sexta-feira, 30 de setembro de 2016






Debate. Que debate?


Esgotou-se em si mesmo o modelo que as emissoras de televisão criaram para confrontar candidatos a prefeito, ainda que se deva exaltar a boa intenção da iniciativa, isto é, a intenção de contribuir para que o eleitor tenha mais segurança no voto que vai dar. Esgotou-se o modelo porque não há propriamente um debate, mas a transformação dos candidatos em meros entrevistadores, papel que desempenham sem descuidar do interesse da pergunta. Dirigem-se a quem convém perguntar e que as respostas sejam favoráveis aos planos do inquisidor. Levantam-se as bolas de acordo com a altura da rede.  

Não foi diferente na noite de quinta-feira na TV Integração. Durante quase todo o curso do programa os candidatos pareceram satisfeitos ou recompensados com o papel que cumpriram durante a campanha. Em determinados momentos deixavam escapar certo tédio. Como se chegassem ao fim de uma corrida, sem maiores esforços, ávidos pelo merecido descanso depois dessa jornada dietética, insípida e sem trancos.

Nesse e em outros desses chamados debates o jornalista fica reduzido a um cronometrista rigoroso, como se a ditadura dos segundos fosse mais importante que as ideias expostas. A fala do candidato é fuzilada pelo ponteiro do relógio que o mantém sob a permanente mira da intolerância.

Como não há jornalismo, a condução dos negócios está condenada ao sabor das conveniências da campanha, em Juiz de Fora dividida entre os cinco principais candidatos. No caso dos dois que lideram as pesquisas, o prefeito Bruno e a deputada Margarida Salomão, explodia na tela a intenção de manter as coisas como estão, porque desse jeito está ótimo. Estão ambos satisfeitos por galgarem o segundo turno. Momentos houve até em que um parecia eleitor do outro, com recíprocos gestos de admiração. Como em certos embates de floretes na corte de Luiz XV, melhor é oferecer o lenço rendado, sem sangue.

De forma que, ontem, a TV acabou mostrando apenas uma disputa pelo terceiro lugar. Medalha de bronze numa olimpíada eleitoral jejuna de grandes saltos e sem ambição por recordes.

Um detalhe que também serve para questionar esse modelo de debate: os candidatos aproveitavam a réplica a que tinham direito não para esclarecer detalhes de uma pergunta incômoda; aproveitavam-na, contudo, para falar sobre o que fizeram ou pretendem fazer. Raras explicações objetivas. Nas escassas contestações iam, quando muito, na insinuação de discutível qualidade dos serviços prestados pelo adversário.

 Outro detalhe, este de espantar. Sendo de partidos tão diferentes, estando o País mergulhado na maior de suas crises políticas, não se ouviu uma única pergunta a respeito. Sendo do PT, partido do centro da crise, e cuja bandeira levanta em Juiz de Fora, a  deputada Margarida não foi provocada. Nesse particular seus quatro adversários mantiveram-se como fidalgos cavaleiros incapazes de serem desagradáveis a uma dama.

Por fim. As emissoras que destinam à campanha eleitoral seus horários nobres continuam ignorando a importância dos candidatos a vice. O eleitorado precisa conhecer melhor o substituto eventual e às vezes definitivo do titular o cargo. Chegamos ao dia da eleição sem sabermos uma palavra sobre aqueles que acompanham na chapa os candidatos a prefeito. Tanto quanto os titulares, eles precisam estar informados e preparados para o imprevisto. Ontem ninguém se interessou em saber, para efeito de comparação, sobre os adversários de seus companheiros de chapa.


Seria conveniente lembrar que metade de nossa história republicana foi escrita pelo vice.  





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