terça-feira, 25 de novembro de 2025

 


Depois de Belém
Wilson Cid, hoje, no Jornal do Brasil
Reflexão que parece procedente, quando se tem em conta a avaliação da COP 30, responsável, nos últimos dias, por colocar o Brasil em destaque internacional, é que, realmente, assiste-se ao crescimento de uma preocupação quanto aos desafios do meio ambiente, em particular o clima. O que é dado animador, porque todos saem daqui um pouco mais conscientizado de que estamos, nós e o resto do mundo, diante de uma questão que precisa se sobrepor ao romantismo de naturalistas e interesses econômicos, mas o real desafio da humanidade para as décadas seguintes. Mesmo que ainda sobrevivam setores acomodados ou desinteressados, como o governo dos Estados Unidos, os árabes do petróleo, e até alguns integrantes do Brics, a indiferença vai, aos poucos, perdendo espaço. Belém do Pará, com todas as deficiências e senões, ajudou a constatar que há preocupação crescente com o clima; e isso já se conta como ponto favorável.

Essa particularidade, se permite certo alívio, também adverte quanto a novos e incansáveis esforços para que não caia no vazio tudo que se falou, que se denunciou em nome de um clima mais ameno. As poucas resoluções, mesmo que modestas diante das necessidades, não podem cair no esquecimento; nem cedam ao poder de conhecidos setores de resistência. Antes que prosperem, é preciso reagir, o que impõe, num capítulo seguinte ao recente encontro coordenado pelo Brasil, tratar de ações de continuidade. Belém precisa permanecer de plantão, e não se permitir ao pobre destino das conferências anteriores.

Temores fazem sentido. Tomemos como exemplo que, dez anos passados, em Paris, quando o tema já ensejava compromissos internacionais, projetos ambientais foram solenemente aclamados, com a promessa de que U$ 100 milhões seriam imediatamente aplicados. Não saíram de lá nem chegaram a lugar algum. O dinheiro, viu-se mais uma vez agora, é a grande questão: os sonhados 1,3 trilhão para socorrer o mundo asfixiado, não foram além de 3,4 bilhões; mesmo assim, suspeitíssimos, porque têm de sair de setores privilegiados, como os poços de petróleo dos árabes e do armamento, que sempre foi guloso consumidor de orçamentos.

Despedidas as delegações que estiveram em Belém, de volta aos países de origem, cabe indagar qual o passo seguinte para que preocupações tão longamente debatidas sejam honradas e avancem ao campo da objetividade; para que essa COP não esteja condenada, como suas antecessoras, a mero papel de simpósio de boas intenções, sem decorrências eficazes. E que as preocupações com o clima deixem de ser tradicionais reféns de tediosos e improdutivos relatórios. .

Os trabalhos em Belém, é bem sabido, não conseguiram vencer certa má vontade de importantes lideranças, estas costumeiramente desconfiadas de que temas como a proteção do clima, a renovação de fontes de energia e a proteção das reservas florestais, mesmo que desejáveis, conflitam com o desenvolvimento das economias produtivas. Vem logo à lembrança o boicote americano, além de certo descaso de russos, árabes e africanos.

Estamos cada vez mais convencidos de que a grande causa climática devia ser acolhida como real prioridade pela Organização das Nações Unidas, em cujas portas batem as maiores aspirações de todo os povos.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

 

A Pauta é Política
21 de novembro de 2025

ESCRAVOS
Há 170 anos, neste dado, a Câmara Municipal informou, então oficialmente, que naquele ano de 1855 a população de Juiz de Fora era de 27.722 pessoas, das quais 118 estrangeiras. Considerava-se, em separado, os 16.428 escravos, em suas maiorias técnicas na zona rural. Esse número já permitia afirmar que, em matéria de população negra, só perdíamos para Leopoldina.

À VENDA
A Comissão Especial da Assembleia está estudando, nesta semana, a reavaliação dos imóveis que o estado pretende vender, e, com isso, abater a dívida de 180 bilhões que o Estado tem com a União. O objetivo principal é retirar da lista os imóveis ligados às atividades de ensino. Na relação original, entre os imóveis de Juiz de Fora colocados à venda estava o Cândido Tostes, escola de laticínios, depois excluído.
O facto é que o Estado não conseguiu fazer bons negócios. Da cidade, permanece em oferta o Expominas. Ninguém quer saber dele.

A DIREITA
O senador mineiro Carlos Viana, que vem obtendo popularidade, como presidente da CPI que tenta apurar o escândalo do roubo praticado contra os investidores do INSS, começou a insistir na necessidade de as correntes políticas de direita se unirem, como primeiro passo para ganhar, em 2026, a Presidência da República. Considere que sem a unidade não há segurança.

TEMÁTICA
Há quem arrisque a possibilidade de uma próxima campanha pela sucessão presidencial abrir algum espaço para a influência de temas momentosos da política externa, algo difícil de prever, se considerarmos que o brasileiro já tem pela frente uma vasta pauta de problemas, sem vagar para deixar-se influenciar pelo que o governo fez ou deixou de fazer na diplomacia. Custa admite que se preocuparia com as discussões entre Trump e Lula, mesmo sob o risco de se agravarem. Ou, também duvidoso, se deixar o voto comover-se pelo fiasco da oferta do Brasil para trabalhar a pacificação dos ânimos tensos entre Estados Unidos e Venezuela, oferta de boa vontade que os litigantes jogaram no lixo. Talvez menos inviável, quem sabe, possam ser os desdobramentos externos da COP 30, quando servirmos de cenário para abordar questões com o clima.

SOB RESERVA
Ainda não está bem contada a história do senador Rodrigo Pacheco aposentar-se em definitivo da política, depois de duas grandes dificuldades que o barraram. A primeira foi a tentativa de construir uma aliança suficientemente forte para disputar o governo de Minas, mesmo com a promessa do presidente Lula de apoiá-lo. Depois, o fracasso de ver viabilizada a indicação de seu nome para a vaga de Luiz Barroso no Supremo Tribunal Federal.
Por que se diz que essa história pode ter outros caminhos? Ele seria um nome para a próxima vaga no Superior Tribunal de Justiça, além de se ter como certo que o senador mineiro pode ser cogitado para compor a chapa de Lula em 2026.

Mas aí há um detalhe que precisa ser avaliado. Sendo Lula candidato a um quarto mandato, estando ele com mais de 80 anos em 2026, a disputa pela vice será feroz.

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

 

Para discutir a sucessão

(Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

As atividades intensas com que se processaram na COP-30, dominando as prioridades do governo, acabaram por reduzir a segundo plano outras questões prioritárias, como a discussão complicada sobre a maneira de construir uma política eficiente de segurança pública; como também dominaram a agenda presidencial e imobilizaram parte das atividades parlamentares. Finda uma grande conferência sobre o clima, com todas as incertezas sobre o que dela se vai obter, os setores políticos devem redobrar atenções no campo da sucessão presidencial até porque, a partir de agora, distantes só onze meses das eleições, tudo que se fizer, tudo que se decidir terá olhos voltados para as urnas de 26; tanto os olhos dos que governam como os que fazem oposição.

Um raciocínio que parece autorizado evidencia-se nas pesquisas, mesmo que elas sejam comprovadas sob justas reservas, considerando-se o pleito ainda distantes e os muitos cenários que podem se alterar em razão dos acontecimentos e das imprevisibilidades. Revelam, com insistência, que estamos diante de um eleitorado rachado ao meio. Breves alterações de números e nomes não refletem tendência a mudanças substanciais nesse panorama, fruto da radicalização, tal como em 2022. Quanto a isso não há discordâncias.

(Então, o que há hoje de concreto? Duas realidades: o governo sabe que o melhor projeto é trabalhar para a reeleição do presidente, porque não lhe resta outro caminho com potencialidade, e, na outra ponta da corda esticada, a direita fragmentada por ambições de ocasião e sem saber até onde confiar na herança do bolsonarismo.)

Há uma preocupação crescente com o destino sombrio da segurança, porque o país mergulhou num estágio em que o crime, cada vez mais organizado, contrasta com o poder público, confundindo quanto às políticas de enfrentamento mais adequadas. É assunto que tem garantia de vaga na campanha pelos votos, quando os candidatos, quaisquer que sejam seus partidos ou convicções ideológicas, tenham de mostrar ao eleitor o que não souberam fazer para tornar a situação mais segura ou, se não tanto, menos vulneráveis. Curioso sentir que caminhamos para uma eleição em que o estado organizado, das instituições e das leis, tem de se expor, enquanto as organizações ilegais convém o refúgio e a proteção das favelas e dos complexos, onde as operações policiais são visitas indesejáveis. Uma segurança ineficiente é que terá de subir ao palanque de governantes e oposicionistas. Por outro lado, como sabemos, as violações deixam claro os candidatos que apoiam.

Há quem arrisque a possibilidade de uma próxima campanha pela sucessão presidencial abrir algum espaço para a influência de temas momentosos da política externa, algo difícil de prever, se considerarmos que o brasileiro já tem pela frente uma vasta pauta de problemas, sem vagar para deixar-se influenciar pelo que o governo fez ou deixou de fazer na diplomacia. Custa admite que se preocuparia com as rusgas entre Trump e Lula, mesmo sob o risco de se agravarem. Ou, também duvidoso, se deixar o voto comover-se pelo fiasco da oferta do Brasil para trabalhar a pacificação dos ânimos tensos entre Estados Unidos e Venezuela, oferta de boa vontade que os litigantes jogaram no lixo. Talvez menos inviável, quem sabe, possa ser os desdobramentos externos da COP 30, quando servirmos de cenário para abordar questões com o clima.

Seria bom sinal de aperfeiçoamento do eleitorado vê-lo também preocupado com as ações externas, e como andam nossas responsabilidades num mundo onde não estamos sozinhos, mas prontos a pagar pelos homens que a todos atormentam.


sexta-feira, 14 de novembro de 2025

 




A cidade ea República


Sempre foi objeto de interesse dos historiadores o fato de a proclamação da República ter sido logo aceita e festejada na cidade, geralmente mencionado como uma das mais influentes do Império, notadamente na segunda metade da gestão de D Pedro II. Juiz de Fora era muito prestigiada no Império, cinco vezes visitada oficialmente pelo imperador, num tempo em que sai de Petrópolis e chega aqui custava 14 horas de sacrifícios em viagem de diligência e revezamento de mulas. É certo que ele e a corte dedicavam muita atenção às figuras proeminentes locais. O que comprova o fato de que, naquele 15 de novembro, 136 anos passados, quando estava sendo inaugurada a república, residiam aqui 29 barões e viscondes, com um detalhe para ampliar consideravelmente a nobreza juiz-forana: entre aqueles 29 nada menos de 10 foram presidentes de províncias, o que equivaleria, hoje, ao cargo de governador de estado.


Pois, não é que, apesar de toda aquela prestígio, a queda do amigo D. Pedro foi rapidamente assimilada pelas lideranças locais. Pedro Nava, no “Balão Cativo”, escreveu, veementemente: “A cidade aderiu à república com o mesmo açodamento indecente do resto da província”. Quanto aos nobres, a adesão ficou perto da unanimidade. Houve o caso singular de Manoel José Vieira Tosta, barão de Muritiba, ex-presidente de Pernambuco e Sergipe: tão logo soube do banimento, vendeu o solar da rua Direita, doou as ações que tinha do Colégio Progresso para estudantes pobres, e, voluntariamente, acompanhou D Pedro rumo ao exílio.


Pelos jornais, e segundo numerosos depoimentos de historiadores, o Império vivia dificuldades crescentes. Em Juiz de Fora, como em outros grandes centros de produção cafeeira, a abrupta libertação dos escravos comprometeu interesses, e essa foi uma contribuição para que a corte ruísse.


O DIA D


Quando chegou na manhã de 15 de novembro, os monarquistas derrotados e os republicanos vitoriosos só sabiam à noite, porque o telégrafo não funcionava, resultado de um violento temporal, que chegou com negociações de granizo e desabou durante 15 minutos. Contaram os jornais que chegaram a cair pedra do tamanho de ovo, com muita destruição, o Fórum totalmente destelhado, casas destruídas, os morros da cidade ficaram brancos…


Só foram saber da novidade à noite, com o telégrafo parcialmente restaurado. Os republicanos concentraram-se no Café Imprensa, Rua Direita, 41, que aconteceram abertos, para as comemorações, durante toda a madrugada. O primeiro telegrama que chegou, confirmando o fim do Império, foi afixado na parede. Os vitoriosos subiram à rua Halfeld, motivados por Heitor Guimarães, cantando versão tupiniquim da Marselhesa.


Uma festa que passou quente, mas sem que se registrassem grandes problemas para a polícia.


(Sobre o clima daqueles dias, um fato pitoresco, que veio dos últimos anos do velho regime: antes de surgir a Praça da Estação, havia no local um espaço cercado para criação de porcos. Ali se revesavam, carregando cartazes, monarquistas e republicanos, com mútua ofensa: diziam ser o lugar apropriado para pregar suas ideias, sob aplausos da plateia suína…)



OS REPUBLICANOS

Se, como se disse, Juiz de Fora era uma referência de prestígio monarquista, seria incorreto negar a importância ativista dos republicanos, muito presentes nos corredores e salas do Fórum. Entre eles, há quatro destaques a registrar: Constantino Paleta e Luiz Detzi, com 27 anos de idade, João Penido, Francisco Isidoro, que completara 25 anos, e o vereador Fonseca Hermes, mais tarde convidado por Floriano Peixoto para a Secretaria-Geral da Presidência da República, o que equivaleria à atual Casa Civil.


(Penido havia se notabilizado, pouco antes, quando, na solenidade de sua formatura, no Rio, recusara-se a beijar a mão do imperador no palácio São Cristóvão. O castigo seria a suspensão imediata da carta de doutorado, mas o próprio D Pedro impediu que a punição fosse aplicada).


Naquelas primeiras horas já havia uma divergência entre as novas eminências, que prosperou por algum tempo. Na formação do Conselho de Intendência, primeira ação política do novo tempo, lá estavam Constantino, Detzi e Isidoro, mas, num cochilo, deixaram que a presidência caísse nas mãos de Antero José Lage Barbosa, que vinha do conselho anterior, de formação monarquista… Isso porque os republicanos tinham seus problemas internos. Como se viu na noite de 20 de julho de 1888, quando o notável pregador Silva Jardim veio para falar, no Teatro Provisório, na rua Halfeld, mas teve de sair do palco, até que o auditório parasse de brigar.



A IMPRENSA


Menos acomodados que os amigos do imperador, os simpáticos à república vinham se utilizando largamente da imprensa para a divulgação de seus planos de mobilização e estimular a população a apoiar o novo regime. Conta Almir de Oliveira em “A Imprensa em Juiz de Fora”, página 35, que “o combate à monarquia suscitou o jornalismo republicano”, mesmo que, em sua maioria, valendo-se de jornais de efêmera duração. O primeiro foi “A Bússola”, de 1881, semanário de três colunas, editado por Eduardo Ludolf e Carlos Muratori, tendo Inácio Gama como redator-chefe. Lembremo-nos que Inácio foi o primeiro historiador da cidade.


Depois, vieram “O Echo do Povo”, em cujas páginas vai surgir o mais agitado dos nossos republicanos, João Severiano Fonseca Hermes, antecedendo o lançamento de “A Propaganda”, em 1886. Ali estavam, além de Hermes, Constantino Paleta, João D’Ávila, Avelino Lisboa, precedendo a circulação do “15 de Novembro”, de Leovegildo Apense. Treze anos depois, 1894, mesmo com a república constitucionalizada, temeroso de que a monarquia ainda era uma ameaça, Estêvam de Oliveira criou o “Correio de Minas”. Custou acreditar que a História havia virado a página.

 




A cidade e a República


Sempre foi objeto de interesse dos historiadores o fato de a proclamação da República ter sido logo aceita e festejada na cidade, geralmente citada como uma das mais influentes do Império, notadamente na segunda metade da gestão de D Pedro II. Juiz de Fora era muito prestigiada no Império, cinco vezes oficialmente visitada pelo imperador, num tempo em que sair de Petrópolis e chegar aqui custava 14 horas de sacrifício em viagem de diligência e revezamento de mulas. É certo que ele e a corte dedicavam muita atenção às figuras preeminentes locais. O que comprova o fato de que, naquele 15 de novembro, 136 anos passados, quando estava sendo inaugurada a república, residiam aqui 29 barões e viscondes, com um detalhe para ampliar consideravelmente a nobreza juiz-forana: entre aqueles 29 nada menos de 10 foram presidentes de províncias, o que equivaleria, hoje, ao cargo de governador de estado.


Pois, não é que, apesar de todo aquele prestígio, a queda do amigo D. Pedro rapidamente foi assimilada pelas lideranças locais. Pedro Nava, em “Balão Cativo”, escreveu, veemente: “A cidade aderiu à república com o mesmo açodamento indecente do resto da província”. Quanto aos nobres, a adesão ficou perto da unanimidade. Houve o caso singular de Manoel José Vieira Tosta, barão de Muritiba, ex-presidente de Pernambuco e Sergipe: tão logo soube do banimento, vendeu o solar da rua Direita, doou as ações que tinha do Colégio Progresso para estudantes pobres, e, voluntariamente, acompanhou D Pedro rumo ao exílio.


Pelos jornais, e segundo numerosos depoimentos de historiadores, o Império vivia crescentes dificuldades. Em Juiz de Fora, como em outros grandes centros de produção cafeeira, a abrupta libertação dos escravos comprometeu interesses, e essa foi uma contribuição para que a corte ruísse.


O DIA D


Quando veio a manhã de 15 de novembro, os monarquistas derrotados e os republicanos vitoriosos só ficaram sabendo à noite, porque o telégrafo não funcionava, resultado de um violento temporal, que chegou com precipitação de granizo e desabou durante 15 minutos. Contaram os jornais que chegou a cair pedra do tamanho de ovo, com muita destruição, o Fórum totalmente destelhado, casas destruídas, os morros da cidade ficaram brancos…


Só foram saber da novidade à noite, com o telégrafo parcialmente restabelecido. Os republicanos concentraram-se no Café Imprensa, Rua Direita, 41, que permaneceu aberto, para as comemorações, durante toda a madrugada. O primeiro telegrama que chegou, confirmando o fim do Império, foi afixado na parede. Os vitoriosos subiram a rua Halfeld, motivados por Heitor Guimarães, cantando versão tupiniquim da Marselhesa.


Uma festa que passou quente, mas sem que se registrassem grandes problemas para a polícia.


(Sobre o clima daqueles dias, um fato pitoresco, que veio dos últimos anos do velho regime: antes de surgir a Praça da Estação, havia no local um espaço cercado para criação de porcos. Ali se revesavam, carregando cartazes, monarquistas e republicanos, com mútua ofensa: diziam ser o lugar apropriado para pregar suas ideias, sob aplausos da plateia suína…)



OS REPUBLICANOS

Se, como se disse, Juiz de Fora era uma referência de prestígio monarquista, seria incorreto negar a importância ativista dos republicanos, muito presentes nos corredores e salas do Fórum. Entre eles, há quatro destaques a registrar: Constantino Paleta e Luiz Detzi, com 27 anos de idade, João Penido, Francisco Isidoro, que completara 25 anos, e o vereador Fonseca Hermes, mais tarde convidado por Floriano Peixoto para a Secretaria-Geral da Presidência da República, o que equivaleria à atual Casa Civil.


(Penido havia se notabilizado, pouco antes, quando, na solenidade de sua formatura, no Rio, recusara-se a beijar a mão do imperador no palácio São Cristóvão. O castigo seria a suspensão imediata da carta de doutorado, mas o próprio D Pedro impediu que a punição fosse aplicada).


Naquelas primeiras horas já havia uma divergência entre as novas eminências, que prosperou por algum tempo. Na formação do Conselho de Intendência, primeira ação política do novo tempo, lá estavam Constantino, Detzi e Isidoro, mas, num cochilo, deixaram que a presidência caísse nas mãos de Antero José Lage Barbosa, que vinha do conselho anterior, de formação monarquista… Isso porque os republicanos tinham seus problemas internos. Como se viu na noite de 20 de julho de 1888, quando o notável pregador Silva Jardim veio para falar, no Teatro Provisório, na rua Halfeld, mas teve de sair do palco, até que o auditório parasse de brigar.



A IMPRENSA


Menos acomodados que os amigos do imperador, os simpáticos à república vinham se utilizando largamente da imprensa para a divulgação de seus planos de mobilização e estimular a população a apoiar o novo regime. Conta Almir de Oliveira em “A Imprensa em Juiz de Fora”, página 35, que “o combate à monarquia suscitou o jornalismo republicano”, mesmo que, em sua maioria, valendo-se de jornais de efêmera duração. O primeiro foi “A Bússola”, de 1881, semanário de três colunas, editado por Eduardo Ludolf e Carlos Muratori, tendo Inácio Gama como redator-chefe. Lembremo-nos que Inácio foi o primeiro historiador da cidade.


Depois, vieram “O Echo do Povo”, em cujas páginas vai surgir o mais agitado dos nossos republicanos, João Severiano Fonseca Hermes, antecedendo o lançamento de “A Propaganda”, em 1886. Ali estavam, além de Hermes, Constantino Paleta, João D’Ávila, Avelino Lisboa, precedendo a circulação do “15 de Novembro”, de Leovegildo Apense. Treze anos depois, 1894, mesmo com a república constitucionalizada, temeroso de que a monarquia ainda era uma ameaça, Estêvam de Oliveira criou o “Correio de Minas”. Custou acreditar que a História havia virado a página.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

 

A Pauta é Política
7 novembro 2025

NOVO PARTIDO

Por unanimidade, o Tribunal Superior Eleitoral aprovou a criação do partido que passa a denominar-se Missão, que, na verdade, é extensão e evolução do antigo Movimento Brasil Livre, que teve papel destacado na campanha que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. O novo partido, trigésimo a ser criado no Brasil, cumpriu todas as exigências da lei, e poderá apresentar candidatos próprios já em 2026.
Pelo que diz o deputado federal paulista Kim Kataguri, hoje membro do partido União, o Missão pretende lançar pré-candidatos à Presidência da República e aos governos de São Paulo e do Rio de Janeiro. É mais uma divisão no espectro político da direita, que está fragmentado.
A proliferação de partidos persiste, embora haja na legislação uma cláusula de desempenho, com exigências a serem cumpridas. As federações partidárias possibilitam a existência de legendas nanicas.
Em Juiz de Fora, ainda não são conhecidos políticos interessados em abraçar a nova sigla.


A TRAGÉDIA

Percebe-se que os cento e poucos mortos do recente embate entre polícia e traficantes já estarão esquecidos, dentro de um ano, mas a tragédia que protagonizaram terá força para subir aos palanques, como um dos temas favoritos da campanha eleitoral. Sem que faltem detalhes, como a defesa vigorosa de que são muito diferentes terroristas e traficantes; estes sem o conteúdo ideológico daqueles. Se isso fosse suficiente para abrandar as dores...
Nunca se sabe aonde pode parar essa crise, que, se não bastasse em si mesma, pois condena a população a permanente sobressalto, acresce larga contribuição para a ruína do federalismo. A Presidência da República e a governadoria dos grandes estados não se sentem suficientemente animados a aparar arestas políticas e somar esforços em torno de uma causa única, que pede tratamento imediato, muito acima dos embates eleitorais.


A TRAGÉDIA (II)

O episódio referente ao confronto entre forças policiais do Rio de Janeiro e membros do Comando Vermelho, ocupantes dos complexos do Alemão e Penha, no dia 28, foi, mais uma vez, oportunidade de antagonismo entre esquerda e direita. Passados dez dias daquele evento macabro, assistimos a um debate estéril entre os confrontantes políticos, enquanto os habitantes das áreas atingidas continuam reféns de criminosos que disputam o controle daquele território.


HOMENAGEM

Continua a discussão sobre a melhor forma de o município prestar homenagem ao ex-prefeito Tarcísio Delgado, recentemente falecido. Ideal é que, sendo uma rua, praça ou escola, que se evite apenas a substituição, isto é, mudar um nome já existente. A população reage à mudança de nomes de logradouros. Mantém os antigos, e os novos ficam esquecidos.


FORTE ALIANÇA

Começou a ser elaborada a primeira aliança partidária para a disputa do governo de Minas. O PT, que sente não ter força própria para a empreitada, já conversa com o PDT, onde a candidatura natural seria do ex-prefeito de BH Alexandre Kalil. Os entendimentos evoluem desde o começo da semana.


SOBRE MINAS

Outro detalhe importante: nos bastidores já se considera que o senador Rodrigo Pacheco estaria fora da disputa ao governo estadual. Há uma avaliação do grupo dele que ser governador de Minas, no próximo período, é receita de desgaste, devido ao tamanho dos desafios a serem enfrentados, como, por exemplo, o desequilíbrio fiscal. O ideal para Pacheco seria o Supremo Tribunal Federal. Como o presidente Lula ainda não indicou um nome para a apreciação do Senado, resta a esperança de ser dele a vaga.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

 

Insegurança: causa e efeito

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

São muitas as razões para continuar perturbando a vida da população carioca na semana que se segue à tragédia da eliminação, em massa, de uma centena de criminosos nos redutos do Alemão e da Penha, o que, longe de unir os governantes e despertá-los para mergulhar nas verdadeiras causas, serviu para mostrar como estão divididos e separados. Sem que escape ao observador um aspecto que espanta, de difícil aceitação. É a desconfiança da União e dos principais estados quanto às responsabilidades frente à crise gerada pela insegurança. Na verdade, atribuições bem divididas, nesta hora, deviam estar plenamente esclarecidas e acatadas. Os governadores de oposição ao governo Lula, que acabam de se reunir em consórcio de solidariedade, para dar apoio moral e material ao colega fluminense, acham que o Palácio do Planalto alimenta simpatias com setores do crime organizado, notadamente no tráfico; se não simpático, ao menos tolerante, porque sonega dados obtidos em diligências e esconde as fontes de lavagem de dinheiro sujo. Uma ilação grave, que reclama apuração. Diante disto, os executivos estaduais, de inspiração direitista, não dissimulam a intenção de continuar resistindo à proposta de unificação das lutas contra o crime, amarrando a PEC da segurança pública, obra do ministério da Justiça, que entra em debate na Câmara dia 4 de dezembro. O doutor Lewandowski não conseguiu convencer os governadores de que a unificação de esforços, em nome da segurança nacional, em nada fere a autonomia dos estados num setor tão delicado.

Eis uma constatação  dolorosa. Se o crime caminha cada vez mais organizado e influente, os patronos da segurança conflitam.

Os porta-vozes da esquerda insistiam, ainda ontem, que as incursões policiais estão sob suspeita de excesso de violência, e voltaram a denunciar o descaso com o mínimo de preservação dos direitos humanos: criminosos abatidos como gado no matadouro em que foram transformadas as comunidades dominadas pelo tráfico.

(Percebe-se que os cento e poucos mortos já estarão esquecidos, dentro de um ano, mas a tragédia que protagonizaram terá força para subir aos palanques, como um dos temas favoritos da campanha eleitoral. Sem que faltem sutilezas, como a defesa vigorosa de que são muito diferentes terroristas e traficantes; estes sem o conteúdo ideológico daqueles. Se isso fosse suficiente para abrandar as dores. Falta explicar se é possível aquele terror, sem que haja terrorista).

Nunca se sabe aonde pode parar essa crise, que, se não bastasse em si mesma, pois condena a população a permanente sobressalto, acresce larga contribuição para a ruína do federalismo. A Presidência da República e a governadoria dos grandes estados não se sentem suficientemente animados a aparar arestas políticas e somar esforços em torno de uma causa única, que pede tratamento imediato, muito acima dos embates eleitorais. O espírito da Federação já padece por causa de vários outros desafios, como a desigualdade de renda e ausência de identidades suprarregionais. Tem direito de ser poupado dos desencontros que vão evoluindo para agravar a segurança pública.