quarta-feira, 24 de novembro de 2010

* 1937 Prefeito Mello Reis 2010 +




Francisco Antônio de Mello Reis, que morreu hoje, depois de quase dois anos de luta com o câncer, foi uma das mais importantes figuras da História recente de Juiz de Fora. Com militância política que já vai emcontrá-lo, nos anos 60, na velha Faculdadde de Filosofia, onde presidiu o diretório acadêmico, ele se revelou em duas vertentes: a polêmica partidária e o conhecimento dos problemas da cidade. Polêmico, principalmente quando entrou nas campanhas eleitorais, disputando pela Arena, partido que apoiava o regime militar. Poir esse partido execrado pela oposição aos militartes, ele se elegeu vereador e depois prefeito, fenômeno só conseguido em duas grandes cidades: Juiz de Fora e Campinas, com repercussão nacional. A cidade deu a vitória a Mello Reis, em 1977, com a promesa de um novo tempo de desenvolvimento econômico. Nesse particular, sua campanha ganhou até o aval do presidente Ernesto Geisel.
Sua passagem pela prefeiturta, que durou seis anos, por força da prorrogação dos mandatos, é caracterizada pelo conhecimento detalhado dos problemas de sua época, que iam dos investimentos na indústria pesada até os buracos da rua de um bairro distante. Mas era, sobretudo, arrojado, como demonstrou no aval do município de 250 milhões de dólares para viabilizar a implantação da Siderúrgica Mendes Júnior, dívida que jamais seria pago, e ele sabia disso. Lance semelhante mostraria mais tarde, quando secretário de Indústria de Minas, ao conseguir converter dívidas consolidadas da antiga Rede Ferroviária junto ao Estado, do que resultaram recursos para as obras de infraestrutura que permitiram a vinda da montadora Mercedes Benz.

Outra iniciativa que a cidade fica a lhe dever foi ter argumentado, com êxito, junto ao Ministério dos Transportes, para a contrução do “mergulhão” da Avenida Rio Branco com recursos federais. Mas a obra de Mello Reis que a cidade mais conhece é a reurbanização da Rio Branco, com a pista central destinada aos ônibus. No setor de transportes, pouco lembrada e não menso importante, foi a redução de 13 para seis do número de empresas de ônibus, o que acabou com vários problemas, como a desordem dos horários e itinerários.
Mello gostava de pensar longe. Seu primeiro projeto como vereador é ainda hoje uma ideia cabível: a criação da Companhia de Desenvolvimento de Juiz de Fora, “para financiar projetos, participação acionária do município em projetos pioneiros, aceite de letras de câmbio e planos de capital misto”. Foi uma visão antecipada dos atuais PPP, os público-privados. Em tudo isso revelava o temperamento do executivo. Tanto que no final da década de 80, eleito deputado federal, depois com a atribuição de constituinte, experimentou e não gostou do tédio da vida parlamentar, na qual as decisões se diluem. Ele não disputou novo mandato. Mas a Constituição de 88, que Ulysses Guimarães chamaria de “Constituição Cidadã , guarda sua assinatura.





DEPOIMENTO NA UNIVERSIDADE


Prefeito de Juiz de Fora de 1977 a 83, o professor Francisco Antônio de Mello Reis não tinha dúvida em afirmar que a maior realização de sua administração foi a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento, onde chegaram a trabalhar 40 técnicos “para pensar a cidade e o seu futuro”. Vinte e seis anos depois, ele lamentou que os sucessores tenham reduzido ou subestimado a importância do velho Ipplan.

Mello foi o 32º entrevistado do projeto Diálogos Abertos, no Museu Murilo Mendes, da Universidade Federal. Produziu o mais longo depoimento, durante quase três horas, em mesa de entrevistadores presidida pelo professor José Alberto Pinho Neves. A primeira parte da gravação foi dedicada a uma ficha técnica desse juizforano de 73 anos, que nasceu em uma fazenda de Sarandira, foi bancário, trabalhou na construção de Brasília, vereador em 71, prefeito, dono de fábrica de toalhas, de emissoras de rádio e da Folha da Mantiqueira, diretor da Camig, Metalmig, Aço Minas,e secretário de Estado da Indústria no governo Hélio Garcia, Constituinte em 88.
De todas as funções que exerceu, “a de que eu mais me orgulho foi a de prefeito”. E também aquela em que ele pôde aplicar mais os conhecimentos que tinha da cidade, e que vinha recolhendo e anotando desde os tempos de alunos da Academia de Comércio. “Nessa época de estudante criaram para mim a apelido de Chico Melado, que só desapareceu quando o Wilson Cid, no Diário Mercantil, adotou o Mello Reis”, rememorou.
Como prefeito, apontado como alguém que ousou mais que qualquer outro, ele teve como realizações principais, além do citado Ipplan, a reurbanização da Avenida Rio Branco, o Demlurb, a reserva da Lajinha, a abertura da política de preservação do patrimônio, a reorganização do serviço de transporte de passageiros, que reduziu de 28 para sete as empresas operadoras do sistema e a implantação da Siderúrgica Mendes Júnior, em cujo projeto a prefeitura assumiu 25 milhões de dólares, uma participação que custou caro, por ela ficou sem capacidade de endividamento.

CRONOLOGIA

1937, maio, nasce em Sarandira

1950 estuda na Academia de Comércio, preside o Diretório Estudantil e o Grêmio Literário.

1954 trabalha no Banco Irmãos Guimarães

1961 Cursa Filosofia e Letras e é presidente do Diretório Acadâmico Tristão de Athayde.

1960 trabalha na Cia Urbanizadora de Brasília

1970 Eleito vereador à Câmara Municipal (no. 2203).

1972 disputa a prefeitura

1974 funda o Jornal da Mantiqueira

1976 eleito prefeito com mandato de seis anos

1978 eleito presidente da Associação Mineira de Municípios

1983 passa a ocupar cargos estaduais: diretor da Camig, Açominas e Metalmig


1988 eleito deputado federal, é também membro da Assembléia Nacional Constituinte

1988 disputa a prefeitura

1989 funda a Rádio Nova Cidade

1991 é diretor do Instituto de Desenvolvimento Industrial, e, durante um ano, acumula a Secretaria de Minas e Energia.

1992 secretário de Indústria e Comércio no governo Hélio Garcia

1996 eleito membro do Conselho de Amigos do Museu Mariano Procópio

2004 eleito diretor do Museu Mariano Procópio, cargo que ocupou até agosto.


Com Dona Ilva, sua mãe, em 1937 / entrando para a Academia de Comércio

Em campanha na Rua Halfeld, 1965




Prefeito, reúne-se pela primeira vez com secretários.
 


Primeira entrevista como Prefeito eleito



 No tombamento de árvore histórica



O primeiro momento das obras do Mergulhão

Visitando obras


 Despedindo-se da vida pública

4 comentários:

  1. Parabéns Sr Wilson pela reportagem e pela iniciativa de escrever este blog.

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  2. Muito boa a sua homenagem mas, tudo o que for escrito e dito sobre Mello Reis será pouco para expressar a realidade de quem foi este grande professor para a cidade de Juiz de Fora.

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  3. Juiz de Fora está precisando de novo professor no executivo, ele mostrou com é importante pensar uma cidade.

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  4. O que me lembro muito bem e ficou marcado em minha memoria é que o dono da Viação São Francisco Ltda na época reclamava que 5 passagens de ônibus pagavam um litro de diesel, e que o justo seria que 3 passagens de ônibus pagassem um litro de diesel. E hoje está este absurdo. Acho que o pessoal de são Paulo está certo em fazer manifestações de repúdio e devíamos participar.

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