quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A velha desconfiança

Uma coisa que se pode esperar, com toda certeza, é que, terminado o censo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística será acusado de praticar injustiças e incorreções com Juiz de Fora. Os números da população revelados estarão sempre muito abaixo das expectativas, como ainda agora: esperava-se bem mais de 600 mil habitantes, e o censo nos dá 517 mil. As pessoas comentam que é fácil sentir que há muito tempo deixamos meio milhão para trás.
Essa desconfiança com os números é velha, décadas antes de se pensar na criação do IBGE. Nem sempre por causa dos números, porque no século 19 os censos que a Câmara e a Província realizavam discriminavam os muito pobres e os escravos. Em 1890, por exemplo, o protesto dos vereadores foi porque se deu a Juiz de Fora uma população feminina superior: 4.970 homens e 5.239 mulheres. Eles se sentiram realmente humilhados.
Em 1968, por iniciativa do deputado João Navarro, a Assembleia Legislativa tomou as dores dos juiz-foranos que achavam estar sendo enganados, e promoveu em Belo Horizonte um seminário recheado de protestos. Propôs-se a recontagem, o que não foi admitido. Já então, e em todos os tempos seguintes, a frustração sempre é explicada pelos técnicos com apenas um dado: Juiz de Fora é importante polo de referência regional, diariamente recebendo (mas devolvendo) para municípios vizinhos milhares de pessoas que aqui trabalham, compram, estudam ou vêm para ocupar os serviços médico-hospitalares. Fica a impressão de uma população maior do que realmente é. Chamava-se Ernesto Baeta Filho o primeiro técnico que levantou a hipótese da população flutuante como fator capaz de mascarar a falsa densidade.
Sendo ou não corretos os 517 mil habitantes que o IBGE acaba de nos dar, seria bom que, acima do desencanto, o município e seus dirigentes tomassem em consideração dois pontos: 1- está em meio milhão de habitantes o limite de conservação dos padrões de vida para uma cidade com as características locais;  2 – em qualquer lugar, quando se ultrapassa a marca de 500 mil, é apenas um salto para se chegar a 1 milhão, o que vai ser desastre para nós.


Um comentário:

  1. Caro Wilson e equipe.
    Antenor e eu temos seguido o blog com muito entusiasmo. Parabéns pela utilização desta mídia tão atual como o são os seus brilhantes comentários. Sempre seus admiradores, Antenor e Elimar.

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