quinta-feira, 21 de dezembro de 2017






Balanço de 2017


O ano de 2017 caminha para seu fim. Os políticos com mandato retornam às suas bases e aos seus familiares. Os que terminam mandato e concorrerão nas eleições gerais de 2018 vão de encontro com sua realidade. Encontrarão eleitores insatisfeitos, críticos ou indiferentes. O Brasil está em permanente mudança no ambiente político. Uma parcela considerável de eleitores está atenta aos fatos políticos, uma outra (a maioria) continua indiferente, cética em relação ao futuro do País, pois não acredita nos políticos profissionais.

O presidente Michel Temer (PMDB) poderá fazer o seu balanço particular, e concluirá que seu saldo político foi positivo. Temer e seu grupo enfrentaram batalhas difíceis, a ação da Procuradoria Geral da República foi incessante, denunciando o presidente e alguns ministros do seu núcleo político mais próximo. Alguns amigos íntimos foram para a cadeia, e podem ainda trazer alguns dissabores ao governo caso optem pela colaboração premiada com o Poder Judiciário. Temer, portanto, tem muito a comemorar neste final de ano, pois não sucumbiu às forças poderosas (grande imprensa, partidos de oposição e MPF), e demonstrou ser um político hábil na negociação com os parlamentares, que ele conhece bem como eles (na maioria) gostam de serem tratados.

O Congresso Nacional termina o ano com um saldo negativo, pois a maioria dos parlamentares demonstrou que exerce o mandato apenas pensando nos interesses particulares. Embora isto seja do conhecimento público, parece que a parte da população mais atenta à cena política aumentou seu mau humor com os políticos de uma  forma geral. Lembremos de alguns fatos que ficaram conhecidos pelas redes sociais (através de vídeos) onde vemos parlamentares hostilizados em aeroportos e dentro de aviões de carreira. Cresce a rejeição aos políticos, o que poderá acarretar o elevado percentual de votos brancos e nulos e as abstenções em outubro de 2018.

O STF encerra o corrente ano com balanço desfavorável, pois seus membros se desgastaram muito com atitudes pouco equilibradas para ministros da mais alta corte do País. O Ministro Gilmar Mendes foi o maior destaque no que diz respeito às decisões monocráticas, libertando da cadeia políticos e corruptos contumazes. A presidente, ministra Carmen Lúcia, ficou em algumas oportunidades em 'saia justa' com as deliberações que o Tribunal teve que se pronunciar. A própria presidente teve que dar o voto de minerva em caso constrangedor do recurso do  conterrâneo senador Aécio Neves (PSDB-MG) contra medidas cautelares a ele aplicadas. Ela foi favorável ao entendimento que, apesar de a Suprema Corte poder determinar medidas cautelares, a palavra final fica com as respectivas Casas Legislativas. Em seguida, o Senado Federal liberou o senador das punições.

Finalizando no balanço geral da política brasileira, o saldo é positivo quando percebemos que há uma parcela crescente de brasileiros atentos aos fatos políticos, manifestando-se pelas redes sociais (às vezes com postagens raivosas) demonstrando que o interesse pela política cresceu. Mesmo reclamando de tanta corrupção na administração pública, o brasileiro se dá conta de que é preciso mudar os seus representantes, ou manifestar sua indignação deixando de participar com seu voto. Mas, estará consciente que em 2018 a opção que fizer terá consequências para si e para todos no próximo quadriênio.



Números sinistros


O ano fecha as portas com um balanço sinistro na cidade. Dados conferidos indicam que Juiz der Fora somou 33 casos de suicídio, não contando aqui os que ocorreram sem registro ou com causa-mortis maquiada. Portanto, um número recorde, tão indesejável como preocupante: estamos perdendo as forças para enfrentar as depressões, as angústias profundas, os becos sem saída que a morte arquiteta nos desvãos da vida.

Em passado mais recente, nos jornais éramos instruídos a não noticiar os suicídios, para não estimular outros enfermos. Um suicida famoso podia se tornar exemplo. Vale lembrar que, quando Marilyn Monroe se matou, no mesmo dia outras 12 pessoas no mundo a acompanharam nesse gesto. É o Efeito Werter, pois, como explicou Nava, que também decidiu interromper o viver, basta ir amadurecendo a ideia, que o momento da coragem acaba chegando.    

Houve tempo em que o suicida era rejeitado pela sociedade de que participava,  execrado pela Igreja, que lhe negava direito aos ofícios do de-profundis. O inferno o esperava, porque só Deus tem direito de decretar o momento da morte. Para não falar da falta de caridade lembrada por Santo Agostinho: o suicida não dá direito de defesa à vítima – ele próprio -, exatamente quando está ausente, fora de si. Hoje a Igreja é  outra, pois viu, pela ciência, que o suicidar-se tem tudo para merecer a misericórdia do céu.

Seja como for, há muita coisa ainda a desvendar nesse ato extremo. Albert Camus sugeria que se pesquisasse mais sobre a “atração do nada”, essa força que não se vê, mas é capaz de assumir o inconsciente dos sãos e dos enfermos, quaisquer que sejam suas idades, dificuldades ou solidões. Essa atração sim, que pode chegar a almas deprimidas, e tanto pode corroê-las como abri-las à criatividade, como se deu nas fases mais atormentadas de Goethe, Tostói e Lutero.

Bom seria se os desesperados recorressem ao poeta espanhol Sofocleto, que, com uma pitada de ironia, escreveu: “Gostaria muito de suicidar-me, mas é muito perigoso”...



O Natal


Gosto de lembrar o que o escritor Otto Lara Resende deixou em um recorte de jornal, que andava pelas mesas da Redação: “Por mais desfigurado que esteja o Natal, por mais soterrada que vai ficando a Festa sob os milionários escombros do consumismo, há, todavia, uma pequena luz que resiste a todas as tentativas de apagar essa estrela do Oriente. Uma pequena luz de misericórdia permanece, quase sempre disfarçada numa inexplicável tristeza. É como um véu oculto, que se vê dentro de nós. Estranho sentimento esse, que morde em silêncio o coração distraído”.






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