quinta-feira, 19 de junho de 2025

 A Pauta É Política

20 junho 2025

À VENDA

Ainda são insuficientes as informações sobre possíveis interessados na compra de imóveis do Estado, que o governador Romeu Zema mandou colocar à venda, em sua ânsia por reduzir as dívidas e melhorar o caixa mineiro. Há sinais de que os interesses fiquem limitados a ativos que deem resposta imediata ao mercado.
Em relação a imóveis indicados em Juiz de Fora os compradores deverão ser mais limitados. Quem se sensibilizaria, por exemplo, em adquirir o acervo do museu Credireal ou a Escola Cândido Tostes?, que funciona em imóvel tombado.
Outra pergunta que resta é o Expominas. Antes de pensar na venda, o governo estadual devia associar-se ao empresariado local, criando naquele espaço a mostra permanente de produtos de nossa indústria.

SEM IMPOSTO

Escreve a deputada Ione Barbosa: “um compromisso que assumi em campanha. Não apoiar nenhum aumento de tributos. O brasileiro já é sobrecarregado por uma das maiores cargas tributárias do mundo”.Diz ela que a população precisa de alívio, não de mais peso no bolso.
A deputada (Avante -MG) segue numa atuação parlamentar alinhada com a oposição ao governo Lula, enquanto Ana Pimentel (PT-MG) vota favorável ao governo federal, que ela apoia integralmente.
Posições antagônicas das duas deputadas com domicílio eleitoral em JF.

POLARIZAÇÃO

É perceptível o clima de tédio entre os eleitores das principais cidades sobre a polarização dos rumos da política, centrados na disputa Lula-Bolsonaro. O que significa que devemos aspirar a algo que nos liberte dessa dicotomia nefasta, que, além de nada construir hoje, certamente haverá de destruir muito mais amanhã. Bem claro deve ficar que, quando se elabora tal raciocínio, não é o mesmo que antecipar juízos, preferências ou antipatias por eventuais pré-candidaturas que possam estar em cogitação. Nada disso. O que se estima é que o eleitorado seja contemplado, desde agora, com uma ampla e profunda discussão, capaz de libertar o Brasil dessa pobreza do embate entre duas facções cujos interesses estão no poder: chegar a ele ou mantê-lo, como via de desforras e ódios acumulados em décadas.


VÁ ENTENDER!

Fenômeno que as pesquisas ainda não conseguiram explicar: ao mesmo tempo em que asseguram estar o prestígio do presidente Lula ladeira abaixo, acima de 50% de rejeição, são unânime em lhe garantir vaga no segundo turno para disputar o quarto mandato. Uma situação conflitante com a outra.

RENÚNCIA

Hoje à note, dom Gil Antônio, arcebispo, viaja para Roma. Deve retornar dia 7, depois de estar
com o papa Leão XIV e participar de reunião com prelados de todo o mundo. Alegando ter chegado à idade limite, está assinando sua carta-renúncia, depois de uma década administrando a Igreja. Passa a morar em sua terra natal, Itapecerica, mas sem romper seus vínculos com Juiz de Fora, especialmente para manter acompanhamentos médicos.


ESSE MINISTRO

Há muito, setores bolsonaristas escolheram o ministro Alexandre de Moraes como alvo político. Talvez tenham cometido um erro. Ele tem perfil ideológico similar, situa-se no espectro da direita. Parece gostar desse perfil; e com ajuda dos seus detratores vai angariando notoriedade. Moraes hoje é uma figura pública de grande visibilidade. Pode ser um pré-candidato à Presidência da República, em 2026. Por que não? No Brasil a única coisa impossível é o impossível.
Em acréscimo: as pesquisas apresentam, costumeiramente, que há um segmento relevante do eleitorado favorável a nome fora dos partidos, sem trajetória dentro da política tradicional.

CANDIDATOS

A intenção de vereadores se candidatarem a deputado em 2026 já se tornou uma prática. Participar de eleições no meio do mandato é uma pré-campanha para as eleições municipais de 28. E, com advento do fundo eleitoral, surge a possibilidade de uma pré-campanha financiada com recursos públicos. Há o caso de vereador candidato a deputado estadual ou federal dentro de um projeto eleitoral factível. Juiz de Fora já teve vereadores que se elegeram para a Assembleia e Câmara dos Deputados. No entanto, o que se percebe é o envolvimento de vereadores na campanha eleitoral do próximo ano, com o objetivo de reeleição à vereança em 2028.


PRESENTE!

O empresário Wilson Rezato, do setor imobiliário, que disputou duas vezes a prefeitura, com excelentes votações, já não nega com vigor a possibilidade de submeter-se às urnas de novo. É a impressão que tem deixado nas conversas com amigos mais próximos.



terça-feira, 17 de junho de 2025

 

Reféns da polarização

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Constatação cada vez mais presente – sente-se com certa facilidade – é que as pessoas comuns têm se revelado enfastiadas, aborrecidas com a polarização entre lulistas e bolsonaristas, fenômeno condenado ao papel de avant-première da sucessão presidencial de 2026. Será que não temos algo menos pobre ou mais criativo para desenhar o futuro imediato do país? Continuaríamos limitados a um embate que se pauta e prospera em idiossincrasias? Não é possível. Nem desejável, porque a polarização gera radicalização, que gera intolerância, que gera desordem.
Pois, se é perceptível o clima de tédio entre os eleitores, significa que devemos aspirar a algo que nos liberte daquela dicotomia nefasta, que, além de nada construir hoje, certamente haverá de destruir muito mais amanhã. Bem claro deve ficar que elaborar um raciocínio sobre isso não é o mesmo que antecipar juízos, preferências ou antipatias por eventuais pré-candidaturas que possam estar em cogitação. Nada disso. O que se estima é que o eleitorado seja contemplado, desde agora, com uma ampla e profunda discussão, capaz de libertar o Brasil dessa pobreza do embate entre duas facções cujos interesses estão no poder: chegar a ele ou mantê-lo, como via de desforras e ódios acumulados em décadas.
Por ser algo relevante, esse sentimento de exaustão tem de ser levado a sério pelos partidos e seus chefes, ao se derem à tarefa de traçar rumos da sucessão, depois do desânimo causado por um antagonismo que, até agora, em nada acrescentou, mas tem colocado o país diante de sobressaltos e inseguranças. Precisam observar, tanto aqueles como outras lideranças responsáveis, que, no fundo e na superfície, o que se tem nessa guerra Lula-Bolsonaro é o continuísmo; exatamente isso, nada mais que isso. Quem está no Planalto quer continuar, os que já estiveram lá querem voltar. Muito pouco para dar resposta às grandes questões que excitam a nação.
(Há tempos, soldados nessa guerra Lula - Bolsonaro, seus admiradores amam e odeiam, com bem medida reciprocidade. Pior: desconsideram quem não se submete a esse jogo, exigem adesão, sob pena de os não aderentes serem definidos como fascistas ou comunistas. Os radicais do ex e do atual presidente negam um princípio da lógica aristotélica, segundo a qual amar a alguém não é, automaticamente, odiar o outro).

Escassa profissionalização


As discussões sobre empregabilidade e seus desafios nos tempos atuais têm relegado a plano secundário a desejável e moderna visão sobre profissionalização. Para as camadas mais pobres o que as políticas governamentais produzem vem com o viés do assistencialismo paternal, quando o ideal seria a capacitação em larga escala, frente aos progressos da tecnologia. Instituições como Senac e Sesi são modelares, mas pobres e carentes de uma legislação federal estimuladora. Estamos atrasados nesse campo, ao mesmo tempo em que é visível as novas gerações de mão de obra esbarrando em dificuldades. Muitos jovens chegam, não conseguem se adaptar, frustram-se.
Estão desatualizadas as informações sobre projetos dessa natureza em apreciação no Congresso Nacional; mas sobre eles já teríamos sabido, se propusessem grandes novidades, e não é o caso. Os governantes revelam vago interesse, não por falta de pressão dos meios de produção, que querem evoluir, sob pena de perderem o mercado. No rastro disso, sente-se também o crescente predomínio da vocação pelo bacharelismo, em conflito com a crescente necessidade de trabalhadores desprovidos de diploma superior. Uma preocupação que acompanha a história da República. É preciso ser doutor, e nada mais.
A tecnologia reclama, diariamente, o aperfeiçoamento, não olha devidamente o trabalho despreparado. Como também expulsa. Um exemplo que logo se identifica está em qualquer agência bancária, outrora área dinâmica conduzida por funcionários, depois substituídos por caixas eletrônicos, cartões, celulares e pix e outros expedientes. São os frios e silenciosos ocupantes de antigas vagas humanas.
Na carência de modernização cabe uma dose de responsabilidade aos sindicatos, acostumados a defender o empregado apenas para garantia das vagas, não pela qualificação, muito menos o preparo dos associados para novas realizações. Ou então limitam-se a xingar os patrões.
Não estamos sabendo democratizar a marcha da tecnologia e a vastidão das oportunidades, esperando aquilo que, certo dia, disse o ministro Roberto Campos, para quem o progresso tecnológico tem virtudes autocorretivas. Quer dizer, adapta-se; como ocorreu quando chegaram os carros para substituir as carroças, ou a eletricidade, que matou os lampiões. Mas tudo isso aconteceu porque, para evoluir, havia gente que sabia das coisas…

terça-feira, 10 de junho de 2025

 

Remédio para tempos indigestos

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

Indigesta, mas nem por isso descartável, a receita prescrita pelo presidente do Banco Central para que o Brasil tenha como suportar as agruras dos juros altos. Sugere que tenhamos estômago de crocodilo e queixo de pedra, faltando dizer que o mesmo remédio serviria para suportar a dispepsia causada por outros muitos problemas que afligem. Discreto, Gabriel Galípolo não buscou outros exemplos do seu imaginário zoológico para dizer que a política econômico-financeira já não tem mais coelhos para tirar de cartolas mágicas. Então, diante do risco de novas tempestades - quem sabe? - aconselharia enterrar a cabeça no chão, como ensinam os avestruzes precavidos, se as tempestades ameaçam. O doutor Galípolo é um técnico com tarefas e missões bem definidas, com o cuidado de não incursionar nas áreas políticas do governo de que faz parte, e onde também há dores reclamando tratamento; antes de tudo, reclamando bariátrica, para extirpar o excesso das gorduras. Mas ele sabe, com a autoridade que tem, que boa parte dos nossos males vem do descontrole de gastos, do hábito de esbanjar, da fatal tentação de gastar mais do que se arrecada. Sabe muito bem que é daí que resultam os problemas que pesam em sua mesa de juros altos e a inflação mal contida. Só mesmo importando um crocodilo para aguentar.

Reconheçamos. Se para nada mais servisse, sua palavra espirituosa ajuda a avançar em alguma reflexão sobre o momento atual.

Um sintoma para agravar tensões, não apenas o hálito amargo dos juros, é o fato de o Brasil se ressentir de unidade entre poderes e lideranças. Que tivessem, ao menos, algum alinhamento quanto a deveres e respeitos recíprocos. Ao contrário, aqui tudo se divide, tudo diverge, tudo aponta para caminhos opostos. Brasília é a grande orquestra dos desafinados.

Exemplos são muitos, porque os contrastes já fazem parte dos nossos dias, conosco deitam e conosco levantam. Se a polícia prende o traficante, a Justiça logo o libera, porque a magistratura passou a entender que impõe considerar o vitimismo como realidade acima da lei e da ordem. Qualquer detenção é suspeita, mormente quando se trata de cidadãos não brancos. Entrar ou não em favela tornou-se divergência de princípios entre juízes e delegados; e é onde a segurança balança.

Não se revela muito diferente o que salta das relações entre dois poderes, Supremo Tribunal e Congresso Nacional, quando este é acusado de lerdeza no tratamento das questões mais graves. Aos togados é o bastante para avançar sobre atribuições legislativas. Vestem-se de poderes que não lhe pertencem, os senadores e deputados reagem, mas só nos discursos, principalmente quando são feridos pelo STF na sempre fundada suspeita sobre o destino de emendas parlamentares. Para completar, Câmara e Senado alimentam contendas internas, principalmente quando discrepam interesses das bancadas evangélica e da bala.

No largo painel de contrastes nem escapa o Executivo. Interessante. Há ministros e outros altos funcionários que puxam a corda para a ponta de seus projetos pessoais, facilitados por uma base política pintada de cores diversas, que se misturam e confundem. A política conturbada e perturbada autoriza exigir - com licença para a insistência com que se trata do assunto - que o presidente da República assuma o controle da situação, procure vencer as múltiplas fragmentações, antes que nos precipitemos no abismo.

Esse tormento tem reflexos diretos no sentimento das pessoas, mesmo que em sua maioria elas não deem conta disso. Diante de incertezas e dos desencontros entre os poderes constituídos na desarmonia, vai se perdendo a confiança em quase tudo. Como se vivêssemos em deserto inóspito, terra sem homens e sem ideias, segundo a velha queixa do ministro Oswaldo Aranha.

(Então, confusos, tentamos, inconscientemente, improvisar heróis. Saímos em busca de valores de fora, como importar da ditadura da China alguém para nos ensinar como controlar as redes sociais; ou tirar do insinuante presidente Macron lições de compostura diplomática. E até em nossa glória antiga, o futebol, tivemos de buscar técnico no outro lado do oceano. Pior ainda, com o moral coletivo tão baixo, chegamos ao ponto de elege como padrão da rapaziada alguém que exalta o tráfico e canta música esquisita.)


quinta-feira, 5 de junho de 2025

 

A Pauta é Política


6 junho 2025


DEFINIÇÕES


Junho apenas começou, mas, quando terminar, vai se fechar, igualmente, a temporada de meras especulações sobre a sucessão do governador Romeu Zema, começando a fase de alinhamento das reais possibilidades de partidos e candidatos. Um detalhe importante nesse quadro é o papel do senador Rodrigo Pacheco, notoriamente candidato preferido do presidente Lula e de seu partido, PT.


O que impediu, neste primeiro semestre, que as conversações evoluíssem foi a conduta do senador, pretextando desinteresse. Para alguns, trata-se de mero jogo de cena.


A disposição de petistas influentes é não permitir que Pacheco prorrogue por demais a incerteza. Se ele não for candidato, o partido começará logo a avaliar as poucas alternativas domésticas para entrar na disputa.


DEFINIÇÕES (II)


Com o ano eleitoral cada vez mais próximo, os partidos – grandes e pequenos – começam a avaliar sua capacidade e forças para ir ao encontro do eleitorado. Um deles é o REDE, que, em Juiz de Fora, tem uma cadeira na Câmara Municipal, com o vereador Maurício Delgado. Há dias ele esteve em Belo Horizonte, e ouviu dos dirigentes que pode ser um nome para disputar. No mínimo, uma vaga na Assembleia Legislativa.

Maurício é, atualmente, a possibilidade de a tradicional família Delgado manter-se atuante na política.



MELLO REIS


Interessante o comentário da prefeita Margarida, ao reconhecer valor na administração Mello Reis ao implantar a pista central na avenida Rio Branco. É exemplo lembrado. A gestão do falecido prefeito Mello Reis, com mandato de seis anos, foi inovadora em vários aspectos do planejamento na administração, inovadores para a época, contando com as boas relações com o governo federal, pois Mello foi eleito pela ARENA, partido governista de então.


Na mesma entrevista, ela aproveitou para pontuar a sucessão na prefeitura, com tamanha antecedência, lembrando que a gestão Mello Reis não conseguiu fazer sucessor, embora tenha sido exitosa. Ela vislumbra eleger quem a sucederá.



MOROSIDADE


O modelo legislativo brasileiro tem, entre seus defeitos, a morosidade. De forma que, não raro, quando chegam as leis, elas já estão desatualizadas ou defasadas. Outra coisa não foi o que se viu, na semana passada, quando o Senado votou o marco legal para licenciamento ambiental, matéria ali adormecida durante quatro anos, que, somados aos 17 por que passou na Câmara, perfaz a maioridade dos 21 anos! Resta outra caminhada, que se presume da mesma longevidade, porque, tendo o texto incorporado alterações substanciais, tem de retornar à Câmara, sem que se saiba quando vencerá os novos trâmites.


O marco trata de ocupações, permite a simplificação e flexibilização de licenças para exploração da terra, mas vem encontrar uma realidade inteiramente diferente daquela que então preocupava o parlamento duas décadas atrás.



AMBRÓSIO


Transcorreu, ontem, o centenário de morte de Ambrósio Vieira Braga. Foi quem administrou a cidade, como agente executivo, no fechamento do século 19, de 1898 a 1900. Presidiu a Câmara e foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia. Hoje, é lembrado apenas por dar o nome a uma galeria que liga as ruas Halfeld e Marechal Deodoro.



FORA DO AR


A disposição de Lula parece indicar preferência por longas caminhadas pelo interior, nas próximas semanas, desejoso de estreitar convivência com as populações, em particular com o eleitorado, mesmo sem poder garantir, desde já, se estará disputando novo mandato. Contudo, se os dias atuais nos atropelam, e ainda distante a sucessão, mais adequado é ele sentar praça em Brasília, interromper a conhecida animação por viagens, e tomar as rédeas das soluções para os muitos problemas que estão afligindo a sociedade brasileira. Hoje, ele dá ideia de que tudo pode ser delegado.



terça-feira, 3 de junho de 2025

 


A dimensão do impasse

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil"))

Impossível negar importância a esse novo teste que se projeta no mapa das relações entre Brasil e Estados Unidos, como desdobramento da decisão do Departamento de Estado de ajustar contas com a Justiça brasileira; antes tendo como alvo o Supremo Tribunal, depois com enfoque no ministro Alexandre de Moraes, acenando sérias hostilidades. Já era esperado, inevitável capítulo de passadas antipatias, que começaram a prosperar com Elon Musk. Os americanos sentem-se no direito de defender interesses de plataformas e empresas que aqui atuam. O Brasil, forçado a se situar, vê-se diante de um quadro de alguma forma delicado, porque, se não pode deixar ao sereno um ministro togado que tem sido gentil ante as questões do governo, também não deve ignorar as consequências, se exagerar no grito e nas retaliações, já que procede do Norte uma grande dependência na operacionalização das redes sociais.

Indo logo ao âmago da questão, que é também a que mais preocupa. Já não sendo mais segredo, o embate entre o secretário Marco Antonio Rubio e o ministro Moraes não é, não pode ser, transformado em uma questão de estado. Porque, por sobre a divergência que os coloca em campos diferentes, há um conjunto de outros interesses maiores a considerar, não apenas na interpretação de diferentes visões sobre liberdades de expressão. O doutor Rubio e o ministro Moraes não podem ser as pátrias em campo de guerra.

Porém, mesmo delineados os limites do terreno em que deve se desenvolvendo o impasse, percebe-se que tem tudo para avançar mais do que tolera a conveniência das relações Brasília -Washington, segundo a preocupação de analistas estrangeiros. O mundo tem advertido que somos dois países importantes, com as maiores populações da América. Jornais de Nova York e congressistas influentes prenunciam sérias disfunções diplomáticas, o que, pela atual dimensão do problema, é um exercício de exagero, exatamente pela razão já exposta; a menos que observações mais qualificadas que as de um breve artigo de jornal reconheçam gravidade maior. A crise não tem razão para gravitar além da órbita dos dois funcionários.

Vem, em seguida, segunda observação, que parece de igual importância. Se um ministro brasileiro e uma alta autoridade americana estão em conflito, não haverá de faltar forças, pouco aparentes, mas não totalmente ocultas, a tirar proveito do momento, notadamente para agravar os problemas que rondam Executivo e Legislativo, que já não são poucos, inclusive com resquícios de natureza ideológica.

Dada tal dimensão, ideal é que o presidente Lula assuma, pessoalmente, o controle da situação, sem deixar que ela corra frouxa, porque é assim que as coisas vão piorar.

Podem ocorrer novos lances em que o governo não terá como silenciar. Precisará conter a tentação de braveza, reagindo só por vias competentes, que impeçam o comprometimento de outros interesses nacionais. Por mais competentes que sejam nossos diplomatas, ao presidente Lula não cabe lavar as mãos, pilatescamente; ao contrário, convém conduzir firmemente o processo. Nessa hora, é fundamental que esteja em Brasília, e não recomendar a seu chanceler que se vire, e faça o que achar melhor, como recomendou ao ministro Haddad, na semana passada, quando fritava o destino da sobretaxa do IOF.

2 - A disposição de Lula parece indicar preferência por longas caminhadas pelo interior, nas próximas semanas, desejoso de estreitar convivência com as populações, em particular com o eleitorado, mesmo sem poder garantir, desde já, se estará disputando novo mandato. Quanto às excursões, não se lhe pode negar o direito, porque todos os candidatos, possíveis hoje ou impossíveis amanhã, terão de se sujeitar a exaustivas peregrinações. E, claro, há muito o que olhar por esse interior, onde também há muito o que fazer. O presidente, mais que ninguém, sabe disso. Contudo, se os dias atuais nos atropelam, e ainda é distante a sucessão, isto faz parecer mais adequado é ele sentar praça em Brasília, interromper a conhecida animação por viagens, e tomar as rédeas das soluções para os muitos problemas que estão afligindo a sociedade brasileira. Hoje, ele dá ideia de que tudo pode ser delegado.

Frente às dificuldades, entre as mais recentes o protesto do Departamento de Estado, o temor é que sejamos vistos, no Exterior, como um país que navega e flutua à mercê dos ventos, enquanto o capitão apenas delega a imediatos. Ora, quando o leme está nas mãos do comandante a viagem sempre parece mais segura.

À medida em que engorda a pauta dos problemas, impõe-se a presença da autoridade maior, mais ainda quando estamos, como agora, sob a coincidência de graves desafios que, por mal dos pecados, vão nascendo e prosperando a um só tempo.