido, as vagas que ocorrerão no segundo escalão da Administração Municipal, por força da desincompatibilização dos funcionários que são obrigados a se afastar para poderem concorrer a uma cadeira na Câmara. Os cargos vagos serão conhecidos até sexta-feira, cabendo ao prefeito Bruno Siqueira preenchê-los logo. Quanto ao primeiro escalão, os que saem são os que, derrotados na eleição passada, tentam retornar ao Legislativo.



3) Tirante a eleição de outubro, que definirá muito do futuro próximo da cidade, já se tem como certo que são dois os acontecimentos que ficarão como os mais importantes no calendário promocional de 2016: a passagem da tocha olímpica e a Bienal do Livro, esta com o mérito de mostrar que a cidade gosta de ler, bastando que esse gosto seja prestigiado. Incrível a multidão de visitantes e compradores.
    


4) O registro do patrimônio imaterial carece de descobrir caminhos capazes de levá-lo a se compatibilizar com o mercado, definindo os interesses de cada qual. Foi o que defendeu a superintendente do IPHAN, Célia Maria Corsino, ontem, na palestra inaugural do V Seminário Olhar Sobre o que é Nosso, promovido pela Funalfa no auditório do Banco do Brasil. Ela citou como exemplo o caso das mulheres que trabalham com bilros, consumem dois meses para produzir a toalha que entregam por  R$ 15 e que será vendida a R$ 500 em S. Paulo.  Outro exemplo da exploração do trabalho artesanal é o chamado “fio de ouro”, que sai da roça com valor ínfimo, para produzir bolsas femininas caríssimas nas grandes capitais.

O superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, abriu o Seminário propondo uma ampla reflexão sobre os bens imateriais; não apenas a reflexão, mas o sincero desejo de valorizá-los e preservá-los.


MEMÓRIA (IX)


Eleito deputado federal em 1903, Francisco Bernardino opôs-se firmemente, na Câmara, aos projetos de favorecimento da imigração de japoneses, o que contribuiu, para que, ao contrário de São Paulo, Juiz de Fora e a região não se beneficiassem dessa mão de obra, importantíssima  para a agricultura. Bernardino, discursando em agosto de 1908, advertiu para a superioridade de o trabalho japonês colocar em risco o emprego dos brasileiros, e estendia sua preocupação aos chineses, estes cogitados para virem, quando do processo de substituição dos escravos libertos. Iriam para a Hospedaria Horta Barbosa, na Tapera, onde os italianos haveriam de sofrer muito.


Francisco Bernardino era um conservador, o que não impediu que fosse indicado pelos sindicatos locais para levar reivindicações ao parlamento. Para mostrar sua gratidão ao que esperavam dele, presentearam-no com uma caneta  de ouro cravejada de brilhantes.  





sexta-feira, 24 de junho de 2016






Sem reeleição


O presidente Michel Temer tem dito e garantido que, qualquer que seja o futuro do País, não disputará um segundo mandato. Acha que, se levar a bom termo os dois anos de lhe caíram ao colo já se considerará ajudado por Deus. Mas, se ocorrer o êxito que espera, não lhe faltarão opções para fechar a biografia no Senado ou no Supremo Tribunal.

Quanto a não disputar mais, deixam de pesar as superstições relacionadas com a maldição do segundo mandato, que no caso de Lula e Dilma significou uma imensa perturbação ética e moral na política. Mas há casos em que os resultados foram piores. No segundo mandato Lincoln foi assassinado, Nixon sofreu impeachment, George Pompidou morreu de câncer, Getúlio suicidou-se e Jango foi apeado do poder.



O cerco


A prisão do ex-ministro Paulo Bernardo, acusado de grave envolvimento com a corrupção nos dois últimos governos, não deixa dúvida de que as investigações da Lava Jato vão apertando o cerco para, numa etapa final, chegar ao ex-presidente Lula. O doutor Janot quer se armar de todos os indícios e provas para não escorregar em decisões apressadas. Sem que nisso se dispensem cuidados políticos. Por exemplo: não haverá maiores avanços até que o Senado resolva o destino da presidente afastada.



Seminário


Termina nesta sexta-feira o prazo para a inscrição dos interessados em participar do V Seminário ”Olhar sobre o que é nosso”, promovido pela Funalfa, com palestras a partir de segunda-feira no auditório do Banco do Brasil. A inscrição é gratuita com vagas limitas a 150 cadeiras.

A primeira palestra, na segunda-feira, às 14h30min, estará com a superintendente do IPHAN de Minas, Célia Corsino, com o tema “Política participativa de patrimônio imaterial”.
     


Memória (VIII)


O prestígio de Juiz de Fora junto à Corte, particularmente ao pé do trono de Dom Pedro II, ficou patente para a História com o número de nobres que aqui viveram durante o Império. Quando a Família Imperial foi banida eram 29 os nossos barões e viscondes, quase todos patriarca da cafeicultura.  Dentre eles, 10 haviam sido presidentes de Minas, Rio de Janeiro, Sergipe, Piauí, Pernambuco e Espírito Santo.


Caso particular foi Manoel Vieira Tosta, Barão de Muritiba, que pegou a mulher e, voluntariamente, acompanhou Dom Pedro no exílio. Antes de ir doou as ações que tinha no Colégio Progresso para manter estudantes pobres. Mas Muritiba foi caso único de lealdade ao imperador, pois a maioria dos velhos barões logo se acomodou aos ritos da República. Tanto que em 1890, reunido na cidade, o Partido Republicano Mineiro votou pela sua dissolução, como protesto contra os monarquistas adesistas.  





quinta-feira, 23 de junho de 2016






BELA JOGADA


No bilhar dá-se o nome de tacada de mestre. Na política, coisas como, por exemplo, o acerto que o presidente Michel Temer acaba de celebrar com os  governadores, congelando as dívidas dos estados com a União nos próximos seis meses, após os quais vai se tentar uma solução compatível para o encaminhamento dos débitos. No caso de Minas, um dos devedores mais encalacrados, isso significa cerca de R$ 800 milhões mensais. Na contrapartida, os governadores assumem o compromisso de estabelecer limites para as despesas e poderão investir mais em obras.

Feito o ajuste, cabe avaliar seu significado político. Temer amplia e consolida sua base parlamentar, pois os governadores, que agora respiram, têm grande influência no Congresso. É oportuno lembrar que a indigência do diálogo com os parlamentares e governadores fez parte das aflições e derrotas dos presidente Collor e Dilma, ambos impacientes no lidar com os políticos, que são gente de difícil trato e insaciáveis nas postulações. É preciso paciência.

Ao ganhar a simpatia dos estados o presidente Temer, cada dia menos interino, sabia que as dívidas dos estados são problema para as calendas. Não ia mesmo receber. A compensação foi faturar politicamente, o que inclui para um futuro mais distante as bases da repactuação federativa.   



SEM REELEIÇÃO 


Garante o presidente Temer que não lhe passa pela cabeça o projeto de disputar a reeleição, embora a História mostre que isso depende muito mais das circunstâncias e dos interesses do momento que propriamente da vontade pessoal, mesmo que sincera. Saindo em janeiro de 2019, Temer poderia disputar uma cadeira no Senado por São Paulo ou subir a uma vaga no Supremo Tribunal, jurista que é.  



HAVERÁ VAGAS


Dentro de mais algumas horas o prefeito Bruno Siqueira terá vários cargos vagos na Administração, deixados pelos comissionados ou ocupantes de funções de confiança. Resultado da desincompatibilização dos que pretendem disputar as 19 cadeiras de vereador. Ainda não se sabe ao certo quantas serão essas vagas, mas há quem faça previsão de 20 a 30. Em 2 de julho, três meses antes da eleição, os candidatos deverão estar fora.

Detalhe a prevalecer é que para o preenchimento desses cargos vão influir as alianças partidárias construídas em torno da candidatura de Bruno ao segundo mandato.   



MEMÓRIA (VII)


No dia 28 de outubro de 1891 o Congresso Mineiro, reunido em Barbacena, determinou que cinco localidades fossem avaliadas para sediar a futura capital do Estado, substituindo Ouro Preto, que já não comportava mais os encargos oficiais. Cinco sugestões foram logo indicadas por uma comissão formada e presidida pelo engenheiro Aarão Reis. O relatório, instruído por várias argumentações, entre as quais “a capacidade de a futura capital comportar até 200 mil habitantes”, indicou: 1) Curral del Rei; 2) Paraúna, próximo a  Curvelo, no centro geodésico de Minas; 3) Barbacena; 4) Várzea do Marçal, próximo a São João Del Rei, e 5) Juiz de Fora.  Mas ao final a lista estava reduzida a Juiz de Fora, Curral Del Rei e Várzea do Marçal.

Em dezembro de 1893, ainda reunido em Barbacena, o Congresso encaminhou ao governador Bias Fortes para sanção a Lei Adicional nº 3, definindo a área do Curral Del Rei, mas exigindo que a nova capital se chamasse Cidade de Minas, o que Silviano Brandão não cumpriu, determinado, quatro anos depois, que a capital voltasse a se chamar Belo Horizonte.





quarta-feira, 22 de junho de 2016






Responsabilidades


Em reunião na Câmara, vereadores debateram, mais uma vez, a conveniência de a Guarda Municipal ser equipada com arma letal, solução defendida pelos que veem nessa corporação falta de condições para enfrentar criminosos. O que revela estarmos insistindo em confundir guarda com policial. A este, sim, cabe enfrentar bandidos e, se necessário, fazendo uso de armas de fogo. Já o agente municipal tem como tarefa a guarda das coisas, do patrimônio da cidade e colaborar na ordem pública. Quando preciso, chama a polícia.

Mas há nessa discussão um detalhe que cabe considerar, pois é importante. Trata-se da paulatina e perigosa transferência ao município das responsabilidades que cabem constitucionalmente ao Estado e à União. Elas vão sendo transferidas, como saúde e educação. Agora segurança, que o Estado vem nos oferecendo com as conhecidas limitações. É preciso reagir, pois dentro de mais alguns anos o governo tira das ruas soldados, dizendo que o problema não é dele, mas dos cidadãos.


Enrustidos


Já vamos entrar no mês das convenções partidárias que formarão as chapas, anuncia-se os que vão disputar a prefeitura e muitos nomes para a Câmara, mas nada sobre os candidatos a vice. É o suficiente para confirmar que são reféns das alianças e delas dependem basicamente. E as alianças, por sua vez, dependem dos preciosos segundos que podem oferecer para a propaganda eleitoral na televisão e no rádio.



Temer na parede


O presidente Michel Temer começa a mostrar sinais positivos na reordenação da política econômica, mas ainda escorrega na política, vítima das composições políticas que se viu forçado a fazer no momento tumultuado da transição. Ele viveu e vive um momento que estabelece alguma similitude com a observação de  Joaquim Nabuco, para quem a fatalidade das revoluções é que sem os exaltados não é possível fazê-las, e com eles não é possível governar.
Sem os velhos caciques Temer não teria como organizar seu governo, mas com eles não é possível governar.



Inacreditável


Confirmados os financiamentos escandalosos liberados pelo BNDES para projetos internacionais que se valeram do dinheiro dos brasileiros. A lista das obras e das empreiteiras beneficiadas está hoje na internet:

Porto de Mariel – Cuba – US$ 682 milhões – Odebrecht;
Hidrelétrica Manduriacu – Equador – US$ 124.8 milhões – Odebrecht;
Hidrelétrica San Francisco – Equador – US$ 243 milhões – Odebrecht;
Hidrelétrica de Chagilla– Peru – US$ 320 milhões – Odebrecht;
Metrô da Cidade do Panamá – Panamá – US$ 1 bilhão – Odebrecht;
Autopista Madden-Colón – Panamá - US$ 152,8 milhões – Odebrecht;
Aqueduto de Chaco – Argentina – US$ 180 milhões – OAS;
Ferrocarril Sarmiento – Argentina – US$ 1,5 bilhões – Odebrecht;
Metrô de Caracas – Venezuela – US$ 732 milhões – Odebrecht;
Ponte sobre Rio Orinoco – Venezuela – US$ 300 milhões – Odebrecht;
Barragem Moamba – Moçambique – US$ 350 milhões – A. Gutierrez;
Aeroporto de Nacala – Moçambique – US$ 125 milhões – Odebrecht;
BRT de Maputo – Moçambique – US$ 180 milhões – Odebrecht;
Hidrelétrica de Tumarin – Nicarágua – US$ 343 milhões – Q. Galvão;
Projeto El Chorro – Bolívia – US$ 199 milhões – Queiroz Galvão.



Memória (VI)


Se bem contadas, devem chegar a meia centena as leis municipais superadas, inadequadas ou exóticas, absolutamente inaplicáveis. Entre elas não falta uma que peca pelo preconceito étnico, e é também a mais antiga, pois vem do Código Municipal de 1853, que, em suas disposições gerais, determina que nenhum cigano permaneça em Juiz de Fora por mais de 24 horas. Dois anos depois, além de confirmar tal exigência, o Código fixou em 60 mil réis o valor da multa sobre qualquer cidadão que comercializasse com ciganos.


Em 1954, num artigo publicado em jornal, Lindolfo Gomes chegava à conclusão de que esse foi caso único em todo o Brasil.







terça-feira, 21 de junho de 2016






Registros


 1) Quaisquer que sejam os candidatos a prefeito, independentemente dos partidos ou das correntes ideológicas que representem, há um desafio comum, que desde já deve aguçar a curiosidade dos eleitores mais interessados nos destinos da cidade. É como pretendem resolver o grave problema da nossa indigência financeira, que impede a realização de obras fundamentais. Costuma-se recorrer às relações políticas com o Estado e com o governo federal, mas estes estão em situação ainda pior. Qual o caminho que pretendem inventar?    

2) Garantem os observadores que o final do mês pode ser decisivo para o governador Fernando Pimentel, sob suspeita em alguns inquéritos. A Procuradoria-Geral da União não tem dúvida de seu envolvimento na captação ou desvio de dinheiros suspeitos.

3) Parece ser a próxima eleição a primeira a ter como candidatos a um novo mandato todos os 19 atuais vereadores. O que estreita oportunidades para quem vai disputar pela primeira vez.

4)  Em nota anterior, que confirmou a candidatura a prefeito do deputado Lafayette Andrada, faltou informar que seu partido é o PDS, não de outras legendas parecidas, das quais pode esperar apoio.   



Memória (IV)


As queixas que hoje se fazem contra o frio excessivo têm antecedentes ilustres. Dele já falava Murilo Mendes em “Idade do Serrote”, quando se via obrigado a recorrer ao aconchego de sua Sebastiana para se aquecer.

Sílvio Romero, um dos grandes escritores do País, veio morar na Rua de Santo Antônio em 1911, e ali produziu parte de sua História da Literatura Brasileira. Escreveu a um amigo anunciando que estava de saída. ”Não demoro mais em Juiz de Fora, cujo clima é frigidíssimo no inverno”, como recorda Dormevilly Nóbrega. Sílvio morreu em 1914.


Em tempos passados, outro ilustre que aqui morou, Louis Creosol (1867-1930) meteorologista dos maiores do seu tempo, conseguia dar a Juiz de Fora algumas dicas do tempo, na Rua do Sapo (Fonseca Hermes), onde hasteava pequenas bandeiras de cores diversas para indicar a previsão do tempo. Bandeira cinza era sinal de mais frio. E não errava. 




segunda-feira, 20 de junho de 2016



Lafayette presente


O deputado Lafayette Andrada confirmou ao blog que vai disputar a prefeitura em outubro, sendo oficializada sua candidatura em fins de julho. A convenção, ainda sem data definida, deverá ocorrer com base em alianças que ele e seu partido, o PST, estão construindo. Com quatro vereadores, o PST é hoje a bancada majoritária na Câmara Municipal.

Lafayette entende que pode apresentar um plano de governo compatível com as ansiedades da população, da qual faz parte há anos, quando se mudou para Juiz de Fora. “Acredito que neste momento o grande anseio dos juiz-foranos é uma proposta nova e disposição para a retomada do desenvolvimento”, diz ele.

Com a decisão do deputado sobe para cinco as candidaturas confirmadas. Além dele, entram na disputa Bruno Siqueira, Wilson Resende, Noraldino Júnior e Margarida Salomão.   

Até o final deste mês os partidos deverão fixar as datas de suas convenções, que geralmente são marcadas de acordo com as disponibilidades da agenda dos deputados.



Memória (IV)


Na Constituinte de 1934, quando se propunha a introdução na Carta Magna da representação classista e o bicameralismo – uma Casa técnica e outra política – duas personalidades de Juiz de  Fora tiveram papel destacado. Albert Surek, fundador do Sindicato dos Bancários e promotor, no ano anterior, do Congresso Sindical Proletário, foi um dos 11 delegados de Minas. 

Outro papel importante desempenhado por Odilon Braga, que havia sido personalidade fundamental na Revolução de 30 e depois ministro de Vargas. Coube a ele relatar a questão classista no capítulo referente ao Poder Legislativo. Esse relatório ajudou a sepultar a inovação, baseando-se, entre outros argumentos, no fato de no Brasil as classes não estavam perfeitamente definidas.







sábado, 18 de junho de 2016






Gol de mão


Segundo Eduardo Almeida Reis, que de Juiz de Fora escreve para o Brasil as coisas mais sérias que precisam ser ditas, nada tão idiota e hipócrita que o protesto de patriotas que se irritaram com a derrota da seleção frente ao Peru, com um gol de mão dos adversários. Ora, se estamos num País onde todo mundo mete a mão, qual a queixa?

Vem a  propósito, quando por aqui já não sabemos mais quem não cedeu à propina. Todos metem a mão e o crime se generaliza. E agora, até o presidente, em quem são depositadas esperanças na retomada do desenvolvimento e da paz social. Algo preocupante, mesmo quando se sabe que as denúncias partem de um Sérgio Machado e outros semelhantes, que, podendo até estar dizendo a verdade, são gente originalmente desacreditada que cometeu os mesmos crimes pelos quais tenta escapar das malhas da Justiça pela discutida via da delação premiada.

Apontam o dedo indicador, sabendo que os outros dedos voltam para si próprios. Os julgadores estejam então de ouvidos atentos para as ciladas, sem descuidar da apuração cuidadosa dos fatos apresentados, pois a delação, mesmo sob alguns aspectos útil à Justiça, carrega sempre alguma suspeição. É fenômeno genético. Os delatores, antes de tudo, estão à caça de um prêmio para reduzir os castigos a que serão condenados.

É um detalhe a ser considerado, sobretudo quanto à imediata divulgação das suspeitas, pois se lançadas, causam danos irreparáveis aos eventuais inocentados.

Por fim, não custa repetir: não nos bastará enterrar os corruptos e os agentes da corrupção. O que temos de sepultar com eles é o sistema político-eleitoral que os favorece. Se a Justiça ficar apenas nas pegadas desses criminosos da hora em breve eles ou seus herdeiros estarão de volta.



Memória (III)

   
São antigas as dificuldades de diálogo das lideranças da cidade com o governo estadual, salvo as raras exceções com Antônio Carlos e Magalhães Pinto. Já no começo do século passado enfrentávamos a má vontade de Cesário Alvim, que colocava a cidade em plano secundário na distribuição de recursos e, entre outras coisas, procurou desestimular o projeto da Academia de Comércio. Ouro Preto, capital da província, odiava a gente de cá. “Pessoal rude de fazendeiros e operários”, diziam lá.

Os problemas iriam se acentuar em 1937 quando da visita do governador Benedito Valadares, que apoiava a candidatura de José Américo à presidência da República. Ao passar em frente ao prédio da Rua Halfeld, 758, onde funcionava o comitê de José Armando Sales, foi alvo de estrondosa vaia, seguida de pedras atiradas pelos admiradores do candidato adversário. Isso o desagradou  muito. Fechou-se para Juiz de Fora.



  

quinta-feira, 16 de junho de 2016





TEMPORADA DAS ALIANÇAS


Conhecidos quatro nomes para disputar a prefeitura, com escassa possibilidade de que esse número seja ampliado, aos pequenos partidos sobra espaço para a elaboração das alianças. A decisão da deputada Margarida Salomão de entrar na disputa, pelo Partido dos Trabalhadores, garante oportunidade para partidos e correntes de esquerda, a começar pelo PCdoB, que com a entrada da deputada ganha um argumento para abandonar o arriscado projeto de candidatura própria.

O prefeito Bruno Siqueira, que deve mesmo contar com o apoio do PSDB, tem assegurado sete legendas que estão se consolidando em torno de sua candidatura, a começar pelo PTB e possivelmente logo com o DEM.

O deputado Noraldino Júnior, cuja candidatura é amplamente trabalhada nas redes sociais, tem conversado muito com representantes de pequenos partidos, terá o apoio de alguns, mas parece interessado em não tornar publicas as adesões. Por enquanto.

O empresário Wilson Resende, do PSB, não fala de alianças, mas garante que suas pesquisas já lhe creditam dois dígitos. Ele terá na campanha a experiência do grupo político do ex-prefeito Tarcísio Delgado, que sempre disputou com apoio de boas alianças.

Os acordos interpartidários são importantes tanto pelo voto que produzem e pelo segundos de televisão que negociam, como também porque vivem a expectativa de poderem indicar o nome do vice.



MEMÓRIA (II)


Raros – nada além de cinco – foram os políticos com militância em Juiz de Fora que lograram chegar ao governo do Estado:

1) Luiz Eugênio Horta Barbosa, nasceu e morreu em Juiz de Fora, e foi presidente das províncias do Espírito Santo, Piauí, Alagoas e Minas (1887-1888) .

2) Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente de Minas em 1926, depois de ter sido vereador e agente executivo em Juiz de Fora.

3) Nísio Batista de Oliveira, que governou o Estado a partir de 1945 durante ano e meio,

4) João Tavares Beraldo, nomeado interventor pelo presidente Eurico Gaspar Dutra em 1946, ficando no cargo durante sete meses.


5) Itamar Franco (apenas ele e Nilo Peçanha governaram seus estados depois de terem sido presidente da República). Ex-prefeito e ex-senador foi eleito em 1998 para o Palácio da Liberdade para um mandato de quatro anos.  





terça-feira, 14 de junho de 2016






REGISTROS

1) No final do ano passado o senador Aécio Neves propôs que o PSDB não abrisse mão de ter candidato próprio às prefeituras em municípios com mais de 200 mil eleitores. No caso, Juiz de Fora também. Sabendo-se que estaria desinteressado nessa jornada o ex-prefeito Custódio Mattos, aventou-se o nome do deputado Lafayette  Andrada, que à época era tucano. De lá até agora o partido não sentiu base em outro nome, o que vem contribuindo para levá-lo a  apoiar a reeleição de Bruno Siqueira.

2)  O PTB, que agora em Juiz de Fora pertence ao grupo político do deputado Isauro Calais, foi o primeiro a promover pré-convenção, passo inicial para fechar a chapa de candidatos a vereador, que inicialmente pretendia ser completa, mas deve se abrir a uma coligação na  proporcional. Quanto à eleição majoritária, o caminho é o apoio a Bruno.

3) A incrível sucessão de fatos novos e graves no quadro político em Brasília tem dificultado a ausência dos deputados federais para assistir na cidade as conversações sobre a sucessão municipal. O que também concorre para manter os acertos finais em suspenso.

4) Conhecida a tragédia moral em que está mergulhada a política, com raríssimas figuras a salvo no vasto oceano da corrupção, indaga-se com que discurso os candidatos vão tentar chegar aos eleitores em outubro e sensibilizá-los?

5) É mais que suficientemente conhecida a tática das bancadas do PT e do PCdoB no Senado: atrasar, tanto quanto possível, os trabalhos da comissão processante do impeachement da presidente afastada Dilma Rousseff, de forma que se esgote o prazo de seis meses para a conclusão dos trabalhos, e ela volte ao cargo, mesmo com o tumulto que o retorno provocaria na vida nacional.

6 ) Preso há cinco dias na Penitenciária de Linhares, pelos atos de corrupção conhecidos, quantos dos antigos colaboradores e os novos companheiros pastores já foram visitar o ex-prefeito alberto bejani.



MEMÓRIAS (I)

Nem sempre o poder e o prestígio definem a eleição de um vereador, que muitos consideram a mais difícil de todas. Foi o que se viu em 1860, quando os dois homens mais poderosos da cidade tiveram de se contentar com uma suplência. Henrique Halfeld ficou em 11 lugar,com 442 votos, e Mariano Procópio em 18, com 201 votos. O mais votado foi José Capistrano Barbosa, 652, de quem a cidade nunca mais ouviu falar.

Em 1900 o notável poeta Belmiro Braga, que o Brasil inteiro aplaudia, não conseguiu ser eleito vereador onde nasceu, distrito de Vargem Grande,que mais tarde se penitenciou adotando o nome dele.




quinta-feira, 9 de junho de 2016






DOIS FOGOS


Sob um clima político em que disputam primazia as tensões provocadas pelos inquéritos e as expectativas geradas pela ânsia da retomada do desenvolvimento, o presidente Michel Temer situa-se em posição delicada. Ele tem de dar atenção aos setores produtivos, que pedem ações rápidas de uma gestão definitiva, e, ao mesmo tempo, tem de ouvir segmentos políticos que pedem paz nas relações institucionais, longe da Polícia Federal e da Justiça. Os partidos da base, que dão apoio parlamentar para a aprovação das medidas que seu governo julga mediatas e imediatas, acham que a caça aos corruptos, ainda que justificável, vem pecando nos atropelos, gerando intranquilidade e desânimo.

Entre dois, ou talvez mais fogos, Temer deve temer produzir desagrados incontornáveis, o que o submete ao exercício do contorcionismo a que temos assistido. No caso da Operação Lava Jato, para citar um exemplo, ele não pode ferir o desejo do grande público em ver condenações e prisões, mas sem desconhecer que vão se afastando dele os investigados e eventuais suspeitos. Um vácuo nas relações com o Congresso.

Quanto aos setores produtivos o detalhe importante é que as lideranças empresariais querem apressar medidas severas na área econômica que geram problemas nas relações do governo com a sociedade. É o caso da Previdência, que precisa ser reformulada, mas é inevitável que produzirá dores e descontentamentos.

Onde quer que pise, o presidente está enfrentando areia movediça. Herança que lhe deixou a antecessora, que com ele venceu a eleição com uma chapa construída em cima de confianças mútuas.



TEMPOS DE JÂNIO


Em suas memórias o ex-deputado mineiro e ex-ministro Paulo Pinheiro Chagas deixou o registro de dificuldades e consequências das primeiras semanas de um presidente da República. Trata do brevíssimo e conturbado governo Jânio Quadros em 1961. Só se falava em comissões de inquérito, prisões, sindicâncias, exclusão de servidores, a polícia atrás de muitos.

A preocupação de Chagas naquela época, recentemente eleito para integrar a bancada de Minas, era o risco da supremacia do poder policial sobre o poder político. E lamentou em discurso que a vida nacional ficasse reduzida aos aparatos policiais.  “Não se pode despir a vida pública brasileira daquele sentido ético que era outrora o seu pudor, reduzindo-a aos estreitos horizontes policiais dos inquéritos nem  mergulhar a Nação na delação erigida em sistema e a suspeita transformada em crime”.


O VELHO MONSTRO


Nos dias atuais, essa caça aos corruptos, absolutamente necessária e que já tardava, pode estar servindo também de trampolim político para futuros candidatos, e é preciso estar atento a isso. Sejam delegados, promotores, procuradores ou mesmo deputados e senadores desejosos de eliminar possíveis concorrentes em futuro próximo. Querem se aproveitar da onda moralizadora. Vejamos o caso recente do policial “Japonês”, que a televisão celebrou  como preênsil, e acaba de ser detido por causa de irregularidades no serviço.

Os cortesãos da popularidade bem cedo caem sob o cutelo. A popularidade é um monstro que não perdoa, ou aplaude ou devora.