quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Os jogos na encruzilhada

Depois que grande esforço de malabarismo propôs que o pôquer seja promovido da categoria de jogo a esporte, o Senado já andou consumindo algum tempo para explicar essa novidade. Ele passou a ser considerado uma questão de probabilidade e estratégia, o que seria suficiente para espantar a velha pecha de jogo de azar, desfazedor de fortunas e fonte de misérias.
A nova legislatura, que já vai começar, tal como ocorreu com as anteriores, será logo alvo da campanha pela liberação dos jogos, ainda sob resistência de setores vários da sociedade, já não mais apenas da bancada religiosa, mas também de quantos veem neles a máquina certa para lavagem do dinheiro do tráfico e de outras atividades criminosas. À maioria, contudo, o que continua assustando são os males sociais do vício, salvo, talvez, o jogo do bicho, jamais acusado de causar tragédias e falências. Diferentemente dos demais.
Roger Callois, escrevendo sobre isso em “O jogo e os homens”, entendia que há diferença entre a “alea” e o “agon”. Naquela, o adversário não é uma pessoa ou um time com que se compete. O adversário é o destino, sobre o qual o jogador não exerce qualquer domínio. No “agon!”, ao contrário, preponderam a inteligência, a atenção e a habilidade. É o que se dá no xadrez.
O jogador, em Dostoievsk, sofre da vertigem do ganho e da febre da perda. Nada pode invocar, a não ser o favor ou o desfavor dos deuses. No pôquer, agora esporte, Baudelaire, que escreveu “O Jogo”, já vê dedos convulsos por infernal febre.
Mas em meio a tudo isto, contrapondo-se ao lobby que funciona no Congresso Nacional, há sinais de que o jogo não vai bem das pernas. Dois dados conhecidos em Juiz de Fora, que não devem ser muito diferentes de outros lugares onde inexistem cassinos: o carteados só tem sido praticado por quem tem mais de 50 anos. E as apostas no bicho declinaram em cerca de 40%. A rapaziada e gente da meia idade têm preferido as loterias milionárias que a mentalidade de jogatina do governo criou em profusão nos últimos tempos.
Portanto, num cenário em que se investem milhões para a legalização dos jogos de azar, alguns deles padecem do risco de extinção, e de roldão até mesmo a modesta contravenção do bicho, que João Batista Drumond, de Itabira do Mato, inventou em 1888, como forma de manter os 25 animais de seu zoológico.


Notas

1 - O PR e antigos membros do DEM querem saber como fica seu futuro em Juiz de Fora. Quem tem a palavra é o deputado Edmar Moreira, que na última eleição ganhou a primeira suplência, mas vai assumir, pois o titular, Carlos Melles, saiu para integrar o Secretariado de Anastásia.

2 - Já recuperado de forte resfriado de que foi acometido, o senador eleito Itamar Franco viajou para Brasília, onde, na terça-feira, cumpre um ato que lhe é familiar: assume pela terceira vez na Câmara Alta.

3 - Os colegas de Marcílio Pacheco, prefeito de Mar de Espanha, novo presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Paraibuna, garantem que ele assume com ânimo de modernizar a entidade, envelhecida nas três últimas décadas.

4- Peemedebistas da cidade perceberam que uma das primeiras audiências da agenda do vice-presidente Michel Temer (PMDB) foi concedida ao deputado Júlio Delgado (PSB). Interessante, porque o deputado pode ser candidato a prefeito e o partido de Temer teria papel decisivo nesse projeto.

5 - Na terça-feira o prefeito Custódio Mattos estará trabalhando com um Secretariado reformado, a começar pelo Demlurb e Secretaria de Assistência Social.

6 - Constatação de quem promove viagens diárias a cidades da região: as rodovias da responsabilidade do governo federal revelam desleixo e péssima conservação, enquanto as estaduais em excelente estado. Herança de Aécio.

7 - Sob dores provocadas por um cálculo renal, na Santa Casa, Bruno Siqueira, vive suas últimas horas como vereador, na esperança de expelir a pedra, e asumir como deputado na terça-feira, em BH.

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