Governo refém
Por causa de 16 votos da bancada do Partido Trabalhista Brasileiro
na Câmara, o presidente Michel Temer optou por sujeitar seu governo a uma
humilhante peregrinação pelos tribunais, com a teimosia de dar posse à deputada
Cristiane Brasil como ministra do Trabalho. A Justiça não a quer, pois ela já
foi condenada em ação trabalhista... Uma ironia que não raro atropela as
relações do governo com seus representantes. Os trabalhistas assumiram com fé a
indicação, o que os credencia a insistir na deputada carioca, e acenam com os
votos que podem ajudar na aprovação da reforma da Previdência, hoje uma questão
de honra para o Palácio do Planalto. Sem embargo de uma evidência aritmética: dos
16 votos do PTB, certos mesmo são 14. Quatro deputados se fazem de difíceis,
ameaçam não acatar a orientação do partido.
A ministra Carmém Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal,
avocou a si a palavra final sobre essa novela. Deve admitir a posse de dona
Cristiane, para ficar com os louros do epílogo, o que deve se dar amanhã.
O episódio, perfeitamente desconfortável para um país democrático
em que os poderes se respeitam, serve para mostrar, antes de tudo, que o
Executivo é duplamente refém, tanto do Legislativo como do Judiciário.
Desejável seria que o presidente reagisse. Não pode ceder repetidas vezes a
imposições e interesses, como zeloso serviçal de pressões político-partidárias.
O País anda sofrendo muito com experiências negativas. Bom que as
sofridas experiências sirvam para animar uma nova geração a varrer os vícios
que as urnas ainda não souberam corrigir.
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