quarta-feira, 12 de agosto de 2015




SEM INDULGÊNCIA


A internet, para se falar apenas de um entre os recursos de comunicação de massa, vem sendo frequentada por lamúrias, arrependimentos e mea-culpas de veteranos petistas e lulistas, hoje frustrados com o acachapante fracasso de seus ídolos. Há os que vão mais longe e pedem perdão pelo voto que deram. Julgam-se em parte culpados pela crise que se abateu sobre o País; a crise de hoje que já conquistou lugar saliente na linha dos momentos mais dramáticos da história republicana.

Pode ser que andam exagerando esses penitentes, a começar por se saber que sabiam exatamente em quem estavam votando. Não foram traídos. Nenhum desses mal-reconduzidos ao poder foi capaz de escamotear sua personalidade, seus defeitos, deficiências e descompromissos com a sociedade brasileira. Fazem lembrar a confissão de François Furot, que escreveu ”Passado de uma ilusão”, depois de viver o sonho comunista durante 57 anos: “Sem indulgência, porque a desculpa das intenções não serve de remissão para a ignorância e a presunção”.

Não de hoje, mas de há muito, os petistas perderam o direito de se surpreenderem. Há alguns anos o hoje ministro Mercadante, em quem jamais se negou lealdade ao PT, dizia, sem subterfúgio aos petistas que já estavam em viagem para a terra das desilusões: “Por que o nosso discurso não é o mesmo dos tempos de oposição? Porque não podemos. A história nos coloca a necessidade de assumir a responsabilidade de governo”.

Como diria Millôr Fernandes, venha de onde vier, quem ganha é da direita. O poder é sempre da direita. De Gaulle, mais enfático, parece que afagava os petistas, sem os conhecer, quando pregou que a responsabilidade pelas promessas de campanha eleitoral é apenas de quem as ouve...

Subindo ao poder, o PT seria, como foi, exatamente igual, talvez pior, aos partidos e políticos que tanto criticou. E se subiu, traiu expectativas, fez exatamente tudo que amaldiçoava, em nada inovou. Os lulistas e dilmistas teriam se poupado da decepção se tivessem lido a velha e jamais negada lição das identidades genéticas entre oposição e situação. Teriam ido aos 1842 do Império e ler em Joaquim Nabuco que nada é tão parecido com os saquaremas (conservadores) como os luzias (liberais) quando estão mandando.

  




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