terça-feira, 24 de junho de 2025

 

Insegurança no Conselho

((Wilson Cid, hoje, no "Jornal do Brasil" ))

O Brasil sempre pleiteou, principalmente a partir de Fernando Henrique, uma nova formatação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, como imposição da própria geopolítica e a expressão dos muitos países dali ausentes. Porque, desde outubro de 1946, está sob efetivo domínio dos Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido, cinco membros permanentes com poder de veto, o que, em situações várias, tem sito instrumento de imposição de vontades e interesses desse restrito clube de robustos. Diante deles, o que podem os pobres membros não permanentes, com breves mandatos de dois anos?, entre os quais nós, Gana, Moçambique, Gana e Gabão.
O mundo mudou muito nos 79 anos do Conselho, impõe que outros governos e povos tenham vez, voto e veto para desenhar os destinos da humanidade. Como de há muito deseja o Brasil.
O recente e sempre progressivo conflito entre Israel e Irã, ambos sem assento no colegiado de segurança, trouxe, entre outras evidências, o questionamento sobre o restrito poder das decisões que saem da ONU. O que deve e pode fazer em nome da paz?, se esse objetivo não se libertar de interesses dos votantes mais poderosos. No presente caso do Oriente Médio, como se viu no domingo, repetem-se as evidências de que a desejada cessação das hostilidades fica subjugada a conveniências estrangeiras, não coincidentes com a sorte dos que pelejam. Fora isso, os repetidos formais apelos ao cessar fogo, jamais respeitados. Note-se, não é de hoje, os Estados Unidos sonhavam com um pretexto para bombardear bases iranianas de energia atômica, severo castigo aplicado à terra dos aitolás, o que a comunidade internacional só foi saber com o fato consumado. .
Para o resto das nações pobres ou menos ricas, direta ou indiretamente sacrificadas, fica a expectativa impotente, olhando no céu a chuva de mísseis e droners, cenário que, lamentavelmente, já não é mais roteiro dos filmes de ficção; antes, a pesada realidade de cadáveres misturados em ruínas. A nós, o resto, pobres de alta e sofisticada tecnologia de defesa, só os recursos da guerra convencional. Se naquele Conselho poucos podem falar grosso, as reuniões se resumem no palavrório de exortações pela paz ou troca de condenações; nada de objetivo pode contra a velha beligerância de judeus e teocratas iranianos. Muito menos poderia socorrer os casos de guerras menores, infantarias mal preparadas, tanques obsoletos. Acha melhor limitar-se às reuniões improdutivas, não se envolver diretamente, enquanto as agressões entre países com urânio e ogivas para destruição em massa vão substituindo soldados pelos cientistas, que disparam foguetes diante do computador, sem terem de tirar paletó e gravata. Como se vê-se hoje nas casamatas de Tel-Aviv e Teerã.
O órgão básico das Nações Unidas tem de abrir seus limites, ouvir mais vozes, democratizar decisões, desvencilhar-se do costume de confiar o destino do mundo aos dominadores, como sempre desejaram o Brasil e outros preteridos.

Dia dos Imigrantes


Valeria, ainda que breve, um registro sobre o Dia Nacional do Imigrante, a transcorrer amanhã no calendário civil brasileiro, como determina a Lei 6.815, editada 25 anos atrás. Em primeiro lugar, para lembrar, aproveitando, que o Brasil é exemplo para o mundo, pois não há caso similar de outro país em que a acolhida de estrangeiros se processe de maneira tão natural e amistosa. O que nos diferencia dos demais – que o digam japoneses, portugueses, sírios, italianos, libaneses, espanhóis, alemães e ucranianos - é o respeito devotado às tradições dos acolhidos, que, por sua vez, sem abdicar de seus costumes, celebram e respeitam os nossos. Em muitos casos, mais ainda, dá-se aqui algo semelhante a interessante simbiose: as culturas estrangeiras e nacional se integram com tamanha perfeição, produzindo modelo de convivência tão duradoura, que nem os estranhos idiomas e eventuais saudades dos lugares distantes conseguem comprometer.
O fenômeno migratório, hoje tão agudo na Europa, notadamente na França, parcialmente transformada em colônia muçulmana, devia mirar-se na experiência brasileira, em particular nos estados do Sul, onde, de tão bem adaptados, os estrangeiros, sempre em paz, respondem à acolhida com notável contribuição para o nosso desenvolvimento. É a resposta que dão os que escaparam da pátria, de perseguições políticas, das intolerâncias étnicas. Ou apenas porque saíram em busca de melhores condições de trabalho.
O mundo preocupa-se com o crescente problema, mais recentemente instado pelo falecido papa Francisco, que se apiedava da tragédia de milhões de fugitivos; e apelava, com veemência, para que sejam abrigados, tão logo aportem. O pontífice foi geralmente ouvido, embora lhe faltasse indispensável palavra de advertência aos acolhidos: o primeiro dever dos que chegam é respeitar a casa dos que os acolhem.
Questão subjacente, ainda não suficientemente avaliada, é um lado sombrio da acolhida desses fugitivos. Porque, saindo e recebidos em qualquer parte do mundo, muitas vezes deixam de ser imenso problema que incomoda os ditadores, exatamente por isso estimuladores das “exportações” humanas. Também aí o Brasil se presta a referência: vizinho indesejável, o ditador Maduro viu-se livre dos 40.000 venezuelanos que chegaram em Roraima desempregados, famintos, doentes, arrastando famílias à beira da miséria. Quando voltarão à pátria depois da ditadura?. Se voltarão, só Deus sabe.

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