quarta-feira, 19 de novembro de 2025

 

Para discutir a sucessão

(Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

As atividades intensas com que se processaram na COP-30, dominando as prioridades do governo, acabaram por reduzir a segundo plano outras questões prioritárias, como a discussão complicada sobre a maneira de construir uma política eficiente de segurança pública; como também dominaram a agenda presidencial e imobilizaram parte das atividades parlamentares. Finda uma grande conferência sobre o clima, com todas as incertezas sobre o que dela se vai obter, os setores políticos devem redobrar atenções no campo da sucessão presidencial até porque, a partir de agora, distantes só onze meses das eleições, tudo que se fizer, tudo que se decidir terá olhos voltados para as urnas de 26; tanto os olhos dos que governam como os que fazem oposição.

Um raciocínio que parece autorizado evidencia-se nas pesquisas, mesmo que elas sejam comprovadas sob justas reservas, considerando-se o pleito ainda distantes e os muitos cenários que podem se alterar em razão dos acontecimentos e das imprevisibilidades. Revelam, com insistência, que estamos diante de um eleitorado rachado ao meio. Breves alterações de números e nomes não refletem tendência a mudanças substanciais nesse panorama, fruto da radicalização, tal como em 2022. Quanto a isso não há discordâncias.

(Então, o que há hoje de concreto? Duas realidades: o governo sabe que o melhor projeto é trabalhar para a reeleição do presidente, porque não lhe resta outro caminho com potencialidade, e, na outra ponta da corda esticada, a direita fragmentada por ambições de ocasião e sem saber até onde confiar na herança do bolsonarismo.)

Há uma preocupação crescente com o destino sombrio da segurança, porque o país mergulhou num estágio em que o crime, cada vez mais organizado, contrasta com o poder público, confundindo quanto às políticas de enfrentamento mais adequadas. É assunto que tem garantia de vaga na campanha pelos votos, quando os candidatos, quaisquer que sejam seus partidos ou convicções ideológicas, tenham de mostrar ao eleitor o que não souberam fazer para tornar a situação mais segura ou, se não tanto, menos vulneráveis. Curioso sentir que caminhamos para uma eleição em que o estado organizado, das instituições e das leis, tem de se expor, enquanto as organizações ilegais convém o refúgio e a proteção das favelas e dos complexos, onde as operações policiais são visitas indesejáveis. Uma segurança ineficiente é que terá de subir ao palanque de governantes e oposicionistas. Por outro lado, como sabemos, as violações deixam claro os candidatos que apoiam.

Há quem arrisque a possibilidade de uma próxima campanha pela sucessão presidencial abrir algum espaço para a influência de temas momentosos da política externa, algo difícil de prever, se considerarmos que o brasileiro já tem pela frente uma vasta pauta de problemas, sem vagar para deixar-se influenciar pelo que o governo fez ou deixou de fazer na diplomacia. Custa admite que se preocuparia com as rusgas entre Trump e Lula, mesmo sob o risco de se agravarem. Ou, também duvidoso, se deixar o voto comover-se pelo fiasco da oferta do Brasil para trabalhar a pacificação dos ânimos tensos entre Estados Unidos e Venezuela, oferta de boa vontade que os litigantes jogaram no lixo. Talvez menos inviável, quem sabe, possa ser os desdobramentos externos da COP 30, quando servirmos de cenário para abordar questões com o clima.

Seria bom sinal de aperfeiçoamento do eleitorado vê-lo também preocupado com as ações externas, e como andam nossas responsabilidades num mundo onde não estamos sozinhos, mas prontos a pagar pelos homens que a todos atormentam.


Nenhum comentário:

Postar um comentário