sexta-feira, 26 de maio de 2017






Logo após


Quando passar essa tormenta – um dia vai passar - a classe pensante deste País terá dois temas importantes para ocupar o vácuo de suas reflexões; sem direito a relegá-las, por maiores que sejam os apelos ao comodismo casuístico ou o “deixa pra depois”.  O primeiro objeto para o pensar é nossa carcomida estrutura político-partidária; esse largo manancial permissivo que nos obriga a assistir à ascensão de lideranças tais como Renan, Cabral, Jucá, Lula, Maluf, Dirceu e outros. Trata-se de um modelo – não há quem possa negá-lo - que tem como bandeira três defeitos sinistros: facilita a corrupção, degrada a representação parlamentar e cria um lastro criminoso a serviço da bandidagem. Se não nos dispusermos a mexer nisso de nada adiantará a Lava Jato. O Brasil passado a limpo logo voltará a se sujar.

A segunda questão, que desde agora se recomenda, é uma cuidadosa avaliação do instituto da delação premiada, essa nau generosa por onde  navegam os bandidos ingratos com outros bandidos. Já tudo se revela muito claro: o que menos se obtém para o exercício da justiça é o conhecimento das mazelas políticas; antes, e muito mais, a delação premiada tem servido para facilitar a vida de agentes corruptos com o sacrifício de outros corruptos. Indicam os políticos que lhes venderam facilidades, na expectativa de alcançar os beneplácitos do Poder. Não se pejam de atirar ao abismo os bons comparsas.

A delação que se vê hoje, versão legalizada do dedurismo das ditaduras,  imortal criação de um velho conhecido, Escariotes, começa com o grave defeito da confiança traída, constatação a todo momento confirmada.  O delator nunca é menos bandido que o delatado. Eis o suficiente para o Judiciário passar a olhar com reservas mais cuidadosas esses préstimos interesseiros, sem olvidar que no caso sucumbem diferenças entre quem acusa e quem é acusado. Não há distância significativa entre eles.







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