terça-feira, 19 de janeiro de 2016




 O BRASIL DERRETE


Observadores estrangeiros andam realmente preocupados com os rumos do Brasil, talvez com intensidade e perspicácia maiores que as que têm manifestado nossas lideranças. No começo da semana alguns dos mais autorizados garantiam que, se temos certeza de um 2016 perdido, é preciso rezar para que o ano seguinte seja menos pior. E concordam em que, mesmo assim, indispensável partir de um diálogo verdadeiramente patriótico dos partidos e dos políticos em nome dos altos interesses do País. Talvez – quem sabe? - começando por um gesto soberano da presidente  reconhecendo a inviabilidade de sua gestão, cujo gesto de grandeza é concordar em que o primeiro passo pode estar na antecipação da eleição de seu sucessor.   

O que mais temos de esperar? O Brasil está derretendo. Não bastassem a inflação, o desemprego, o desânimo nacional diante da corrupção institucionalizada, os estados sem honrar as folhas dos servidores, assiste-se a uma economia cada dia escalando novos degraus rumo ao desastre. As indústrias naval e automobilística vivem a maior crise de sua história. Nas próximas semanas o fechamento de cerca de 500 concessionárias. Esperar mais o quê?

 Todo esse cenário sinistro se abre (ou se fecha?) diante da constatação de que o governo e a oposição não conseguem convergir o diálogo político, que poderia ser nossa luz no fim do túnel. Mas não. Cada qual empaca na defesa de suas trincheiras, só quer falar sem ouvir. Os três poderes longe de obter um conjunto de resultados satisfatórios para conduzir a Nação. Olhando para eles, o cenário é de poderes que se contentam com monólogos alternados, sem cuidarem do que Raymond Aron ensinou em seu “Polémiques”: a verdadeira função da polêmica nem é convencer, mas ajudar cada um a compreender o outro. Monólogos não fazem o diálogo.



TEMPO DE DEMAGOGIA


 A nação vive uma crise existencial baseada no descrédito político. Significa que esta é uma hora de crepúsculo em que as coisas se confundem e um demagogo pode ser aclamado como salvador da pátria. Isto ou mais ou menos isto foi dito pelo ministro Marcelo Pimentel, do Tribunal Superior do Trabalho, cerca de trinta anos passados, mas com sensível atualidade, principalmente se consideramos que estamos em ano eleitoral convivendo com grave crise; crise que não sabemos quando poderá terminar. E como terminará.

É um tempo realmente propício a propostas demagógicas. Hora em que proliferam falsos salvadores da pátria, alguns sobejamente conhecidos,que nos deixaram uma dolorosa herança. A três meses das convenções partidárias que vão indicar os candidatos, e nove da eleição do prefeito e vereadores, é preciso que a cidade tenha pleno conhecimento do risco das aventuras que vêm atreladas a demagogos, incluídos entre eles os despreparados, que, exatamente por causa do despreparo, são capazes de lançar mão de projetos impossíveis de serem concretizados, sonhos  impossíveis e soluções milagrosas. Oportunistas demagogos.

Impõe-se - e aqui os partidos surgem como primeiros responsáveis – uma discussão antes de tudo honesta sobre os problemas do município, cujas soluções exigem poderosos investimentos, tendo à frente lideranças políticas eficientes, dessas que têm os pés no chão, sem sofismas, sem enganação. Então, os partidos responsáveis pelas candidaturas precisam saber desde já, e logo cobrados pela sociedade organizada, que suas decisões não podem estar desviadas de uma conduta séria e voltada para o futuro de Juiz de Fora, sem contorcionismos e sem demagogia. Têm obrigação de recusar pré-candidaturas  que nossos interesses rejeitam.



A FARSA DOS CASSINOS


Sob os auspícios desse governo tonto, sem rumo, sem norte, a abertura dos cassinos com seus jogos de azar vai vencendo barreiras no Congresso. Há dias ganhou aplausos em comissão especial do Senado, onde fomos obrigados a ouvir o representante mineiro, Antônio Anastasia, dizer simplesmente que se o jogo se deu bem no Canadá e em países europeus por que seria diferente no Brasil?, sem explicar a razão de muitas coisas darem certo lá e totalmente erradas aqui.

O que se está se propondo é um engodo, um farsa produzida em gabinetes que se especializaram nas mistificações. Ora, este é um país em que há anos se joga todo dia, com megas, lotos, raspadinhas e maquininhas, as fábricas de dinheiro para o poder central. E nem assim o Brasil anda bem. Até Eduardo Cunha vê isso, ao comparar esse governo em busca de dinheiro ao desempregado que vai à roleta tentar o salário que não recebeu...  

A liberação dos cassinos, longe de produzir impostos, servirá exatamente para encobrir a sonegação, a lavagem do dinheiro sujo. Não podemos ignorar que os milionários  que vão ao pano verde são os grandes mestres na sonegação. Fala-se em mais empregos para assalariados? Garçom, músico, crupier? Quantos seriam esses beneficiários? em número suficiente para compensar as desgraças.

É preciso passar à frente de raciocínios insólitos e superficiais o real custo social das roletas e bacarás. Leia-se Roger Caillois em “O Jogo e os Homens”. No cassino não há uma competição entre pessoas ou times, o chamado Agon. Ali o adversário é o destino, o azar, sobre o qual o jogador não tem qualquer domínio. Ele se demite da responsabilidade pessoal para se entregar à ambição do ganho fácil e rápido. Nada pode salvá-lo, a  não ser o desfavor dos deuses, diria Dostoievsk em “O Jogador”.

Rui Barbosa volta aos nossos dias para repetir, quase cem anos depois, que o jogo “como as grandes endemias devasta a humanidade, universal como o vício, furtivo como o crime, zomba da decência e das leis. Alcança o requinte de suas seduções as alturas mais aristocráticas da inteligência”. Os jogadores? Esses são apenas os náufragos das noites tempestuosas do azar.








Um comentário:

  1. Que saída temos diante de um poder institucionalizado pela corrupção e despatriotismo, onde a ganância pelo poder e pelo dinheiro, fala mais alto que o amor à pátria e a seu povo?

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