sexta-feira, 31 de março de 2017






Eleição


O PT de Juiz de Fora fará eleições para sua direção local no domingo, dia 9. Parece que o processo de escolha interna conta com três chapas. Entre os concorrentes está o ex-reitor da UFJF Renê Matos (filiado atualmente no partido), que foi candidato a prefeito em 2000 pelo PSB. Ele tem o apoio do grupo da deputada Margarida Salomão. Pelas Rede Sociais o assunto já está sendo ventilado.  

Tem militante petista denunciando a ausência de debate entre candidatos, o que comprometeria a democracia interna e a legitimidade do processo de escolha.Para um partido que passa por percalços na sua imagem pública, a divisão interna só favorece a uma compreensão de que a disputa pelo poder torna-se uma prioridade.



Sem fim


O drama do Rio parece não ter fim. A operação da Polícia Federal que levou à prisão de cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado e obrigou o presidente da Assembleia, Jorge Picciani, a prestar depoimento, fecha um ciclo no Rio cujas suspeitas envolvem contratos superfaturados, propinas e omissão de órgãos fiscalizadores. Os tribunais de contas são órgãos integrados por figuras com alto comprometimento político, e com pouco interesse de instância fiscalizadora de gastos públicos. A lei de Murphy diz que se algo pode dar errado, dará.


 Menos pior


No julgamento das contas de campanha da chapa Dilma-Temer, cheia de irregularidades, a  Justiça deve tender para jogar as grandes culpas sobre os ombros da ex-presidente, preservando seu sucessor de um perigoso escalpelo. Ela já está condenada, e um peso a mais não faria grande diferença.  Mas cassar o presidente, nesta altura dos acontecimentos, com a gravidade dos problemas que o Pais enfrenta, seria um alto risco. Os tribunais não aceitarão a responsabilidade pelo que poderia acontecer depois. 






quinta-feira, 30 de março de 2017






QUEDA-DE-BRAÇO


O projeto que trata das 'dez medidas de combate à corrupção' (PL 4850/16) foi aprovado pela Câmara dos Deputados em novembro do ano passado, e encaminhado ao Senado Federal. Os deputados, ao examinarem a matéria, modificaram  quase integralmente as propostas apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF), na madrugada de 30 de novembro.


Para entendermos o caso, vamos recorrer à história recente:
Em dezembro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux suspendeu a tramitação da matéria, anulando todas as fases percorridas pelo projeto, inclusive as diversas alterações promovidas pelos deputados até a votação final na Câmara. Uma das medidas incluídas pelo Legislativo no projeto foi a que trata dos crimes de responsabilidade para punir juízes e membros do Ministério Público.
Luiz Fux ordenou o retorno do citado projeto à Câmara, por considerar  a existência de uma “multiplicidade de vícios”.  O mandado de segurança que deu origem à decisão judicial foi impetrado pelo Deputado Federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP).
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) fez, então, um acordo com o Ministro Fux. O ministro determinou a conferência pela Câmara das assinaturas dos apoiadores da proposta. Então, Maia, em fevereiro, solicitou que o trabalho fosse executado pela Secretaria-Geral da Mesa e atestado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O presidente da CCJ, deputado mineiro Rodrigo Pacheco (PMDB), encaminhou de volta ao presidente da Câmara  o polêmico projeto de iniciativa popular, considerando válidas 1,7 milhão de  assinaturas de endosso do projeto, e o atendimento da quantidade legal necessária.

A história precisa ser contada com detalhes para que os leitores percebam como acontecem os lances no jogo de poderes no Brasil. O indigitado projeto das dez medidas tornou-se uma verdadeira ‘queda-de-braço’ dos políticos (alvos de investigações) e os membros do Ministério Público Federal. A classe política anda incomodada com o futuro da ‘Operação Lava Jato’, pois uma parcela considerável será atingida pelas investigações em curso. Mesmo que devamos reconhecer os excessos cometidos por autoridades em relação aos políticos, precisamos reconhecer que os políticos querem frear as iniciativas da Polícia Federal e do MPF.






quarta-feira, 29 de março de 2017







INCOERÊNCIA


Um dos assuntos mais relevantes para a crônica política atual é o andamento do processo que pretende anular a decisão das eleições presidenciais de 2014, independentemente do epílogo dessa história.

O ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral entregou o relatório final do processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer na segunda-feira (27) ao presidente do tribunal, Gilmar Mendes. Agora cabe a este marcar a data de início do julgamento, que pode ocorrer já na próxima semana.

A surpresa do momento ficou com os tucanos, que foram os proponentes da ação. Nas alegações finais entregues pelos advogados do PSDB (e sua chapa) estão listados os crimes que teriam sido praticados sob a exclusiva iniciativa da coordenação da campanha de Dilma. Segundo os tucanos, Michel Temer não tem culpa.

A política sempre mostra através dos fatos quanta incoerência acontece. Quem acompanha a cena política sabe que o PSDB inconformado com a campanha eleitoral 2014,e o resultado dela, entrou com o citado processo contra a chapa PT-PMDB. Mas, agora como aliado de Temer, e ocupando cargos estratégicos no governo federal, modifica a sua motivação inicial.


Paciência...





segunda-feira, 27 de março de 2017





FHC x Itamar


A propósito do novo livro do ex-presidente Fernando 
Henrique, no qual ele revive o episódio em que Itamar 
Franco foi vítima de uma cilada com a modelo Lilian Ramos,
durante distante carnaval, o ex-ministro da Justiça Alexandre
Dupeyrat nos envia a reflexão que se segue:


 “A política tem muitas facetas. Uma delas é o fato de os objetivos últimos visados pelos atores não raro serem escamoteados. O outro, não menos importante, é a peculiaridade de tratar-se de uma atividade onde a traição faz parte das regras do jogo. Certamente por isto diz-se que, em política, os meios justificam os fins.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está por lançar o 3º volume do seu livro de memórias presidenciais. Quando do lançamento dos dois primeiros volumes o fato não mereceu grande destaque na imprensa. Houve apenas o registro do alegado propósito do autor de contribuir para futuros estudos históricos. Na verdade, a isto se destinam memórias políticas.

Pouco ou quase nada do conteúdo dos livros foi dado a público conhecimento. Já relativamente ao terceiro volume, antes mesmo de estar disponibilizado nas livrarias, grande repercussão midiática é dada a certos episódios ligados ao lançamento do assim chamado “Plano Real”.

Ao que tudo indica, o autor distribuiu copias da sua obra, ainda inédita, a diversos jornalistas. Poder-se-ia imaginar tratar-se de uma estratégia de “marketing” para incrementar as vendas. O teor das matérias publicadas, entretanto, permite duvidar desta premissa.

O foco das reportagens está sistematicamente centrado, de um lado, na falta de compostura ética reinante no Congresso Nacional e, de outro lado, no comportamento “irresponsável” do Presidente a que servia (Itamar Franco).

Ao que parece, o autor se coloca num pedestal, acima de tudo e de todos, criticando, de forma veemente, a “podridão” e a “corrupção” do sistema político brasileiro e em especial “a insistência do PMDB na busca de cargos”. Sequer poupa ex-correligionários, como Ciro Gomes (então no PSDB), que qualifica de “mau-caráter”. Lembre-se que o político em questão foi convocado, em caráter emergencial, para suceder Ricupero após a desastrada entrevista que poderia ter colocado a pique o plano monetário de FHC (“o que é bom agente diz e o que é ruim agente esconde”). Graças à pronta intervenção de Itamar o estrago não foi maior.

FHC, ao que tudo indica, parece pretender surfar a onda anticorrupção que tomou conta do País após as revelações da Lava Jato.

O paradoxo é que seu governo não esteve imune ao fenômeno que, desgraçadamente para a nação, vem de longa data. Mas os ilícitos vindos à tona no curso da sua gestão presidencial (como o episódio envolvendo a diretoria do Banco Central) prefere debitar aos excessos do Ministério Público.  

E por que razão haveria o autor de enfatizar junto à opinião pública, justo neste momento, a personalidade “irresponsável” do presidente Itamar Franco? Chega ao ponto de dizer que foi “a ama-seca dele” e, nesta condição, impediu “mil crises, inclusive com os militares”.

Não é preciso muita perspicácia para entender o objetivo. Apresenta-se à nação como alguém que, em momento de grande dificuldade, soube conduzir o País corretamente, teve autoridade e habilidade para enquadrar um Congresso prenhe de más influências, soube eleger políticas adequadas a fim de assegurar a prevalência do interesse público e, acima de tudo, é pessoa capaz de dobrar até mesmo um Presidente desastrado a quem serve.     
  
Em suma: é a pessoa que o País necessita num momento de grave crise política, social e econômica.

Se a memória política serve aos estudos históricos, como toda versão, ideia ou proposta que se apresenta ao ser humano, deve ela ser submetida ao crivo do contraditório. E isto se impõe sobremaneira quando as memórias se destinam a ensejar um “recall” político.

Embora se compreenda a necessidade de criar “versões” fantasiosas para fatos pretéritos, há circunstâncias históricas onde a desconstrução do mito se impõe. Nem tanto para fazer justiça à imagem de pessoas que já não existem, mas, sobretudo, para que a opinião pública não se deixe iludir pela ideia de que o “homem providencial” é a solução de todos os problemas presentes. 

Itamar Franco nunca foi um irresponsável, muito menos pessoa carente de ama-seca. Foi um homem público sereno, de posições firmes e coerentes com as suas convicções ao longo de toda a vida.

Jamais foi um extremista. Nunca se apresentou nem atuou ideologicamente vinculado a esta ou àquela corrente. Não se exilou durante a ditadura. Tal como Ulisses Guimarães e tantos outros, recorreu aos meios legais disponíveis para lutar pela redemocratização do País.  
   
Foi, por duas vezes, prefeito eleito da sua cidade que, à época, sediava a 4ª Região Militar e de onde saíram as tropas do General Olimpio Mourão em 1964 em direção ao Rio de Janeiro.

Chegou ao Senado Federal pelo voto direto dos mineiros em 1974 derrotando o candidato do regime. Nunca foi suplente de ninguém, nem fez carreira na esteira de caciques políticos.

Itamar Franco teve, ao longo da sua vida pública, três grandes preocupações: buscar a realização do interesse público (nacional), fomentar a justiça social e preservar a moralidade administrativa. Isto, respeitando os postulados básicos do estado democrático de direito.

Sempre respeitou e foi respeitado pelo estamento militar. Pode-se dele discordar por razões ideológicas, à esquerda ou à direita, mas é ignóbil dizer (depois de morto) que foi um “irresponsável”.

Vamos ao episódio da crise militar, que teria sido evitada por FHC.

Segundo o memorialista, no curso de fevereiro de 1994, teria sido ele procurado pelo então Ministro-Chefe da Secretaria da Administração Federal (Romildo Canhim, já falecido) para relatar uma suposta reunião dos chefes militares onde o tema debatido teria sido o episódio Lilian Ramos.

O Presidente fora convidado a assistir ao desfile das escolas de samba no carnaval do Rio de Janeiro, tal como no ano anterior fora convidado para evento análogo no Recife. Em ambos os casos julgou que devia aceitar o convite por se tratar de um evento de grande expressão popular e relevância turística.

Itamar Franco sempre teve aversão a segurança pessoal. Para ele, o homem público carente de guarda costas era alguém que não tinha a confiança do povo. 

Aproveitando-se desta circunstância, tal como inúmeras outras pessoas, uma desconhecida “modelo”, denominada Lilian Ramos, teve acesso ao camarote presidencial e se fez fotografar ao lado do Chefe de Estado. O detalhe é que ela não portava roupas intimas. Como a foto foi feita a partir do piso da passarela, houve o registro (proposital e preordenado) da região púbica descoberta.      

A modelo ganhou a notoriedade que buscava e foi contratada para atuar no exterior. Internamente ficou a marca de um episódio para o qual o Presidente não contribuiu e do qual só veio a tomar conhecimento pela imprensa, no dia seguinte.

Segundo o memorialista, tal evento teria ensejado reunião dos “chefes militares” que concluíram faltar “firmeza” ao Comandante em Chefe das Forças Armadas (Presidente da República). Neste contexto, o Ministro Canhim (militar reformado) teria sido escalado para indagar do então Ministro da Fazenda se, no caso de deposição do Primeiro Mandatário da Nação, ele aceitaria continuar como titular da Pasta responsável pelo Plano de estabilização monetária. A resposta foi “nem por um dia”.    

É uma versão que se sustenta num diálogo havido com uma pessoa falecida (Canhim) e se reporta a uma reunião cujos participantes não são elencados (chefes militares).

Em suma, o episódio Lilian Ramos teria gerado uma grave crise militar, a ponto de cogitar-se o defenestramento do Presidente. Isto só não teria ocorrido graças à postura de FHC que se recusou a permanecer no cargo com outro Presidente.

Por um lado, passa-se a ideia de fidelidade canina ao Chefe da Nação; por outro lado, passa-se a ideia do reconhecimento da importância de FHC na corporação militar. Só não houve golpe porque ele disse que não permaneceria no cargo.

Pois bem, a fantasia da “ameaça” de golpe pode ser vista de um outro ângulo, mais objetivo e cartesiano.

É difícil crer que a alta cúpula das Forças Armadas tenha se reunido para tratar do episódio Lilian Ramos. Tivesse o Presidente envolvido em orgias ou atos de depravação até seria possível admiti-lo. Mas disto não se tratava e os fatos estavam bem claros: houve um lance de oportunismo na carreira de uma obscura “modelo” para o qual o Presidente não contribuiu.

Passemos agora à análise de outros fatos, concretos e reais, ocorridos na época e que de fato geraram insegurança na população civil e militar.

Em fevereiro de 1994 havia sim um clima de mal estar, não somente no seio castrense, mas também entre os assalariados. Era o mês de carnaval e também o mês em que viria a lume a primeira fase do Plano Real com o congelamento de preços e salários.

O público não tinha conhecimento dos exatos termos da medida provisória que seria publicada. Mas havia a memória do ocorrido nos planos anteriores: os preços são congelados pelo pico e os salários pela média dos últimos três ou quatro meses. Ainda que se faça pouco da inteligência alheia, a recordação do ocorrido no passado recente era o quanto bastava para gerar uma grande desconfiança e receio nos estamentos sociais assalariados (civis e militares).

Itamar era um homem de grande sensibilidade política e social. Tinha a convicção da necessidade de encerrar o ciclo inflacionário. Mas também estava convencido que isto não poderia ser feito a expensas dos assalariados.

Para assegurar a estabilidade democrática era preciso, pelo menos, evitar perdas aos que dependiam de salário, vencimento, soldo, aposentadoria ou pensão. Assim não pensavam os economistas e financistas. Entendiam que o ganho havido com o fim da inflação compensaria eventual perda nominal havida no momento da conversão dos estipêndios.

A “dificuldade imensa” a que FHC se refere para “fazer o real” tem a ver com a postura de estadista do Presidente Itamar; não com a sua suposta “irresponsabilidade”. A diferença entre o estadista e o político está precisamente no fato de que o primeiro tem um horizonte mais amplo do que o segundo. O político, no mais das vezes, está preocupado apenas com a próxima eleição, com a sua sobrevivência. O estadista se preocupa com as gerações futuras.

A Itamar foi oferecida, durante a revisão constitucional de 93/94 a emenda da reeleição, sem contrapartida, sem barganha, sem negociação. Não quis porque entendia ser um desserviço à democracia, ao processo político, à representação popular. Dizia que, com a reeleição, o mandatário, ao invés de governar, preocupar-se-ia apenas com a preservação do cargo.

É este homem que se qualifica de “irresponsável”.

Houve sim uma grande tensão em fevereiro de 1994. Não por causa de Lilian Ramos, mas por conta de um anunciado “achatamento” de salários, soldos, vencimentos, aposentadorias e pensões que adviria no primeiro momento do real. 

Itamar tinha um jeito peculiar de ser. Não gostava de nada às escondidas. Dos seus auxiliares não exigia submissão, mas lealdade. Entendia que o povo merecia respeito e por isto qualquer iniciativa governamental tinha que ser transparente, explicada às claras e sem subterfúgios. 

Pela relevância da Medida Provisória que indexaria preços e salários a uma moeda virtual (URV) quis que todos os Ministros das áreas que seriam diretamente afetadas tomassem prévio conhecimento e opinassem. Queria um consenso interno para que o projeto saísse do Executivo fortalecido. 

Ao contrário do que é dito, Itamar leu a MP da URV e constatou que, na conversão dos salários, poderiam advir perdas. Assim previa a redação original (que leu e entendeu):

“Art. 18. Os salários dos trabalhadores em geral serão convertidos em URV no dia 1º de março de 1994, de acordo com as disposições abaixo:
  I - dividindo-se o valor nominal vigente em cada um dos quatro meses imediatamente anteriores à conversão, pelo valor em cruzeiros reais do equivalente em URV, na data do efetivo pagamento, de acordo com Anexo I desta medida provisória; e
 II - extraindo-se a média aritmética dos valores resultantes do inciso anterior.”

O critério era extensivo aos vencimentos, soldos, aposentadorias e pensões.

Obviamente, quando a conversão se dá pela média o valor final é inferior do que o apurado na conversão pelo pico.

Precisamente por isto convocou os Ministros da Justiça, Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, do Trabalho, da Previdência, do Planejamento e da Administração Federal para, em conjunto com o Ministro da Fazenda, examinar a minuta, especialmente no particular do critério de conversão dos vencimentos, soldos, salários, aposentadorias e pensões.     

E o consenso a que se chegou foi traduzido no parágrafo do seguinte teor:

“§ 8º Da aplicação do disposto neste artigo não poderá resultar pagamento de salário inferior ao efetivamente pago ou devido, relativamente ao mês de fevereiro de 1994, em cruzeiros reais, de acordo com o art. 7º, inciso VI, da Constituição.”

O critério foi extensivo aos vencimentos, soldos, aposentadorias e pensões.

É possível que o então Ministro da Fazenda tenha sofrido pressões dos tecnocratas contra o princípio da irredutibilidade dos ganhos decorrentes do trabalho ou da inatividade.

Mas esta foi a decisão de governo, com a qual todos concordaram, inclusive o titular da Fazenda.

Graças esta intervenção do então Presidente Itamar Franco o Plano Real teve ampla aceitação, tanto no campo civil como militar, além do meio laboral e de inativos. Passou no Congresso Nacional sem necessidade de barganhas ou troca de favores.

Denegrir a imagem alheia é grave, seja qual for a motivação interior. Quando se trata de pessoa falecida é covardia.


Cabe aos juridicamente legitimados adotar as providências que o caso requer".



terça-feira, 21 de março de 2017






LIsta fechada


Há uma proposta revisitada de mudar a forma como nós devemos eleger os deputados federais, estaduais e vereadores no Brasil, para um sistema de "lista fechada", que surge agora numa eventual reforma política que podemos chamar de ‘meia-sola’. Nada mais do que isso. Nesse modelo o eleitor vota no partido, em vez de escolher candidatos avulsos. Os votos são depois distribuídos de acordo com uma ordem de candidatos previamente definida pela legenda.

Os defensores desse modelo defendem que ela é necessária para tornar as campanhas mais baratas e mais fáceis de fiscalizar, tendo em vista que as doações de empresas estão proibidas por decisão do STF.

Para os opositores a proposta tem como objetivo facilitar a reeleição dos parlamentares, muitos arruinados pelas denúncias da Operação Lava Jato, evitando assim a perda da prerrogativa de foro. É como se diz em Brasília, entre os próprios parlamentares: ‘quem não tem foro vai para o Moro (juiz)’. Então é mais um casuísmo dos diversos partidos, que estão mais preocupados com essa ‘reforma’ do que com outras.

A população não pode aceitar tal disparate, pois, se isso se concretizar, vai possibilitar aos atuais mandatários se perpetuarem no Congresso Nacional ‘ad aeternum’. Como estão nos parlamentos (em todos os níveis) os descendentes de antigos políticos, que ocuparam o espaço como se houvesse o direito à dinastia, a tendência é de pouca renovação na política nacional.



Falso argumento


A proposta de transferir  a uma consulta popular o destino da reforma política, ideia a que agora se filia também a ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, é a velha solução requentada e calejada de empurrar para a responsabilidade do povo a obrigação que genuinamente pertence do Congresso Nacional. A matéria vem sendo debatida há mais de 30 anos no Congresso, nada mais guarda de segredo muito menos dúvidas. Senadores e deputados, que representam a sociedade, sabem muito bem o que deve ser mudado e aperfeiçoado. Se eles, convivendo com o a intimidade da reforma desejada, não se sentem suficientemente capazes para decidir, quanto mais o eleitor, que aqui fora não trata do projeto, porque está cuidando de se safar dos problemas que os políticos não resolvem. Toda vez que as lideranças se sentem acuadas diante de um problema complexo mandam chamar o povo para suprir sua omissão.

O eleitorado certamente votaria mal na reforma, porque não dominar um assunto de repente jogado às suas costas. Como votou mal ao ser chamado, meio século atrás, a decidir entre presidencialismo e parlamentarismo. 








sexta-feira, 17 de março de 2017






Eterno provisório


No início do ano passado, aproximadamente 20 partidos políticos questionaram no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o Artigo 39 da Resolução 23.456/2015, que disciplina a criação, organização, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos. Os advogados dessas legendas afirmaram, em conjunto, que o artigo é inconstitucional por ferir a autonomia interna e o funcionamento dos partidos.

O citado artigo, que fixa o prazo de validade de 120 dias para as comissões provisórias partidárias, também estabelece que esse prazo poderá ser prorrogado em situações excepcionais e devidamente justificadas pelo período necessário à realização de convenção partidária para escolha de novos dirigentes, mediante requerimento do partido ao presidente do Tribunal Eleitoral.

Naquela oportunidade a preocupação era a eleição municipal de outubro passado, e preventivamente os partidos se mobilizaram para que o tribunal revisse a posição. Isto acontece devido a uma prática política costumeira dos mandatários brasileiros, que controlam os partidos através das comissões provisórias, em todos os níveis; de forma que a vontade deles sempre prevaleça.

Pelo que se sabe, em Juiz de Fora têm constituídos diretórios municipais alguns partidos, mais expressivos nacionalmente: PMDB, PSDB e PT. Nos demais predominam as questionáveis comissões provisórias. E com isto grupos políticos vão se reconduzindo no poder das agremiações partidárias, numa prática nada democrática.

A Justiça Eleitoral, por conhecer essa realidade partidária pouco recomendável, tomou a iniciativa de baixar tal resolução, talvez com a intenção de colaborar para o aprimoramento das legendas que no discurso à Nação exaltam a democracia, mas no cotidiano da vida ‘paroquial’ praticam uma ditadura disfarçada.







sexta-feira, 10 de março de 2017






As más notícias


São frequentes as queixas formuladas contra a preferência da imprensa pelo negativo, ainda mais ferozes quando se denuncia que o crime e o pecado recebem mais publicidade do que os comportamentos exemplares. Pois deveríamos gostar e aplaudir essa preferência, porque o mal ainda é recebido como novidade, algo não comum no dia a dia das pessoas e das nações. Lamentável a hora em que a bondade e a integridade se tornarem tão raras, que precisem ocupar as páginas dos jornais e os horários da televisão. O ruim ainda é exceção, novidade. Ótimo que o avião desça normalmente no aeroporto. Mas é o comum, não será notícia, ao contrário daquele que caiu no mar. Se todos os brasileiros recebessem propina das empreiteiras a Lava-Jato já teria ido para o arquivo morto, por total desinteresse.

É antiga a queixa contra a imprensa, que já nasceu preferindo se ocupar do mal, embora prefira o bem. Queixoso também foi o embaixador Adllai Stevenson, que disputou duas vezes a presidência dos Estados Unidos:

- Eu sei o que fazem os jornalistas. Eles separam o joio do trigo, e publicam o joio...






quarta-feira, 8 de março de 2017






Hora tucana


No fim de semana, ao realizar sua convenção municipal, o PSDB pode dar um passo para se situar nos próximos anos eleitorais. É a primeira vez, desde a gestão do prefeito Custódio Mattos, que o partido sente poder readquirir a força que teve, e com ela aspirar a posições mais altas na política local. Tem o vice-prefeito, Antônio Almas, tem a presidência da Câmara, com Rodrigo Mattos, e três subsecretários na Administração Bruno Siqueira, que também mantém estreito diálogo com o deputado federal do partido, Marcus Pestana.

O que se esperava, até ontem, é que os convencionais não assistirão a uma luta, mas com chapa única para dar a presidência do diretório a Antônio Almas, que, juntamente com Rodrigo Mattos, vai se cacifando para disputar a sucessão do prefeito Bruno Siqueira em 2018. Chapa única é o esperado, embora não se conheça a orientação dos tucanos que lá entraram pelas mãos do deputado Lafayette Andrada, que no ano passado disputou a prefeitura em grande litígio com a chapa da qual Almas fazia parte como vice.

Seja como for, a convenção pode mostrar um ensaio para revelar    a vontade  do partido de chega ao poder municipal em faixa própria.
    


Sem susto  


Não há por que estranhar o desencanto geral por inexistir qualquer interessado na exploração do ExpoMinas JF, quando se sabe que o aventureiro convidado teria de desembolsar  R$ 100 mil para tomar posse do espaço. Total imprevisibilidade de retorno do capital investido e nenhuma garantia de que o Estado cumpriria uma parcela, mínima que seja, para o centro de exposições e promoções estar em funcionamento. A iniciativa particular, só ela, não tem como suportar o ônus.  

O que não invalida, muito menos desautoriza a necessidade de o município, com seus próprios recursos, Investir mais em eventos, como Marcelo Frank escreveu hoje em seu facebook:

“O município precisa investir no turismo de eventos, em parceria com Governo de Minas, otimizando o funcionamento daquele espaço. Penso que o entendimento da administração municipal, lideranças empresariais e demais interessados no assunto poderão formular uma proposta ao governo estadual capaz de apoiar e ampliar os eventos no município, que se encontra em lugar geograficamente privilegiado na região sudeste do Brasil”.


3 – Ouve-se frequentemente que a polícia tem sido intolerante com os consumidores de maconha. Acusação injusta. Na maior praça de consumo, a Jarbas de Lery, em São Mateus, é permanente a  presença do baseado, que se queima a menos de 80 metros de um posto policial.


4 -  Otimistas em relação à reconquista dos valores morais na política brasileira, filósofos há que veem o País dando passos largos rumo àquele ideal. Para tanto, animam-se com a prisão de poderosos como Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Eike Batista, entre outros, que a gente nunca supunha poder vê-los na cadeia. Os otimistas não levam em conta que nossa Justiça flexibiliza-se de tal maneira, que essa gente não deve cumprir toda a pena que lhe é imposta.


5 -  Dizia Gustavo Capanema que o Congresso tem 10%  de honestos, 10% de desonestos, o restante formado de gente comum. Lula foi mais duro na avaliação: entre 513 deputados há 300 picaretas.


6 -  Exitoso nos primeiros sinais de recuperação da economia, mas titubeando na política, o governo Temer ainda não se animou a mostrar à sociedade brasileira a profundidade e a extensão da crise em que estamos envolvidos. A grande massa ignora nossa proximidade com o abismo.  


7 -  Sobre a onda de delações que nascem e se ampliam no bojo da Lava-Jato o escritor Eduardo Almeida Reis tem uma explicação: propina é como sexo: quando a gente faz dá uma vontade danada de contar.






sexta-feira, 3 de março de 2017






Fé nos biomas


Um erro sobre o mundo pode nos induzir a um erro a Deus. Foi com esta advertência, inspirada em Santo Tomás de Aquino, que o padre Dalton Barros, redentorista, promoveu na Catedral uma palestra sobre os biomas, que neste ano são o enfoque da Campanha da Fraternidade. Tal preocupação é um convite a olhar com Fé a Criação, mas tendo em mente que ao falar dos biomas brasileiros e ao defendê-los a Campanha da Fraternidade não cuida apenas dos biomas físicos, mas também dos existenciais.

A Natureza, explica padre Dalton, tem de ser tratada pela atual e pelas gerações futuras como um santuário vivo de Deus. Papa Francisco ensina  que se trata de uma exigência da Fé . É continuar a obra de Deus.



Marchinhas no cadafalso


Para subsidiar o debate que se trava em relação às velhas marchinhas de carnaval, quando construídas em cima de preconceitos, em Juiz de Fora houve quem contestasse e condenasse o simpático Bloco do Beco, que neste ano foi à rua mostrando um tema político atualíssimo: “Moro num país tropical”, alusão ao juiz que tem mandado para a cadeia corruptos e corruptores, e nisso ajudando, ainda que modestamente, a agravar a superpopulação carcerária... Mas os foliões acabaram não dando importância.

O Beco só cuidou dos políticos, o que não o poupou da critica dos politicamente corretos.  Em outros lugares o viés estava nas ofensas aos negros, havendo quem propusesse a proibição da divulgação de marchinhas que tanto sucesso fizeram no passado. É preciso reconhecer seu conteúdo preconceituoso, mas sem desconhecer que elas são de uma época  em que não havia consciência coletiva contra isso. Hoje seria inadmissível, mesmo que as letras exaltassem a “nega do cabelo duro”, a cor da pele da mulata que “não pega”, não contagia. Ou a “nega maluca” escandalizando o salão de sinuca.

E não apenas as negras. O compositor já não ousaria hoje dizer que quer uma mulher, tal como Emília, ”que saiba lavar e cozinhar, e me acorde na hora de trabalhar”. Quer dizer, mulher que seja cozinheira, lavadeira e faça o papel de despertador.  Mulher ideal.
  
Da mesma forma impensável agora um programa de televisão anunciar um cantor negro vestido de branco, como César de Alencar, da Rádio Nacional, apresentava Blecaute: ”mosquito caiu no leite”. Ausente uma conscientização contra o preconceito ofensivo, o cantor sorria para a plateia e o público aplaudia.

O notável Braguinha eternizou-se junto ao público infantil, sem espantá-lo, ao cantar que era o lobo mau que pegava as criancinhas pra fazer mingau. Hoje o Estatuto da Criança o crucificaria.

O tempo tem o poder de corrigir tudo, sem necessidade de a gente assoprar cinzas que ficaram no passado.