segunda-feira, 25 de março de 2019

Bolsonaro e os idos de março 


Terminado o ciclo militar, e com o advento da quinta república, os governos deixaram de falar e exaltar o golpe de 64, que, quando muito, ganhou ligeiras referências nas ordens do dia lidas em quarteis. Nos últimos anos nem isso, e a data mergulhou em total ostracismo. Mas agora, ainda convencido de que os acontecimentos de 64 e os que logo se seguiram salvaram o Brasil, o presidente Bolsonaro determinou que o 31 de março daquele ano seja comemorado, o que vem se juntar a muitas de suas contribuições que levam a um clima de polêmica nos meios políticos. A ser cumprida sua determinação, as instituições militares se ocuparão, no domingo, de reativar o discurso de época: o país estaria em véspera da instalação de uma ditadura síndico-comunista; e o remédio era impedi-la com outra ditadura. 

Já que o tema é resgatado por iniciativa presidencial, depois de meio século adormecido, cabe lembrar que os estudiosos e pesquisadores em geral preferem limitar os efeitos da ascensão dos militares ao poder, naquele ano, à quebra dos direitos individuais, à censura e à violência nos interrogatórios realizados nos porões. Mas não foi só isso.

As dores a que foram submetidas as instituições democráticas se fazem sentir ainda em nossos dias. Dos idos de 64 ficaram a fragilização dos partidos; o descrédito da política, e não apenas dos maus políticos; o modelo puramente tecnocráticos na formulação da estratégia econômica; o ressurgimento, em alguns aspectos, da cultura antidemocrática de 1937, com Vargas; e, no campo da segurança nacional, a transformação do cidadão em inimigo de guerra.

Certamente, o presidente não pretende abordar tais aspectos, embora sejam fatos que a História não desmente.




Feriados

Deve-se ao deputado tucano matogrossense Beto Pereira a retomada de uma interminável discussão: a conveniência de os feriados nacionais, mesmo os que têm datas fixas, tornarem-se móveis, o que significa institucionalizar os fins de semana prolongados. O argumento em que se baseia o projeto é que os feriados, quebrando a regularidade econômica e as atividades do comércio e da indústria, causam grandes prejuízos à nação. Mas desconsidera um dado essencial: feriado fora da data perde seu significado histórico, sua razão de ser. O deputado exclui da proposta o primeiro dia do ano, Natal, Sete de Setembro e dia de Nossa Senhora Aparecida.

Pretende o projeto que feriado na terça ou quarta-feira fica antecipado para a segunda-feira anterior. Se cair na quinta fica para a sexta seguinte. A pergunta cabível é se a antecipação e o adiamento também não quebrariam o ritmo da economia na segunda e na sexta-feira contempladas.

O projeto é novo, mas a ideia é antiga, defendida pelos apreciadores de feriadões.


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