segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016







PREÇOS TABELADOS?


De Brasília vem a notícia de que surgem políticos sugerindo estudos para o tabelamento de preços de gêneros de primeira necessidade, como visionária forma de conter a carestia, primogênita e filha dileta da inflação que dói na bolsa das donas de casa espantadas nos supermercados. Estima-se que viva alguém de suficiente juízo para recomendar que se afaste logo o risco dessa medida, que tem longa história de insucessos.

O tabelamento (ou congelamento, como queiram) gera o atravessador e esconde o produto que vai ser vendido em câmbio negro. À medida em que somem os gêneros de primeira necessidade, no mercado marginal os preços sobem e só ricos podem comer com fartura. Que Brasília busque outros remédios para a doença, como o excessivo ônus que pesa sobre a produção.

Economistas contemporâneos sabem disso, e é possível que se disponham a dar testemunho útil ao governo. Os exemplos vêm de longe. De muito longe. Foi o caso de Deocleciano, ano 301 da Era Cristã (precisávamos voltar tanto no tempo?). Ele tabelou os preços, e disso resultou grave escassez de óleo, pão e sal. Resultado não menos traumático, em 1794, foi o desaparecimento do trigo na França.

No Brasil mais recente a medida teve resultados constrangedores no governo Sarney. Os supermercados não podiam aumentar os preços dos produtos; em compensação sumiram das prateleiras, facilitando a figura monstruosa do ágio. Mas do congelamento de preços também resulta imediato dividendo demagógico, tão ao gosto de governantes populistas. Por isso, não faltam seguidores românticos,  o que há anos levou o senador Roberto Campos a lembrar que o tabelamento de preços é como certas balzaquianas que rejuvenescem à medida em que esquecem experiências passadas.





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