quinta-feira, 19 de junho de 2025

 A Pauta É Política

20 junho 2025

À VENDA

Ainda são insuficientes as informações sobre possíveis interessados na compra de imóveis do Estado, que o governador Romeu Zema mandou colocar à venda, em sua ânsia por reduzir as dívidas e melhorar o caixa mineiro. Há sinais de que os interesses fiquem limitados a ativos que deem resposta imediata ao mercado.
Em relação a imóveis indicados em Juiz de Fora os compradores deverão ser mais limitados. Quem se sensibilizaria, por exemplo, em adquirir o acervo do museu Credireal ou a Escola Cândido Tostes?, que funciona em imóvel tombado.
Outra pergunta que resta é o Expominas. Antes de pensar na venda, o governo estadual devia associar-se ao empresariado local, criando naquele espaço a mostra permanente de produtos de nossa indústria.

SEM IMPOSTO

Escreve a deputada Ione Barbosa: “um compromisso que assumi em campanha. Não apoiar nenhum aumento de tributos. O brasileiro já é sobrecarregado por uma das maiores cargas tributárias do mundo”.Diz ela que a população precisa de alívio, não de mais peso no bolso.
A deputada (Avante -MG) segue numa atuação parlamentar alinhada com a oposição ao governo Lula, enquanto Ana Pimentel (PT-MG) vota favorável ao governo federal, que ela apoia integralmente.
Posições antagônicas das duas deputadas com domicílio eleitoral em JF.

POLARIZAÇÃO

É perceptível o clima de tédio entre os eleitores das principais cidades sobre a polarização dos rumos da política, centrados na disputa Lula-Bolsonaro. O que significa que devemos aspirar a algo que nos liberte dessa dicotomia nefasta, que, além de nada construir hoje, certamente haverá de destruir muito mais amanhã. Bem claro deve ficar que, quando se elabora tal raciocínio, não é o mesmo que antecipar juízos, preferências ou antipatias por eventuais pré-candidaturas que possam estar em cogitação. Nada disso. O que se estima é que o eleitorado seja contemplado, desde agora, com uma ampla e profunda discussão, capaz de libertar o Brasil dessa pobreza do embate entre duas facções cujos interesses estão no poder: chegar a ele ou mantê-lo, como via de desforras e ódios acumulados em décadas.


VÁ ENTENDER!

Fenômeno que as pesquisas ainda não conseguiram explicar: ao mesmo tempo em que asseguram estar o prestígio do presidente Lula ladeira abaixo, acima de 50% de rejeição, são unânime em lhe garantir vaga no segundo turno para disputar o quarto mandato. Uma situação conflitante com a outra.

RENÚNCIA

Hoje à note, dom Gil Antônio, arcebispo, viaja para Roma. Deve retornar dia 7, depois de estar
com o papa Leão XIV e participar de reunião com prelados de todo o mundo. Alegando ter chegado à idade limite, está assinando sua carta-renúncia, depois de uma década administrando a Igreja. Passa a morar em sua terra natal, Itapecerica, mas sem romper seus vínculos com Juiz de Fora, especialmente para manter acompanhamentos médicos.


ESSE MINISTRO

Há muito, setores bolsonaristas escolheram o ministro Alexandre de Moraes como alvo político. Talvez tenham cometido um erro. Ele tem perfil ideológico similar, situa-se no espectro da direita. Parece gostar desse perfil; e com ajuda dos seus detratores vai angariando notoriedade. Moraes hoje é uma figura pública de grande visibilidade. Pode ser um pré-candidato à Presidência da República, em 2026. Por que não? No Brasil a única coisa impossível é o impossível.
Em acréscimo: as pesquisas apresentam, costumeiramente, que há um segmento relevante do eleitorado favorável a nome fora dos partidos, sem trajetória dentro da política tradicional.

CANDIDATOS

A intenção de vereadores se candidatarem a deputado em 2026 já se tornou uma prática. Participar de eleições no meio do mandato é uma pré-campanha para as eleições municipais de 28. E, com advento do fundo eleitoral, surge a possibilidade de uma pré-campanha financiada com recursos públicos. Há o caso de vereador candidato a deputado estadual ou federal dentro de um projeto eleitoral factível. Juiz de Fora já teve vereadores que se elegeram para a Assembleia e Câmara dos Deputados. No entanto, o que se percebe é o envolvimento de vereadores na campanha eleitoral do próximo ano, com o objetivo de reeleição à vereança em 2028.


PRESENTE!

O empresário Wilson Rezato, do setor imobiliário, que disputou duas vezes a prefeitura, com excelentes votações, já não nega com vigor a possibilidade de submeter-se às urnas de novo. É a impressão que tem deixado nas conversas com amigos mais próximos.



terça-feira, 17 de junho de 2025

 

Reféns da polarização

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Constatação cada vez mais presente – sente-se com certa facilidade – é que as pessoas comuns têm se revelado enfastiadas, aborrecidas com a polarização entre lulistas e bolsonaristas, fenômeno condenado ao papel de avant-première da sucessão presidencial de 2026. Será que não temos algo menos pobre ou mais criativo para desenhar o futuro imediato do país? Continuaríamos limitados a um embate que se pauta e prospera em idiossincrasias? Não é possível. Nem desejável, porque a polarização gera radicalização, que gera intolerância, que gera desordem.
Pois, se é perceptível o clima de tédio entre os eleitores, significa que devemos aspirar a algo que nos liberte daquela dicotomia nefasta, que, além de nada construir hoje, certamente haverá de destruir muito mais amanhã. Bem claro deve ficar que elaborar um raciocínio sobre isso não é o mesmo que antecipar juízos, preferências ou antipatias por eventuais pré-candidaturas que possam estar em cogitação. Nada disso. O que se estima é que o eleitorado seja contemplado, desde agora, com uma ampla e profunda discussão, capaz de libertar o Brasil dessa pobreza do embate entre duas facções cujos interesses estão no poder: chegar a ele ou mantê-lo, como via de desforras e ódios acumulados em décadas.
Por ser algo relevante, esse sentimento de exaustão tem de ser levado a sério pelos partidos e seus chefes, ao se derem à tarefa de traçar rumos da sucessão, depois do desânimo causado por um antagonismo que, até agora, em nada acrescentou, mas tem colocado o país diante de sobressaltos e inseguranças. Precisam observar, tanto aqueles como outras lideranças responsáveis, que, no fundo e na superfície, o que se tem nessa guerra Lula-Bolsonaro é o continuísmo; exatamente isso, nada mais que isso. Quem está no Planalto quer continuar, os que já estiveram lá querem voltar. Muito pouco para dar resposta às grandes questões que excitam a nação.
(Há tempos, soldados nessa guerra Lula - Bolsonaro, seus admiradores amam e odeiam, com bem medida reciprocidade. Pior: desconsideram quem não se submete a esse jogo, exigem adesão, sob pena de os não aderentes serem definidos como fascistas ou comunistas. Os radicais do ex e do atual presidente negam um princípio da lógica aristotélica, segundo a qual amar a alguém não é, automaticamente, odiar o outro).

Escassa profissionalização


As discussões sobre empregabilidade e seus desafios nos tempos atuais têm relegado a plano secundário a desejável e moderna visão sobre profissionalização. Para as camadas mais pobres o que as políticas governamentais produzem vem com o viés do assistencialismo paternal, quando o ideal seria a capacitação em larga escala, frente aos progressos da tecnologia. Instituições como Senac e Sesi são modelares, mas pobres e carentes de uma legislação federal estimuladora. Estamos atrasados nesse campo, ao mesmo tempo em que é visível as novas gerações de mão de obra esbarrando em dificuldades. Muitos jovens chegam, não conseguem se adaptar, frustram-se.
Estão desatualizadas as informações sobre projetos dessa natureza em apreciação no Congresso Nacional; mas sobre eles já teríamos sabido, se propusessem grandes novidades, e não é o caso. Os governantes revelam vago interesse, não por falta de pressão dos meios de produção, que querem evoluir, sob pena de perderem o mercado. No rastro disso, sente-se também o crescente predomínio da vocação pelo bacharelismo, em conflito com a crescente necessidade de trabalhadores desprovidos de diploma superior. Uma preocupação que acompanha a história da República. É preciso ser doutor, e nada mais.
A tecnologia reclama, diariamente, o aperfeiçoamento, não olha devidamente o trabalho despreparado. Como também expulsa. Um exemplo que logo se identifica está em qualquer agência bancária, outrora área dinâmica conduzida por funcionários, depois substituídos por caixas eletrônicos, cartões, celulares e pix e outros expedientes. São os frios e silenciosos ocupantes de antigas vagas humanas.
Na carência de modernização cabe uma dose de responsabilidade aos sindicatos, acostumados a defender o empregado apenas para garantia das vagas, não pela qualificação, muito menos o preparo dos associados para novas realizações. Ou então limitam-se a xingar os patrões.
Não estamos sabendo democratizar a marcha da tecnologia e a vastidão das oportunidades, esperando aquilo que, certo dia, disse o ministro Roberto Campos, para quem o progresso tecnológico tem virtudes autocorretivas. Quer dizer, adapta-se; como ocorreu quando chegaram os carros para substituir as carroças, ou a eletricidade, que matou os lampiões. Mas tudo isso aconteceu porque, para evoluir, havia gente que sabia das coisas…

terça-feira, 10 de junho de 2025

 

Remédio para tempos indigestos

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Indigesta, mas nem por isso descartável, a receita prescrita pelo presidente do Banco Central para que o Brasil tenha como suportar as agruras dos juros altos. Sugere que tenhamos estômago de crocodilo e queixo de pedra, faltando dizer que o mesmo remédio serviria para suportar a dispepsia causada por outros muitos problemas que afligem. Discreto, Gabriel Galípolo não buscou outros exemplos do seu imaginário zoológico para dizer que a política econômico-financeira já não tem mais coelhos para tirar de cartolas mágicas. Então, diante do risco de novas tempestades - quem sabe? - aconselharia enterrar a cabeça no chão, como ensinam os avestruzes precavidos, se as tempestades ameaçam. O doutor Galípolo é um técnico com tarefas e missões bem definidas, com o cuidado de não incursionar nas áreas políticas do governo de que faz parte, e onde também há dores reclamando tratamento; antes de tudo, reclamando bariátrica, para extirpar o excesso das gorduras. Mas ele sabe, com a autoridade que tem, que boa parte dos nossos males vem do descontrole de gastos, do hábito de esbanjar, da fatal tentação de gastar mais do que se arrecada. Sabe muito bem que é daí que resultam os problemas que pesam em sua mesa de juros altos e a inflação mal contida. Só mesmo importando um crocodilo para aguentar.

Reconheçamos. Se para nada mais servisse, sua palavra espirituosa ajuda a avançar em alguma reflexão sobre o momento atual.

Um sintoma para agravar tensões, não apenas o hálito amargo dos juros, é o fato de o Brasil se ressentir de unidade entre poderes e lideranças. Que tivessem, ao menos, algum alinhamento quanto a deveres e respeitos recíprocos. Ao contrário, aqui tudo se divide, tudo diverge, tudo aponta para caminhos opostos. Brasília é a grande orquestra dos desafinados.

Exemplos são muitos, porque os contrastes já fazem parte dos nossos dias, conosco deitam e conosco levantam. Se a polícia prende o traficante, a Justiça logo o libera, porque a magistratura passou a entender que impõe considerar o vitimismo como realidade acima da lei e da ordem. Qualquer detenção é suspeita, mormente quando se trata de cidadãos não brancos. Entrar ou não em favela tornou-se divergência de princípios entre juízes e delegados; e é onde a segurança balança.

Não se revela muito diferente o que salta das relações entre dois poderes, Supremo Tribunal e Congresso Nacional, quando este é acusado de lerdeza no tratamento das questões mais graves. Aos togados é o bastante para avançar sobre atribuições legislativas. Vestem-se de poderes que não lhe pertencem, os senadores e deputados reagem, mas só nos discursos, principalmente quando são feridos pelo STF na sempre fundada suspeita sobre o destino de emendas parlamentares. Para completar, Câmara e Senado alimentam contendas internas, principalmente quando discrepam interesses das bancadas evangélica e da bala.

No largo painel de contrastes nem escapa o Executivo. Interessante. Há ministros e outros altos funcionários que puxam a corda para a ponta de seus projetos pessoais, facilitados por uma base política pintada de cores diversas, que se misturam e confundem. A política conturbada e perturbada autoriza exigir - com licença para a insistência com que se trata do assunto - que o presidente da República assuma o controle da situação, procure vencer as múltiplas fragmentações, antes que nos precipitemos no abismo.

Esse tormento tem reflexos diretos no sentimento das pessoas, mesmo que em sua maioria elas não deem conta disso. Diante de incertezas e dos desencontros entre os poderes constituídos na desarmonia, vai se perdendo a confiança em quase tudo. Como se vivêssemos em deserto inóspito, terra sem homens e sem ideias, segundo a velha queixa do ministro Oswaldo Aranha.

(Então, confusos, tentamos, inconscientemente, improvisar heróis. Saímos em busca de valores de fora, como importar da ditadura da China alguém para nos ensinar como controlar as redes sociais; ou tirar do insinuante presidente Macron lições de compostura diplomática. E até em nossa glória antiga, o futebol, tivemos de buscar técnico no outro lado do oceano. Pior ainda, com o moral coletivo tão baixo, chegamos ao ponto de elege como padrão da rapaziada alguém que exalta o tráfico e canta música esquisita.)


quinta-feira, 5 de junho de 2025

 

A Pauta é Política


6 junho 2025


DEFINIÇÕES


Junho apenas começou, mas, quando terminar, vai se fechar, igualmente, a temporada de meras especulações sobre a sucessão do governador Romeu Zema, começando a fase de alinhamento das reais possibilidades de partidos e candidatos. Um detalhe importante nesse quadro é o papel do senador Rodrigo Pacheco, notoriamente candidato preferido do presidente Lula e de seu partido, PT.


O que impediu, neste primeiro semestre, que as conversações evoluíssem foi a conduta do senador, pretextando desinteresse. Para alguns, trata-se de mero jogo de cena.


A disposição de petistas influentes é não permitir que Pacheco prorrogue por demais a incerteza. Se ele não for candidato, o partido começará logo a avaliar as poucas alternativas domésticas para entrar na disputa.


DEFINIÇÕES (II)


Com o ano eleitoral cada vez mais próximo, os partidos – grandes e pequenos – começam a avaliar sua capacidade e forças para ir ao encontro do eleitorado. Um deles é o REDE, que, em Juiz de Fora, tem uma cadeira na Câmara Municipal, com o vereador Maurício Delgado. Há dias ele esteve em Belo Horizonte, e ouviu dos dirigentes que pode ser um nome para disputar. No mínimo, uma vaga na Assembleia Legislativa.

Maurício é, atualmente, a possibilidade de a tradicional família Delgado manter-se atuante na política.



MELLO REIS


Interessante o comentário da prefeita Margarida, ao reconhecer valor na administração Mello Reis ao implantar a pista central na avenida Rio Branco. É exemplo lembrado. A gestão do falecido prefeito Mello Reis, com mandato de seis anos, foi inovadora em vários aspectos do planejamento na administração, inovadores para a época, contando com as boas relações com o governo federal, pois Mello foi eleito pela ARENA, partido governista de então.


Na mesma entrevista, ela aproveitou para pontuar a sucessão na prefeitura, com tamanha antecedência, lembrando que a gestão Mello Reis não conseguiu fazer sucessor, embora tenha sido exitosa. Ela vislumbra eleger quem a sucederá.



MOROSIDADE


O modelo legislativo brasileiro tem, entre seus defeitos, a morosidade. De forma que, não raro, quando chegam as leis, elas já estão desatualizadas ou defasadas. Outra coisa não foi o que se viu, na semana passada, quando o Senado votou o marco legal para licenciamento ambiental, matéria ali adormecida durante quatro anos, que, somados aos 17 por que passou na Câmara, perfaz a maioridade dos 21 anos! Resta outra caminhada, que se presume da mesma longevidade, porque, tendo o texto incorporado alterações substanciais, tem de retornar à Câmara, sem que se saiba quando vencerá os novos trâmites.


O marco trata de ocupações, permite a simplificação e flexibilização de licenças para exploração da terra, mas vem encontrar uma realidade inteiramente diferente daquela que então preocupava o parlamento duas décadas atrás.



AMBRÓSIO


Transcorreu, ontem, o centenário de morte de Ambrósio Vieira Braga. Foi quem administrou a cidade, como agente executivo, no fechamento do século 19, de 1898 a 1900. Presidiu a Câmara e foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia. Hoje, é lembrado apenas por dar o nome a uma galeria que liga as ruas Halfeld e Marechal Deodoro.



FORA DO AR


A disposição de Lula parece indicar preferência por longas caminhadas pelo interior, nas próximas semanas, desejoso de estreitar convivência com as populações, em particular com o eleitorado, mesmo sem poder garantir, desde já, se estará disputando novo mandato. Contudo, se os dias atuais nos atropelam, e ainda distante a sucessão, mais adequado é ele sentar praça em Brasília, interromper a conhecida animação por viagens, e tomar as rédeas das soluções para os muitos problemas que estão afligindo a sociedade brasileira. Hoje, ele dá ideia de que tudo pode ser delegado.



terça-feira, 3 de junho de 2025

 


A dimensão do impasse

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil"))

Impossível negar importância a esse novo teste que se projeta no mapa das relações entre Brasil e Estados Unidos, como desdobramento da decisão do Departamento de Estado de ajustar contas com a Justiça brasileira; antes tendo como alvo o Supremo Tribunal, depois com enfoque no ministro Alexandre de Moraes, acenando sérias hostilidades. Já era esperado, inevitável capítulo de passadas antipatias, que começaram a prosperar com Elon Musk. Os americanos sentem-se no direito de defender interesses de plataformas e empresas que aqui atuam. O Brasil, forçado a se situar, vê-se diante de um quadro de alguma forma delicado, porque, se não pode deixar ao sereno um ministro togado que tem sido gentil ante as questões do governo, também não deve ignorar as consequências, se exagerar no grito e nas retaliações, já que procede do Norte uma grande dependência na operacionalização das redes sociais.

Indo logo ao âmago da questão, que é também a que mais preocupa. Já não sendo mais segredo, o embate entre o secretário Marco Antonio Rubio e o ministro Moraes não é, não pode ser, transformado em uma questão de estado. Porque, por sobre a divergência que os coloca em campos diferentes, há um conjunto de outros interesses maiores a considerar, não apenas na interpretação de diferentes visões sobre liberdades de expressão. O doutor Rubio e o ministro Moraes não podem ser as pátrias em campo de guerra.

Porém, mesmo delineados os limites do terreno em que deve se desenvolvendo o impasse, percebe-se que tem tudo para avançar mais do que tolera a conveniência das relações Brasília -Washington, segundo a preocupação de analistas estrangeiros. O mundo tem advertido que somos dois países importantes, com as maiores populações da América. Jornais de Nova York e congressistas influentes prenunciam sérias disfunções diplomáticas, o que, pela atual dimensão do problema, é um exercício de exagero, exatamente pela razão já exposta; a menos que observações mais qualificadas que as de um breve artigo de jornal reconheçam gravidade maior. A crise não tem razão para gravitar além da órbita dos dois funcionários.

Vem, em seguida, segunda observação, que parece de igual importância. Se um ministro brasileiro e uma alta autoridade americana estão em conflito, não haverá de faltar forças, pouco aparentes, mas não totalmente ocultas, a tirar proveito do momento, notadamente para agravar os problemas que rondam Executivo e Legislativo, que já não são poucos, inclusive com resquícios de natureza ideológica.

Dada tal dimensão, ideal é que o presidente Lula assuma, pessoalmente, o controle da situação, sem deixar que ela corra frouxa, porque é assim que as coisas vão piorar.

Podem ocorrer novos lances em que o governo não terá como silenciar. Precisará conter a tentação de braveza, reagindo só por vias competentes, que impeçam o comprometimento de outros interesses nacionais. Por mais competentes que sejam nossos diplomatas, ao presidente Lula não cabe lavar as mãos, pilatescamente; ao contrário, convém conduzir firmemente o processo. Nessa hora, é fundamental que esteja em Brasília, e não recomendar a seu chanceler que se vire, e faça o que achar melhor, como recomendou ao ministro Haddad, na semana passada, quando fritava o destino da sobretaxa do IOF.

2 - A disposição de Lula parece indicar preferência por longas caminhadas pelo interior, nas próximas semanas, desejoso de estreitar convivência com as populações, em particular com o eleitorado, mesmo sem poder garantir, desde já, se estará disputando novo mandato. Quanto às excursões, não se lhe pode negar o direito, porque todos os candidatos, possíveis hoje ou impossíveis amanhã, terão de se sujeitar a exaustivas peregrinações. E, claro, há muito o que olhar por esse interior, onde também há muito o que fazer. O presidente, mais que ninguém, sabe disso. Contudo, se os dias atuais nos atropelam, e ainda é distante a sucessão, isto faz parecer mais adequado é ele sentar praça em Brasília, interromper a conhecida animação por viagens, e tomar as rédeas das soluções para os muitos problemas que estão afligindo a sociedade brasileira. Hoje, ele dá ideia de que tudo pode ser delegado.

Frente às dificuldades, entre as mais recentes o protesto do Departamento de Estado, o temor é que sejamos vistos, no Exterior, como um país que navega e flutua à mercê dos ventos, enquanto o capitão apenas delega a imediatos. Ora, quando o leme está nas mãos do comandante a viagem sempre parece mais segura.

À medida em que engorda a pauta dos problemas, impõe-se a presença da autoridade maior, mais ainda quando estamos, como agora, sob a coincidência de graves desafios que, por mal dos pecados, vão nascendo e prosperando a um só tempo.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

 

No aniversário, coisas da política


A um leitor que envia mensagem, identificando-se como Nascimento, a proximidade da data do aniversário da cidade, a transcorrer amanhã, ensejaria algumas anotações sobre a importância de Juiz de Fora na política nacional, nas primeiras décadas de sua História, o que, para muitos, seria vagar por fatos isolados, fora de contextualização mais expressiva. Seja como for, alguns fatos merecem registros, e vale repassá-los, à guisa de celebração da data.


Quando se busca o passado, sempre se ouve falar que a expressão da cidade raramente se converteu em poder. O que é fato. Ela influía, muitas vezes ajudou a tomar decisões, mas foram poucos os que daqui saíram para governar Minas e o Brasil. Primeiro exemplo sem sair de Minas: em mais de 150 anos, ao palácio da Liberdade só chegamos cinco vezes, o que contrasta com a importância local, não só na política, como na economia e na cultura.


Começando pelo Estado, com Luiz Eugênio Horta Barbosa ( 1842-1927), que presidiu a província em 1887, por um ano. O que, a bem dizer, não era pouco, porque, naquela época, a alternância se fazia à sombra de fatores diversos e interesses imediatos da corte; tanto assim, que Horta Barbosa também governou Espírito Santo, Piauí e Alagoas, em todos os casos por poucos períodos. Mas mandava pra valer! Foi pecuarista, um dos fundadores da Escola de Direito do Granbery, teve seu nome tristemente ligado à Hospedaria dos Imigrantes Italianos, página terrível de desumanidades. Outra tragédia: com recursos próprios financiou dois pelotões para a Guerra do Paraguai, facilmente derrotados. Nenhum dos nossos heróis voltou vivo.


2 - Em 1926, Antônio Carlos Andrada, vereador e agente executivo em Juiz de Fora, foi eleito presidente de Minas, onde realizaria obra expressiva na educação, além de inovar nas eleições com o voto secreto. Mas logo tornou-se uma expressão nacional. Liderou a Aliança Liberal de 30, e teria sido presidente da República, não fosse a resistência dos paulistas em manter a candidatura de Júlio Prestes. Ministro da Fazenda e deputado federal, dirigia a Câmara, substituindo Getúlio Vargas, quando este viajou para Argentina e Uruguai, de 17 de maio a 8 de julho de 1935. (a Constituição de 34 havia eliminado a figura do vice-presidente da República). Recusou-se a receber “os dias trabalhados”, alegando que seu sonho era estar onde esteve naqueles dias. Portanto, nada a cobrar nem a receber.


3 - O terceiro de Juiz de Fora a governar o Estado foi Nísio Batista de Oliveira. Dirigia o Tribunal de Justiça, quando assumiu, em meio à crise nacional de 1945. Ficou no cargo durante ano e meio, depois que o presidente do Supremo, José Linhares, mandou que se fizesse tudo para tirar as forças de Benedito Valadares. No seu período estava em tela o grave problema do Contestado, terras disputadas por Minas e Espírito Santo, com muitos choques armados e mortes.


Depois, veio João Tavares Corrêa Beraldo, nomeado pelo presidente Dutra. Governou apenas durante seis meses. Terminou seus dias como diretor do Banco de Crédito Real.


Itamar Franco fechou o ciclo dos homens de Juiz de Fora no Palácio da Liberdade. Com um detalhe: mais tarde, ele e Nilo Peçanha, do Rio de Janeiro, foram os únicos que governaram seus estados depois de terem sido presidente da República. Em Brasília, onde chegou como vice de Fernando Collor, e a quem substituiu, o ponto alto de sua biografia seria o Plano Real, que reorganizou a política financeira do país.


Teriam sido seis os governadores conterrâneos, se Lúcio Bittencourt, do PTB, na década de 50 vencesse Bias Fortes (PSD) e Bilac Pinto (UDN ). Interessante sobre Lúcio: na campanha, ele foi a todas as cidades mineiras onde um avião pudesse descer. No dia 9 de setembro de 1955, viajando para Araçuaí, caiu seu Cesna PT-AIF, e ele morreu em Itaobim.


Não há negar a presença da cidade em momentos políticos decisivos, embora, como se disse, nossas lideranças nem sempre souberam reter nas mãos o poder que ajudavam a construir. Uma

rara exceção foi Pedro Marques, que deixou de ser prefeito para se tornar vice na chapa vitoriosa de Olegário Maciel.


4 - Expressivo foi o prestígio dos chefes da cidade no Império, com D Pedro II. Eram 29 os barões e viscondes que aqui residiam, entre eles 10 administraram as províncias. Mas dois que não tinham título nobiliárquico, Halfeld e Mariano, foram os mais influentes.


( Ainda assim, observe-se que em 1860, eleição para Senado e Câmara Federal, votados aqui 113 cidadãos, o poderoso Mariano Procópio ficou em 19º lugar, com 201 votos para deputado. O mais votado foi Capistrano Alkimin, com 641 votos).


Quando caiu o imperador, houve festa dos republicanos, notadamente Constantino Paletta, Fonseca Hermes, João Penido, Luiz Detsi e Fernando Lobo. Mas apenas Fonseca Hermes, na Secretaria-Geral, e Lobo chegariam a compor o primeiro ministério, por algum tempo. Certamente que o “barulho” dos adversários do império estaria por merecer muito mais. A República caminhou, e, de fato, vamos ver que os nossos teriam merecido mais do que receberam.


Com a chegada de Floriano Peixoto ao palácio Itamaraty, sede do governo, os republicanos locais apenas ameaçaram algum voo. Constantino é eleito constituinte federal, Detsi e João Penido deputados federais, e Lobo havia se tornado ministro do Interior. Mas em 1897 Penido (pai) não consegue entrar na lista para o Senado, e se afastou da política. Fernando Lobo também se afasta, ao ser recusado para disputar a vice-presidência da República. Outro revés é que, constituído o Conselho de Intendência, a presidência ficou com Antero Lage Barbosa, que tinha sido conselheiro no Império. Era como emprestar a garrucha ao inimigo…


Interessante, como os mal sucedidos se dispunham a abandonar a política. Estêvam de Oliveira, em livro de 1911, escrevendo sobre a campanha civilista de Ruy, mostra que o deputado Duarte de Abreu, contrariado com a vitória de Hermes da Fonseca, também se retirou.


5 - Mas havia, no começo do século, uma excrescência capaz de justificar o desânimo. Eram as chamadas Comissões Verificadoras, que tinham poder de fulminar candidaturas, desde que considerassem nelas pequenas razões de invalidade. Em 1909 foi proposta a nulidade de 15.000 votos dados a Duarte de Abreu, João Penido e Francisco Bernardino. Votos transferidos para Artur Berrardes. Vitória da fraude. O jornal Pharol definiu como eleitor “fósforo”, o ausente ou morto que “votou”. Antes, 1900, circulava um manifesto, conclamando lideranças descontes com o PRM a ajudar na criação de um novo partido como reação à “farsa ridícula” de eleição dominada por oligarquia. O que não haveria de ser novidade em tempos seguintes.


Um detalhe da política daquele tempo, que merece voltar à lembrança, pois o passar do tempo manteve sua atualidade; pelo contrário, pode confirmá-la. Em 1933 e no ano seguinte, era grande o número de partidos: Republicano Mineiro, Progressista, Trabalhista, Liberal, Economista, Progressista da Juventude, Civilista da Mocidade, Autonomista, e, em formação, Clube Republicano Ditatorial. Diante disso, demos a palavra ao “Correio de Minas”, igualmente atualíssimo: “Trata-se, evidentemente, de inútil dispersão de esforços. Os partidos não se criam por simples vontade de algumas pessoas. Pressupõem a exigência de várias coisas, a começar por eleitores” (edição de 7 janeiro 1933).


6 - Nos anos 30 vieram à cidade Washington Luiz e João Pessoa, para confirmar o prestígio local. Antônio Carlos realmente havia tornado Juiz de Fora o centro das atenções políticas. Sua casa, na rua do Espírito Santo, foi referência para Arthur Bernardes, Venceslau Braz, Afonso Pena Jr, entre outros, no dia em que se selou a Aliança Revolucionária, segundo acordos formados com Vargas e Oswaldo Aranha. Vale lembrar: foi naquela reunião, com a Revolução de Outubro já consagrada, que, pela primeira vez, falou-se em Getúlio para chefe do governo provisório, que estava para nascer. O mais longo “provisório” da História, que duraria 15 anos... Antônio Carlos também tinha seus inimigos nos cafés da rua Halfeld: “Doutor Promessa”, dizia-se.


( A Aliança Liberal obteve grande êxito aqui. Em 1º de março de 1930, a chapa Getúlio-João Pessoa recebeu 3.198 votos, contra 696 da chapa Júlio Prestes-Vital Soares).


A crônica da Revolução de 30 não pode ignorar a figura de Odilon Braga, que a cidade guarda entre as injustiças do esquecimento praticadas contra homens ilustres. Havia sido um dos mais influentes estrategistas daquele movimento, principalmente quanto às armas. Traçou os mapas para aviões e bombas aéreas de 50 quilos. Com o advento do Estado Novo, ditadura de Vargas em 37, tendo ocupado a pasta da Agricultura, foi o único ministro a discordar do golpe, demitindo-se.


(Uma curiosidade raramente citada sobre Odilon. Entre todos os políticos de Juiz de Fora foi o que mais recebeu votos em uma eleição. Em 1950, candidato a vice-presidente da República, teve 2.344.841 votos. Por causa de 176 mil votos perdeu para Café Filho).


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7 – A eleição de Dilermando Cruz, 1947, para prefeito, foi um marco. O primeiro eleito pelo voto direto na redemocratização. Com ele, a política municipal deselitizou-se, escapando da nobreza. Surge, então, o fenômeno do populismo de Olavo Costa, do velho PSD, que nas duas décadas seguintes ainda haveria de medir forças com os conservadores, representados por Adhemar Andrade. Estava começando um novo tempo. Mas isso é outra conversa, que fica para o aniversário do ano que vem.













terça-feira, 27 de maio de 2025

 Para que federações?


((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Uma indagação que parece pertinente, diante de evidências, é a razão com que alguns partidos insistem nas chamadas federações, se demostrado está que em nada contribuíram para o aperfeiçoamento da política nacional, nem mesmo para melhorar o nível das atividades parlamentares. Criadas em 2021, para durar, ao menos, quatro anos, já ofereceram denúncia cabal de que a nada mais aspiraram que não os interesses imediatos de suas lideranças, ou para salvar partidos já à beira da morte, incapazes de vencer a Cláusula de Desempenho. Ficamos à espera de contestações ou meras ressalvas para justificá-las. Não as temos. Uma única talvez, para que não se cometa injustiça: as federações, existentes ou em vias de formação, têm servido para antecipar futura e inevitável redução da quantidade de partidos hoje sobreviventes. Pois, exatamente por serem desnecessariamente abundantes, perderam um mínimo de autenticidade. Fora isso, as fusões passam sem o aplauso de quantos desejariam ver essas siglas justificadas em si mesmas.

Vale insistir. A expectativa de alguma virtude nessa inovação está na capacidade de, à luz da experiência, levar ao enxugamento do quadro partidário que temos hoje, pulverizado por trinta siglas, numa mistura de letras que nada dizem, nada propõem.

Nos últimos dias falou-se com frequência de nova ebulição de partidos federados, porque, visivelmente, procuram ampliar suas forças, desde agora, com o objetivo de terem assegurado espaço no grande embate eleitoral que se prenuncia para 2026. Como é escasso o número dos que têm fôlego suficiente para caminhar com pernas próprias, os mais fracos vão se encostando uns nos outros. Também resultado da previsão, que justificadamente fazem, de que a sucessão presidencial tem tudo para reeditar a polarização, quando serão mínimas as chances de os pequenos, isolados, sobreviverem. Precisam se juntar para respirar. Nessas fusões ainda gozam do conforto de não terem de mostrar aos eleitores sua identidade programática ou ideológica.

(Outro atrativo nessas sempre suspeitas associações são os fundos para o financiamento das candidaturas. São bilhões de reais, cada ano mais generosos. Entre suas maldades figura a preferência daqueles recursos à reeleição de deputados e senadores veteranos. Em grande parte comprometendo a indispensável renovação).

2 - A proximidade de 2026 é visível nas preocupações do presidente Lula, em quem muitas responsabilidades pesam, sendo ou não candidato. E começa a trabalhar no fortalecimento e consolidação das correntes de esquerda. Compreende-se. O presidente apreciou os resultados da radicalização das urnas em 2022. Por que não repeti-la?, se do outro lado certamente estarão unidos a direita e os bolsonaristas, conforte o modelo antigo. Pela via das federações partidárias transita o projeto dos direitistas, igualmente empenhados na repetição do cenário, confiantes em que o PT e o governo terão de pagar o ônus da impopularidade.

Por tudo que se viu e ainda se verá, fica a certeza de que essas fusões servem para agasalhar interesses de lideranças calejadas no exercício do poder, servir a projetos imediatos, confundir a sociedade, enganar os eleitores. E só.

Demora e inépcia

As leis, se tardam, por morosidade com que saem dos laboratórios legislativos, muitas vezes comprometem a eficácia das soluções que as inspirou, quando na fase de propositura. É sabido que as gavetas do Congresso são o cemitério de uma infinidade de ideias, muitas delas já clamando por um rigoroso saneador. Tornaram-se peças superadas no tempo.
Não há novidade em dizer isso. Mas o assunto acabou vindo à lembrança, na semana passada, quando o Senado votou o marco legal para licenciamento ambiental, matéria ali adormecida durante quatro anos, que, somados aos 17 por que passou na Câmara, perfaz a maioridade dos 21 anos! Resta outra caminhada, que se presume da mesma longevidade, porque, tendo o texto incorporado alterações substanciais, tem de retornar à Câmara, sem que se saiba quando vencerá os novos trâmites.

O marco trata de ocupações de terras, permite a simplificação e flexibilização de licenças para exploração dos espaços, mas vem encontrar uma realidade inteiramente diferente daquela que então preocupava o parlamento duas décadas atrás. Por mais que tenha sido aperfeiçoada e atualizada, é justo considerar naturais arranhões do tempo. Sabemos todos que, hoje em dia, o que mais assusta nem é exatamente como as coisas mudam, mas a rapidez com que mudam.

No passado, a exploração da terra era uma realidade diversa, a agricultura sob muitos aspectos rudimentar, as ocupações feitas ao leu, o agronegócio, como o que temos hoje, apenas ensaiava sua colossal importância na economia. O mundo e o Brasil eram diferentes.

Mas, se tudo ainda pode ser ajustado e corrigido, o que chama atenção e adverte é a morosidade com que o Congresso geralmente se desobriga de suas responsabilidades. Precisa ser mais ágil, mesmo que sem a ligeireza com que dá trato às emendas parlamentares…